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Pela
primeira vez, um padre assassinado pela máfia siciliana, conhecido por sua
corajosa luta, foi beatificado em uma cerimônia neste sábado em Palermo
(Sicília), na presença de milhares de pessoas.
O
cardeal emérito de Palermo, Dom Salvatore De Giorgi, representou o Papa
Francisco nesta cerimônia, com a presença de 40 bispos e 750 padres. Foi um
evento simbólico para o país, com a presença do ministro do Interior, Angolino
Alfano, e a da Justiça, Anna Maria Cancellieri.
"A
beatificação de Don Puglisi representa o momento mais aguardado por toda a
Sicília. Vinte anos depois de seu assassinato, Don Puglisi ainda fala. Ele fala
ainda mais alto", afirmou o ex-arcebispo de Palermo ao L'Osservatore
Romano.
Mas
o irmão da vítima, Gaetano, indicou em um recente livro que "preferia
vê-lo vivo, a beatificado".
"A
Igreja beatifica hoje, mas quando ele precisava de ajuda, ninguém estava
lá".
O
centro comunitário criado por Puglisi ainda é regularmente alvo de ataques. No
mês passado, a área onde uma igreja deveria ser erigida em sua homenagem, foi
queimada.
Catorze
anos após a abertura do processo de beatificação, Bento XVI autorizou a
promulgação, em 2012, de um decreto sobre o "martírio" de Don
Puglisi, assassinado por "ódio à fé". No caso de
"martírio", nenhum milagre é necessário para a beatificação, ao
contrário do que é esperado em outros casos. A beatificação pode ser seguida
por canonização.
"Don
Pino" era padre em San Gaetano e ficou durante dois anos no bairro de
Brancaccio, onde era muito popular entre os jovens por sua linguagem direta.
Ele foi morto em 15 de setembro de 1993, no dia que completava 56 anos, baleado
no pescoço por um dos assassinos, Salvatore Grigoli.
"Eu
estava esperando por você", teria dito, com um sorriso, antes de morrer em
frente a sua casa.
Puglisi
era odiado pelos criminosos do Brancaccio por seu trabalho de prevenção com os
jovens, principalmente o de afastamento das drogas.
Seu
assassinato ocorreu no momento em que o país ainda estava traumatizado pelos
ataques que haviam matado no ano anterior os juízes anti-máfia Giovanni Falcone
e Paolo Borsellino.
Em
San Gaetano, este que era carinhosamente conhecido como "3P"
("Padre Pino Puglisi"), explicava a sua luta em nome da
"verdade" do Evangelho: "Se Deus está conosco, quem será contra
nós! Não estou com medo de morrer, se o que eu digo é a Verdade."
Os
mafiosos Filippo e Giuseppe Graviano foram condenados à prisão perpétua por
serem os mandantes do crime. Os executores receberam a mesma punição.
Grigoli,
atormentado pelo sorriso de Don Puglisi no momento de sua morte, colaborou com
a justiça, como o líder do comando, Gaspare Spatuzza.
Em
uma região onde a máfia e a Igreja muitas vezes se encontraram e, por vezes, se
ajudaram, onde os mafiosos vão à missa, a luta do padre da Brancaccio, apoiado
pelo arcebispo Salvatore Pappalardo, serviu de exemplo para outros católicos de
Calabria, na região de Nápoles.
"Havia
clérigos envolvidos com a máfia, mas havia aqueles que, como Puglisi, a
combateram", declarou neste sábado o prefeito de Palermo, Leoluca Orlando.
Para
o bispo Vincenzo Bertolone, que propôs a beatificação do sacerdote siciliano,
"a máfia é uma religião e não apenas um fenômeno criminal. Ela não
autoriza qualquer outra fé. Seu martírio foi o sinal para a ruptura definitiva
entre a Bíblia e o crime organizado".
Poucos
meses antes de sua morte, João Paulo II, em visita a Agrigento (Sicília), falou
contra o poder da Cosa Nostra, pedindo à máfia que se arrependesse e aos
católicos que resistissem. Bento XVI encorajou a luta em 2010. Ao receber
recentemente os bispos da Sicília, Francisco destacou que a máfia precisa ser
posta para fora da Igreja.
Para
a Igreja, é muito importante ressaltar que Don Puglisi se opôs à cultura da
máfia em nome da fé, e que não era um homem isolado e amargo, como mostrado
pelo diretor italiano Roberto Faenza, no filme "A Luce del Sole", de
2005.
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