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Um dos canteiros de obra da
barragem Panelas II: construção faz parte do PAC para prevenir desastres
Rafael Moraes Moura/AE
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CUPIRA (PE) - Esquecida no
agreste de Pernambuco, a cidade de Cupira é cenário da confluência de duas
forças políticas que não conseguiram somar resultados. Em 30 de agosto de 2011,
a presidente Dilma Rousseff e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, visitaram
a cidade para a assinatura da ordem de serviço de duas barragens que deveriam
ter ficado prontas no ano passado. Até hoje, os projetos mal saíram do papel.
A dobradinha entre Dilma e
Campos, prováveis adversários em 2014 como candidatos do PT e do PSB, não
conseguiu resolver o risco de enchentes a que estão expostos os moradores da
região. Problema que só não foi maior por causa do menor volume de chuvas neste
inverno.
As barragens Panelas II e Gatos
foram as primeiras obras que tiveram a ordem de serviço assinada por Dilma em
cerimônia oficial. Fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e
somam R$ 65 milhões, bancados pela União (R$ 50 milhões) e por Pernambuco (R$
15 milhões). Cerca de 400 mil pessoas seriam beneficiadas pelo conjunto de
barragens, que inclui a de Serro Azul, na mesma bacia hidrográfica e também
inacabada.
"Essa parceria com o governo
do meu querido Eduardo Campos é a parceria da prevenção. Estamos aqui para
impedir que esta região seja outra vez assolada por essa catástrofe que
desencadeia dramas humanos", discursou Dilma na época.
Dois anos depois, a retórica
política não rendeu frutos. Visitados pelo Estado na terça-feira, os canteiros
de Panelas II e Gatos são um cenário de máquinas paradas, poucos operários e
terreno alagado pelas chuvas, que atrasam ainda mais o cronograma. Em Panelas II,
as precipitações têm atrapalhado a terraplenagem e dificultado o transporte de
materiais. Segundo engenheiros que atuam nas obras das barragens, só 5% de todo
o planejamento já foi realizado.
"Deus permita que essas barragens deem certo, porque se não der certo, não vamos ter para onde correr. Vamos todos morrer", afirmou a dona de casa Maria José dos Santos, de 44 anos. Mãe de dois filhos e beneficiária do Bolsa Família, ela perdeu uma casa nas enchentes de 2010, quando uma catástrofe castigou Belém de Maria, cidade vizinha a Cupira que deve ser protegida pelas barragens.
"Perder uma casa é como um
filme de terror. A gente acha que só acontece com os outros, que nunca vamos
passar por aquilo. É um pesadelo", disse Maria José. A nova casa já teve
uma parede derrubada pelas chuvas, que levaram a geladeira para o meio da rua.
Planejamento. O caso de Panelas
II é emblemático de como a falta de planejamento pode comprometer a realização
de uma iniciativa. O projeto básico da barragem continha uma série de falhas,
conforme apontado por auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU).
Segundo o TCU, "a
fragilidade da investigação geológica era de tal magnitude que (…), logo nas
primeiras visitas ao local da obra, foi constada a impossibilidade de se manter
o eixo da barragem". Para piorar, a planilha orçamentária continha itens
com elevado sobrepreço.
"Os problemas identificados
no projeto básico já tiveram como reflexo o atraso no cronograma de execução
das obras", avaliou o TCU, em fiscalização concluída em abril de 2012.
"A aprovação de projeto básico deficiente pelo Ministério da Integração
Nacional (…) deu causa à presente irregularidade, na medida em que permitiu a
transferência de recursos federais para a execução de um objeto com nível de
precisão inadequado para caracterizar a obra, sem que houvesse certeza de sua
viabilidade técnica e econômica."
O Ministério da Integração
Nacional é comandado por Fernando Bezerra Coelho, do PSB - em janeiro de 2012,
o Estado informou que Pernambuco, terra natal do ministro, concentrou 90% dos
gastos da pasta destinados à prevenção de desastres naturais, em obras
iniciadas em 2011, como as barragens.
Entrega. A placa da obra de
Panelas II informa que a barragem ficará pronta em março de 2014, mas o
ministério e a Secretaria de Recursos Hídricos e Energéticos de Pernambuco, em
resposta à reportagem, prometeram entregá-la em maio - Gatos ficaria pronta em
junho.
"A gente sabia desde o
início que eles não iam conseguir fazer as barragens nesse prazo de um ano. A
presidente se empolgou com o governador", disse o secretário de Governo de
Cupira, José Edvan da Silva.
Além do atraso na obra, o
agricultor José Cícero da Silva, de 48 anos, vizinho da futura barragem de
Panelas II, se queixa do valor "constrangedor" da indenização paga
pelo Estado - R$ 47 mil. Seu colega Gilson Luciano, de 39, afirma ter visto pouca
movimentação na obra desde que Dilma e Campos puseram os pés em Cupira.
"Atrasado é pouco, está bem atrasado. Isso aí é para 2020, visse?"
Estadão.com
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