segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

HISTÓRIA: CARNAVAL, MÚSICA E POLÍTICA LADO A LADO

Do jconline (imagens blogdejamildo.com.br)
Carnaval e política sempre brincaram de braços dados, até porque os dias de Momo incitam a liberdade, e aí, implícita, está a crítica ao poder e aos poderosos. Os políticos por sua vez se valeram muito da música carnavalesca, pela comunicação fácil que tais composições lhes proporcionam.

Dificilmente um pernambucano irá escutar o frevo de rua Fogão (Sérgio Lisboa) e não ligá-lo à figura do ex-governador já falecido Miguel Arraes, em cuja campanha foi usado:

“Aquele que fez mais
Arraes, Arraes...”.

O mesmo para o Bloco da Vitória, de Nelson Ferreira, trilha sonora da campanha de Cid Sampaio ao governo do Estado em 1958. Nelson Ferreira, por sinal, como compositor profissional, criou jingles políticos para muitos candidatos, independentemente da coloração partidária. Mesmo assim tinha lá incoerências.

Da mesma forma como fez o hino do Movimento de Cultura Popular (MCP), considerado subversivo pelos adversários de Arraes, ele fez um Novo Bloco da Vitória, celebrando o Golpe de 1964:

“O Bloco da Vitória
Vem à rua, de novo
Veja como o povo
Entrou no rojão
Pra na hora da folia
Fazer revolução! (Não é?)
Costa e Silva, Justino
Muricy e Mourão
Da nossa banda são generais
Como eles, nossa gente
Mais vitória traz
Por isso é que afirmamos afinal
Nosso bloco vai mandar brasa!
Nosso bloco vai mandar brasa!
Brasa, brasa, brasa, neste carnaval”.

Não se pode nem acusar o compositor de Evocação de ter virado a casaca, já que ele nunca assumiu sua postura político-partidária. Assim como Luiz Gonzaga, que cantou a subversiva Caminhando (Pra não dizer que não falei de flores), de Geraldo Vandré, fez músicas para poderosos do regime militar. Foram homens de consciência política primária, que não cortejavam o poder. Achavam que o poder era para ser respeitado.

Ao contrário de, por exemplo, Ataulfo Alves, que mudou de ideia durante o governo de Getulio Vargas, criticou o malandro e teceu críticas ao trabalhador, conforme a cartilha getulista:

“O bonde de São Januário
Leva mais um operário
Sou eu que vou trabalhar”.

No entanto, no Carnaval de 1946, com Getúlio fora do poder, Ataulfo Alves já mudava de ideia e virava amante fervoroso da democracia, com o samba Isto é o que nós queremos:

“Nós queremos nossa liberdade
Liberdade de pensar e falar
Nós queremos escolas pros filhos
E mais casas pro povo morar
Nós queremos leite, carne e pão
Nós queremos açúcar sem cartão
Nós queremos viver sem opressão
Nós queremos progresso pra Nação”.

Fazendo inclusive um aceno aos comunistas, já que “leite, carne e pão”, são as iniciais de Luis Carlos Prestes, que seria libertado com a queda de Getúlio.

Nem parecia o mesmo Ataulfo que em 1941 gravou o samba O negócio é casar, atendendo a uma sugestão do famigerado DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), contrário aos sambas que pregavam a apologia à malandragem:
“Veja só, a minha vida está mudada
Não mais aquele
Que entrava em casa alta madrugada
Faça o que eu fiz
Porque a vida é do trabalhador... e quem for pai de quatro filhos
O presidente manda premiar
O negócio é casar”.

Exemplo pior do que este só durante a ditadura militar. Carlos Gonzaga, pioneiro do rock brasileiro, é o intérprete da lamentável Marcha do general:

“General, general, é melhor e não faz mal
Mas que beleza é a minha terra
Tem amor e paz e não existe guerra”.

Agora, imperdoável foi o que fez Zé Kéti, um dos integrantes do musical Opinião, autor do Samba da legalidade, que em 1972, em plena era Médici, compôs e gravou a marcha Sua Excia. A presidência, na outra face do disquinho, no sentido lato e estrito, tem Oração Pelo Brasil (José Figueiredo de Albuquerque/Franklin de Carvalho Júnior). Detalhe: a capa do compacto tem estampada a foto do garboso general Garrastazu Médici.

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