Acuado por parte do funcionalismo
público em greve, o governo desencadeou uma operação para esvaziar o movimento,
que ontem se espalhou por vários Estados, expôs um ministro do núcleo próximo
da presidente Dilma Rousseff a vaias e levou o conflito para as portas do
Palácio do Planalto.
Após um dia de manifestações pelo
País, o governo sinalizou que vai atender a pelo menos parte das reivindicações.
A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, afirmou que o governo ainda está
finalizando as contas para ver que tipo de reajuste será possível apresentar
aos servidores que estão em operação-padrão ou de braços cruzados.
“Preferimos uma análise mais detida
para apresentar uma proposta responsável aos servidores”, declarou a ministra,
depois de repetir o discurso do governo sobre as dificuldades em consequência
da crise econômica internacional. “Iniciamos o ano com uma perspectiva melhor
do que ocorreria com a economia. Em maio, junho, o que se viu foi um cenário
nublado, muito difícil, que fez com que o governo tivesse de refazer suas
contas.”
Segundo Miriam, “a posição do
governo é de absoluta atenção” em relação aos serviços afetados pelas greves.
“Precisamos garantir que os serviços sejam prestados, para que não haja
paralisia nas instituições, como nos portos, para evitar qualquer
comprometimento na prestação dos serviços.”
VAIAS - Um dos interlocutores
mais próximos de Dilma, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) foi
recebido com vaias e teve o discurso interrompido várias vezes ao abrir a
Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente, em Brasília.
“Este é um governo que tem
responsabilidade, que o tempo todo dialogou e em nenhum momento foi dito que
não haveria proposta para os trabalhadores. O que não faremos são atos de
demagogia, que podem pôr em risco a economia do País”, discursou Carvalho, sob
vaias de servidores. “Lamento profundamente e espero que as centrais sindicais,
com quem dialogamos e com quem temos uma relação tensa, mas cordata, chame a
atenção desse setor que se nega ao diálogo.”
O ministro foi recebido aos
gritos de “pelego” e “traidor” por parte do público, que também entoou em coro:
“A greve continua, Dilma, a culpa é sua.” Em outro evento - o anúncio do Plano
Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais -, servidores
exibiram faixas com os dizeres: “Dilma, me chama de Copa do Mundo e investe em
mim” e “Será possível um ‘Brasil sem Miséria’ sem serviços públicos de
qualidade?”
BALANÇO - Segundo a Confederação
dos Trabalhadores do Serviço Público Federal, que representa 80% do
funcionalismo, cerca de 350 mil servidores de 26 categorias aderiram à greve.
Policiais federais que hoje completam três dias de paralisação, organizaram
protestos em rodovias e operações-padrão em aeroportos. Uma carreata em
Brasília travou a Esplanada dos Ministérios ontem à tarde e teve apoio até de
policiais do Distrito Federal.
Com a pressão, as categorias
foram recebidas pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e pelo
secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio
Mendonça, em reuniões separadas, para tentar acalmar os ânimos. Ainda assim,
Brasília terá mais protestos. Hoje, uma marcha pela manhã deve interditar de
novo a Esplanada. Na semana que vem, está previsto um acampamento em frente ao
Congresso.
Agência Estado
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