Do O Globo
imagem: hypescience.com |
TEXAS — Pesquisadores da Universidade do Texas desenvolveram
o primeiro modelo eficaz para diferenciar a dengue de sua forma mais severa, a
dengue hemorrágica, e prever quem poderá desenvolvê-la.
O método, que pode
reduzir drasticamente o número de mortes pela doença e levar a um tratamento
personalizado, foi divulgada nas publicações especializadas “The American
Jornal of Tropical Medicine and Hygiene” e “Clinical and Translational
Science”.
Aproximadamente 2,5 bilhões de pessoas — mais de 40% da
população mundial — estão sob a ameaça de contrair dengue, principalmente nas
regiões tropicais e subtropicais. Cerca de 500 mil pessoas são hospitalizadas
por causa da doença todos os anos, entre elas, um grande número de crianças, e
cerca de 12.500 delas morrem.
Nas Américas, ela vem crescendo — foram 1,6 milhão
de casos em 2010 — devido à crescente urbanização, ao aumento do tráfego
internacional de passageiros e à redução da utilização do pesticida DDT. No
Brasil, foram cerca de 106 mil casos em 2011.
— Sabemos há muito tempo que a dengue tem muitas manifestações,
da forma assintomática ou semelhante a uma gripe até a que representa risco de
vida. Se pudermos descobrir antecipadamente a suscetibilidade de um paciente à
forma que leva à morte, poderemos salvar milhares de vidas — disse o principal
autor do estudo, o médico Allan Brasier, que trabalhou com uma equipe
multidisciplinar.
Se for possível prever que pacientes poderão ter dengue
hemorrágica, terapias preventivas como transfusões de sangue para evitar
complicações oriundas de hemorragias e falência de órgãos reduziriam as taxas
de mortalidade de 20% para menos de 1%.
Os pesquisadores avaliaram dois tipos de análise, uma
largamente usada em laboratórios e outra mais complexa, para identificar
possíveis biomarcadores proteicos.
Eles descobriram que a citocina IL-10 (uma proteína
envolvida na resposta imunológica), a redução de plaquetas e a contagem de
linfócitos eram peças-chave para revelar a possibilidade de haver dengue
hemorrágica. Uma investigação mais profunda levou a um modelo eficaz em 100%
dos casos estudados, baseado na IL-10 e em sete proteínas distintas
(tropomiosina, complemento 4A, imunoglobulina G, fibrinogênio e três formas de
albumina).
— Até agora, não haviam sido descritos biomarcadores da
doença. Mas tecnologias proteômicas (estudo em larga escala das proteínas de um
organismo) estão mudando isso, e estes estudos são o primeiro passo para se
chegar a um approach personalizado no tratamento da dengue — explicou Brasier.
Nos experimentos, a equipe da universidade teve a
colaboração da unidade de pesquisa médica da Marinha americana e de médicos de
clínicas e hospitais de Venezuela. Aproxidamente 55 indivíduos com a forma
aguda da dengue forneceram amostras de sangue and foram observados.
Os
pesquisadores analisaram gênero, sinais clínicos (febre e diarreia, por
exemplo), índices laboratoriais (contagem de linfócitos e plaquetas,
concentração de hemoglobina e contagem de células vermelhas no sangue) e
concentrações de citocina.
No primeiro estudo, com as técnicas laboratoriais mais
comuns, eles perceberam que concentrações aumentadas de IL-10, a redução de
plaquetas e, numa extensão menor, a redução de linfócitos são fontes
importantes para predizer a chance de haver dengue hemorrágica — foram eficazes
em 86% dos casos estudados.
Depois, uma análise proteômica ainda mais profunda foi usada
para medir a citocina. Os pesquisadores identificaram mais uma vez a IL-10 como
um fator determinante para distinguir entre dengue e dengue hemorrágica. Além
disso, sete das 42 proteínas avaliadas mostraram ser úteis para prever a forma
hemorrágica: tropomiosina, complemento 4A, imunoglobulina G, fibrinogênio e
três formas de albumina.
Análises posteriores indicaram que uma única proteína seria
um modo pouco eficaz de distinguir a dengue de sua forma hemorrágica, mas,
juntas, as proteínas eram 100% capazes de determinar o tipo de infecção.
— Provamos que é possível identificar proteínas associadas à
dengue hemorrágica — disse Brasier. — Se futuras pesquisas comprovarem este
resultado, os médicos poderão agir mais cedo e salvar vidas, o que é a maior
esperança trazida pela medicina personalizada.
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