domingo, 4 de março de 2012

NORDESTE É A REGIÃO QUE MAIS SOFRE COM FALTA DE SANEAMENTO

Do JC Online
imagem: suapesquisa.com

RECIFE - A Região Metropolitana do Recife, maior aglomeração urbana do Nordeste, também sofre com a falta de saneamento. A cidade é conhecida como Veneza Brasileira, pela quantidade de rios e canais que cruzam seus bairros, mas a maior parte dos cursos d’água está poluída pela falta de coleta e tratamento de esgoto.

Na Zona Sul, com seus enormes edifícios de classe média e grandes lojas, um canal a céu aberto, a poucos quarteirões da Praia de Boa Viagem, é conhecido pelo mau cheiro. Segundo funcionários da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) que preferem não se identificar, parte do esgoto jogado ali vem dos prédios residenciais, que fazem a ligação dos dejetos direto nas galerias pluviais, por onde deveria escoar apenas a água da chuva.

Mesmo o esgoto que é coletado e enviado à Estação de Tratamento do Cabanga, uma das mais antigas do País, é despejado sem tratamento na natureza, já que o complexo não consegue processar todo o volume que chega ali.


O professor Ronald Vasconcellos, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), afirma que o Recife só consegue manter suas praias limpas por uma “dádiva da natureza”.

“O esgoto que é jogado nos rios e nos mangues acaba no Porto do Recife e de lá vai para o mar adentro, longe das praias. Fosse em outro lugar, seria um problema ambiental de grandes proporções”, completa.


imagem: envolverde.com.br

SÃO LUÍS – São Luís, capital do Maranhão, apresenta índices de saneamento semelhantes ao do Brasil: 82% da população tem abastecimento de água e 46%, coleta de esgoto. Isso resulta em gravíssimos problemas ambientais e de saúde pública, que se repetem em outros Estados.

Pesquisas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) indicam a iminência de surtos de esquistossomose e hepatite A. O litoral de São Luís está totalmente contaminado pelos dejetos da cidade: todas as cinco praias têm níveis de coliformes fecais acima do permitido. Até mesmo a Lagoa do Jansen, um dos principais pontos turísticos, cercada de bares e restaurantes, exala mau-cheiro durante todo o dia.

“É uma questão de direitos humanos. Nossa sociedade não sabe o que é qualidade de vida”, diz o biólogo Flávio Henrique Morais. Foi ele quem detectou o estado de calamidade pública nas praias de São Luís, há dois anos. Professor do Centro Universitário do Maranhão (Uniceuma), ele monitorou a qualidade da água em seis pontos do litoral maranhense, da praia da Ponta D’Areia até o Olho D’Água, e encontrou taxas de 2 mil a 25 mil coliformes fecais por 100 ml. Conforme a legislação ambiental, o máximo permitido para banho são mil coliformes fecais por 100 ml.

“O esgoto é lançado in natura no Rio Anil e no Aterro do Bacanga, que deságuam no oceano. Quando a maré enche, vem tudo para a praia”, diz Flávio. E o mais preocupante foi que em todos os pontos foi verificada a presença da bactéria Escherichia coli, que provoca diarreia. “O maior problema não é a quantidade, mas o fato de que as variedades encontradas são produtoras de toxinas e com um alto grau de virulência”, explica.

A professora Ivone Garros, do Instituto de Biologia da UFMA, também encontrou resultados alarmantes em seus estudos sobre esquistossomose, doença parasitária conhecida como barriga d’água, que ataca o fígado e o baço. Sua equipe detectou caramujos infectados que transmitem o parasita em todos os oito bairros da cidade pesquisados.

“A doença só existe quando o caramujo e o homem convivem numa área sem saneamento. Se tem saneamento, fecha o ciclo. O surto já está implantado, não vemos isso nas estatísticas porque muitas vezes o exame de fezes comum não revela”, acrescenta.

De acordo com o Ministério da Saúde, o Maranhão é o quarto Estado do País em número de casos de esquistossomose. Outra pesquisa da UFMA indica que 60% das crianças de 7 a 14 anos da rede pública de ensino já entraram em contato com o vírus da hepatite A.

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