CorreioWeb
A carta supostamente assinada
pelo ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes de Souza e endereçada ao amigo Luiz
Henrique Romão, o Macarrão, seria na verdade uma correspondência que tratava do
rompimento de um relacionamento amoroso entre os dois. A afirmativa parte do
advogado do atleta, Rui Pimenta, que afirmou ontem à noite, inclusive, que uma
fita de vídeo usada pela modelo Eliza Samudio para chantagear Bruno continha cenas
de uma noite de orgia entre ela, o atleta e Macarrão. “O crime ocorreu por
ciúmes. O Macarrão não aceitou a Eliza se intrometendo no relacionamento dele e
providenciou a morte dela, sem que o Bruno soubesse”, alegou Pimenta, por
telefone, ao Estado de Minas.
O advogado chegou a se referir a
um “relacionamento homossexual ativo e passivo”. O goleiro, contudo, nunca
confessou isso a seu defensor. “Desde que entrei no caso percebi esse
relacionamento entre os dois. A carta soa como fim de relacionamento. O plano B.
Há despedida, pedido de perdão”, avalia Pimenta, que não interpreta a
correspondência como forma de jogar toda a culpa do homicídio da ex-amante do
goleiro, Eliza, em Macarrão. “O Bruno já foi pronunciado e vai ter de ir ao
Tribunal do Júri de qualquer forma. Mesmo que o Macarrão confesse, só o júri
pode absolver Bruno”, acrescentou Pimenta.
No lado da acusação, o surgimento
da carta e a “impunidade” de que goza o policial civil aposentado José Lauriano
de Assis Filho, o Zezé, indicado pela polícia como cúmplice no crime, foram a
gota d’água para expor uma divisão. Irritado com as atitudes do promotor
titular do caso, Gustavo Fantini de Castro, que não denunciou Zezé e tampouco
incluiu a correspondência no processo, o assistente da acusação, advogado José
Arteiro Cavalcante Lima, disse que vai ele mesmo tomar essas atitudes e,
depois, pedir à Justiça que substitua o representante do Ministério Público.
“A polícia tinha muitos indícios
de que o Zezé tinha participado do crime, mas o promotor não o incluiu na
denúncia. Avisei isso a ele, mas ele me deu as costas. Agora, um envolvido com
participação ativa nesse crime está impune”, afirma Arteiro, que foi contratado
pela mãe de Eliza, Sônia Fátima Moura, de 44 anos.
De acordo com a polícia, Zezé foi
quem apresentou a Bruno e a Macarrão o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos,
o Bola, apontado como o assassino de Eliza. Bola teria se encontrado com Zezé
duas vezes na noite da morte de Eliza: antes e depois do crime. Para o chefe do
Departamento de Investigações da Polícia Civil de Minas Gerais, delegado Edson
Moreira, Bola foi o matador e Zezé, o responsável pela aproximação entre eles.
“Eram amigos (Zezé e Bola). Foram da mesma turma. Para mim, Zezé participou
pelo menos da ocultação do cadáver”, diz o delegado.
O advogado José Arteiro quer
também incluir no processo a carta, que teria um pedido de Bruno a Macarrão
para que o amigo assumisse toda a culpa do crime. A suposta correspondência
surgiu numa reportagem da revista Veja e teria sido apreendida na Penitenciária
Nelson Hungria, em Contagem, Grande BH, onde os acusados cumprem prisão
preventiva. Na cópia com uma assinatura que seria de Bruno, o ex-goleiro faz um
apelo ao amigo para que entre em ação um “plano B”, que seria livrar o atleta,
assumindo toda a culpa. “O ‘plano A’ deles foi negar o crime. Negar que Eliza
Samudio tivesse sido assassinada”, afirma Arteiro.
A Secretaria de Estado de Defesa
Social (Seds) confirma que uma cópia da correspondência foi apresentada pela
reportagem de Veja, como se tivesse sido interceptada por agentes
penitenciários. Contudo, a Seds informou que não há registro de
correspondências confiscadas dos dois presos cujo conteúdo poderia representar
perigo à segurança do complexo penitenciário, possibilitar a prática de crimes
fora do presídio ou prejudicar o desenrolar do processo e a integridade de
testemunhas.
O outro advogado de Bruno,
Francisco Simim, contesta a veracidade do documento. “Não há uma confissão ali
(na carta). Mesmo que seja verdadeira, não passa de uma estratégia do primeiro
advogado, que instruiu seus clientes de forma errada”, disse.
Entenda o caso
Outubro de 2009
A modelo Eliza Samudio presta
queixa à Polícia Civil do Rio de Janeiro acusando o então goleiro do Flamengo
Bruno Fernandes de Souza, seu amante, de tê-la sequestrado, agredido e feito
tomar remédios abortivos para que não tivesse um filho do atleta
10 de fevereiro de 2010
Nascimento do filho de Bruno com
Eliza. Polícia afirma que plano para assassiná-la já teria sido arquitetado
nessa época
4 de junho de 2010
Último contato de que se tem
notícia de Eliza Samudio. Ela telefonou para uma amiga
10 junho de 2010
Data da provável execução da
modelo, segundo a polícia, morta no sítio do ex-policial Marcos Aparecido dos
Santos, o Bola
7 de julho de 2010
Tribunal de Justiça de Minas
Gerais (TJMG) expede mandado de prisão dos envolvidos. O ex-goleiro do Atlético
e do Flamengo Bruno Fernandes de Souza e outros sete são acusados de sequestro,
homicídio triplamente qualificado e ocultação do cadáver. O clube Flamengo
rescinde contrato com o atleta
8 de julho de 2010
Bruno é detido no Rio de Janeiro
e transferido, no outro dia, para a Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem.
São também acusados Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, funcionário de
confiança do goleiro; Sérgio Rosa Sales, primo do atleta; Dayanne de Souza,
ex-mulher de Bruno; Fernanda Castro, ex-namorada de Bruno; Elenílson Vítor da
Silva, ex-caseiro do sítio de Bruno; Wemerson Marques de Souza, amigo do
goleiro; e um jovem primo de Bruno que era menor na época
4 de agosto de 2010
Justiça converte a prisão
temporária de Bruno, Macarrão e Bola em preventiva, até o dia do julgamento
7 de dezembro de 2010
Justiça do Rio de Janeiro condena
Bruno por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal contra a
ex-amante
17 de dezembro de 2010
Bruno Fernandes, Macarrão, Sérgio
Sales e Bola vão a júri popular pelo sequestro, morte e ocultação do cadáver de
Eliza Samudio
29 de junho de 2011
A juíza Maria José Starling, da
comarca de Esmeraldas, é investigada por suspeita de negociar um habeas corpus
para a libertação do ex-goleiro
31 de maio de 2012
Goleiro chega a anunciar sua
conversão para a Igreja Evangélica Restaurando Vidas, mas ritual de batismo não
ocorre. Advogados culpam helicópteros da mídia, mas governo do estado informa
que Bruno não foi ao local
20 de junho de 2012
Carta anônima chega à mãe de
Eliza Samudio, Sônia Fátima Moura, denunciando suposto paradeiro do corpo da
modelo, numa área do Bairro Planalto, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte.
Nenhum indício do cadáver é encontrado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário