Carlos Alexandre com os pais, aos 3 anos
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Cedida/IstoÉ
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SÃO PAULO - Em mensagem
distribuída pelas redes sociais, o cientista político e jornalista Dermi
Azevedo informou nessa segunda-feira, 18, a morte de seu filho Carlos Azevedo -
que, em janeiro de 1974, ainda com um ano e oito meses, foi torturado pela
polícia do regime militar no Deops paulista, sofrendo lesões das quais nunca
mais se recuperou.
"Meu coração sangra de dor.
Meu filho mais velho, Carlos Alexandre Azevedo, suicidou-se na madrugada de
hoje, como uma overdose de medicamentos", escreveu o jornalista em sua
página no Facebook. No texto ele recorda os detalhes do episódio que marcou em
definitivo a vida do filho - que foi levado com a mãe, Darci, para o Deops, no
dia 14 de janeiro de 1974. Ele já estava preso. "Cacá (como ele chamada a
criança) foi levado depois a São Bernardo do Campo, onde, em plena madrugada,
os policiais derrubaram a porta (da casa) e o jogaram no chão, tendo machucado
a cabeça. Nunca mais se recuperou. Como acontece com os crimes da ditadura de
1964-85, o crime ficou impune. O suicídio é o limite de sua angústia", diz
sua mensagem.
O episódio fez o então menino
Carlos Alexandre desenvolver o chamado Transtorno Ansioso Social - mais
conhecido como fobia social - que consiste em ataques de pânico toda vez que a
pessoa se relaciona com alguém ou se sente exposta a alguma forma de avaliação
pelos outros. Teve dificuldades para levar uma vida normal, mas ainda assim
conseguiu tornar-se técnico em informática.
Livro. Dermi era, nos anos 70, um
adversário do regime militar e foi preso por ter ajudado uma ONG a redigir um
texto para a Anistia Internacional em que se descreviam abusos da repressão no
Brasil. Quando saiu da prisão, ele voltou ao seu Estado, oi Rio Grande do
Norte, e foi morar com a família em Currais Novos e depois em Natal.
Formado em Jornalismo em 1979,
pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, voltou em 1984 a São Paulo,
onde trabalhou em várias redações. Em 2009, pai e filho deram entrevista em que
Carlos Alexandre, com 37 anos, afirmou: "Até hoje sofro os efeitos da
ditadura. Tomo antidepressivo e antipsicótico. Tenho fobia social". Ele
está lançando este mês um livro de memórias, "Travessias Tortuosas",
em que conta com destaque o episódio envolvendo o filho.
Nota. Ainda ontem, o Movimento
Nacional dos Direitos Humanos divulgou nota oficial sobre a morte de Carlos
Alexandre, "o qual foi preso e torturado durante a ditadura militar com
apenas um ano e oito meses e não conseguiu se restabelecer". Para o
Movimento, "hoje a ditadura concluiu a morte de Carlos, iniciada em tão
tenra idade".
O Estado de S. Paulo
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