Do JC Online
imagem: suapesquisa.com |
RECIFE - A Região Metropolitana do Recife, maior
aglomeração urbana do Nordeste, também sofre com a falta de saneamento. A
cidade é conhecida como Veneza Brasileira, pela quantidade de rios e canais que
cruzam seus bairros, mas a maior parte dos cursos d’água está poluída pela
falta de coleta e tratamento de esgoto.
Na
Zona Sul, com seus enormes edifícios de classe média e grandes lojas, um canal
a céu aberto, a poucos quarteirões da Praia de Boa Viagem, é conhecido pelo mau
cheiro. Segundo funcionários da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa)
que preferem não se identificar, parte do esgoto jogado ali vem dos prédios
residenciais, que fazem a ligação dos dejetos direto nas galerias pluviais, por
onde deveria escoar apenas a água da chuva.
Mesmo
o esgoto que é coletado e enviado à Estação de Tratamento do Cabanga, uma das
mais antigas do País, é despejado sem tratamento na natureza, já que o complexo
não consegue processar todo o volume que chega ali.
O
professor Ronald Vasconcellos, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
afirma que o Recife só consegue manter suas praias limpas por uma “dádiva da
natureza”.
“O
esgoto que é jogado nos rios e nos mangues acaba no Porto do Recife e de lá vai
para o mar adentro, longe das praias. Fosse em outro lugar, seria um problema
ambiental de grandes proporções”, completa.
imagem: envolverde.com.br |
SÃO LUÍS – São Luís, capital do Maranhão, apresenta índices de saneamento
semelhantes ao do Brasil: 82% da população tem abastecimento de água e 46%,
coleta de esgoto. Isso resulta em gravíssimos problemas ambientais e de saúde
pública, que se repetem em outros Estados.
Pesquisas
da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) indicam a iminência de surtos de
esquistossomose e hepatite A. O litoral de São Luís está totalmente contaminado
pelos dejetos da cidade: todas as cinco praias têm níveis de coliformes fecais
acima do permitido. Até mesmo a Lagoa do Jansen, um dos principais pontos
turísticos, cercada de bares e restaurantes, exala mau-cheiro durante todo o
dia.
“É
uma questão de direitos humanos. Nossa sociedade não sabe o que é qualidade de
vida”, diz o biólogo Flávio Henrique Morais. Foi ele quem detectou o estado de
calamidade pública nas praias de São Luís, há dois anos. Professor do Centro
Universitário do Maranhão (Uniceuma), ele monitorou a qualidade da água em seis
pontos do litoral maranhense, da praia da Ponta D’Areia até o Olho D’Água, e
encontrou taxas de 2 mil a 25 mil coliformes fecais por 100 ml. Conforme a
legislação ambiental, o máximo permitido para banho são mil coliformes fecais
por 100 ml.
“O
esgoto é lançado in natura no Rio Anil e no Aterro do Bacanga, que deságuam no
oceano. Quando a maré enche, vem tudo para a praia”, diz Flávio. E o mais
preocupante foi que em todos os pontos foi verificada a presença da bactéria
Escherichia coli, que provoca diarreia. “O maior problema não é a quantidade,
mas o fato de que as variedades encontradas são produtoras de toxinas e com um
alto grau de virulência”, explica.
A
professora Ivone Garros, do Instituto de Biologia da UFMA, também encontrou
resultados alarmantes em seus estudos sobre esquistossomose, doença parasitária
conhecida como barriga d’água, que ataca o fígado e o baço. Sua equipe detectou
caramujos infectados que transmitem o parasita em todos os oito bairros da
cidade pesquisados.
“A
doença só existe quando o caramujo e o homem convivem numa área sem saneamento.
Se tem saneamento, fecha o ciclo. O surto já está implantado, não vemos isso
nas estatísticas porque muitas vezes o exame de fezes comum não revela”,
acrescenta.
De
acordo com o Ministério da Saúde, o Maranhão é o quarto Estado do País em
número de casos de esquistossomose. Outra pesquisa da UFMA indica que 60% das
crianças de 7 a 14 anos da rede pública de ensino já entraram em contato com o
vírus da hepatite A.
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