Postura de militantes no mensalão
cria abismo em relação à parte da sociedade que apoiou as prisões
Grupo de petista protesta e enaltece o papel dos líderes políticos como o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu |
Os petistas que se revezam na
porta do presídio da Papuda e a nova direção do PT fluminense, que classificou
os réus presos por causa do mensalão como heróis, estão em sintonia com parte
da militância partidária, com a cúpula da legenda e com o Palácio do Planalto.
Ao enaltecerem o papel de líderes políticos como o ex-chefe da Casa Civil, José
Dirceu, o deputado licenciado José Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio Soares,
eles criam um abismo em relação à uma parcela da sociedade que apoiou a prisão
dos condenados. Inclusive filiados.
Pesquisa Datafolha divulgada
ontem mostrou que 87% dos entrevistados, e que votam no PT, apoiaram as prisões
solicitadas pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim
Barbosa. “O PT ainda não entendeu o que está acontecendo, eles continuam
olhando apenas para si”, disse um parlamentar da base aliada, após terminar uma
conversa com um petista.
Durante a posse da nova diretoria
do PT fluminense, a deputada Benedita da Silva, foi uma das que adotou o
discurso de heroísmo de seus correligionários. “Os companheiros só poderão
suportar a prisão se tiverem nossa solidariedade. Graças a Deus eles não
conseguiram algemar nossos companheiros”. Benedita foi uma das parlamentares
que se revezou com outros colegas nas sucessivas visitas aos condenados,
prática que irritou familiares de presos e gerou descontentamento, inclusive a
Dilma Rousseff, pois para ela, esse tipo de ato pode gerar antipatia nos demais
detentos.
Desde que Barbosa autorizou a
prisão dos primeiros réus do mensalão, no feriado de 15 de novembro, parte do
PT tem levantado vozes e bandeiras contra o ato.
Integrantes do partido defenderam
uma nota dura contra Barbosa na reunião do Diretório Nacional do dia 18, mas o
documento citou o tema apenas no 12º parágrafo. Preferiu concentrar os ataques
às críticas da oposição sobre o desequilíbrio fiscal brasileiro e a
possibilidade de retorno da inflação.
Para um analista político que
acompanha de perto o debate, a cúpula petista está guardando distância do tema.
“Eles não vão levar esse assunto para a campanha, podem estar certos. Falcão
(Rui Falcão, presidente reeleito do partido) tem se manifestado sobre o Genoino
por causa do estado de saúde dele. Você não vê uma menção a Dirceu ou a
Delúbio”.
Impeachment
Os petistas também tentaram, em
um primeiro momento, mobilizar aliados no Congresso a pedir abertura do processo
de impeachment contra Barbosa, alegando que ele cometera irregularidades
jurídicas na decretação das prisões. A própria Dilma desanimou o líder do
partido no Senado, Wellington Dias (PI), no encontro com os líderes da base
aliada no Planalto. “Pode ter até havido algum tipo de irregularidade, mas
comprar briga com Barbosa neste momento em que a opinião pública está
celebrando o fim da impunidade, é um tiro no pé”, disse outro integrante.
O
líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), irmão de Genoino, divide-se entre a
lealdade partidária e o amor fraternal que sente pelo familiar condenado. Após
um discurso na Câmara onde pontuou os riscos do irmão na cadeia, ele chorou ao
conversar com jornalistas. De lá para cá, uma junta médica solicitada por
Barbosa disse que a prisão domiciliar, no caso de Genoino, não era
“imprescindível”.
Diário de Pernambuco
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