O Brasil tem um dos Estados mais
ineficientes, a segunda pior burocracia e apenas cresceu nos últimos anos à
base do crédito e do boom de commodities. Agora, a falta de competitividade
pode se tornar um "severo" problema para o crescimento da economia e
só uma ampla reforma poderá tirar o País da crise.
O alerta é do Fórum Econômico
Mundial (WEF, na sigla em inglês). A organização já anunciou que, para seu
evento em Davos, na Suíça, em janeiro de 2015, quer a presença do vencedor da
eleição presidencial para explicar o que será feito para tirar o País da
recessão. O Fórum ocorre três semanas depois da posse no Brasil, em janeiro, e
seria o primeiro palco internacional de um novo presidente ou de um segundo
mandato de Dilma Rousseff.
A queda da competitividade da
economia brasileira no cenário mundial, segundo o Fórum, reflete o atraso na
condução de reformas importantes. O Brasil caiu da 56ª em 2013 para a 57ª
colocação no Ranking Global de Competitividade 2014, que conta com uma compilação
de 144 países. Entre os Brics (Brasil, Rússia Índia, China e África do Sul), a
economia brasileira está à frente apenas da indiana, 71ª colocada. A Suíça mais
uma vez liderou o ranking. Em seguida vêm Cingapura, EUA, Finlândia e Alemanha.
O único país da América do Sul à frente do Brasil é o Chile, no 33º lugar, e as
últimas posições são ocupadas por Guiné, Chade e Iêmen.
Carlos Arruda, coordenador do
Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral (FDC), instituição responsável pela
coleta e análise dos dados do Brasil no levantamento, disse que a perda de uma
posição não é significativa, mas alertou para o crítico movimento de perda de
nove posições em dois anos.
"O ano de 2012 foi de
crescimento da economia e oportunidades em relação à economia mundial, mas o
Brasil não soube tirar vantagem dessa situação", observou. Para ele,
aquele era o momento de o governo tentar resolver questões que remontam aos
anos 1990, como levar adiante reformas dos sistemas tributário e trabalhista e
simplificar o marco regulatório.
Arruda também afirmou que o
Brasil precisa se comprometer com a elevação dos investimentos e melhora da
infraestrutura do País. Ele lembrou que muitas obras do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), por exemplo, estão fora do cronograma inicial.
INEFICIÊNCIA - De acordo com o
ranking do Fórum, apenas a Venezuela tem um peso da regulamentação estatal mais
nefasta que no Brasil. Para Beñat Bilbao, economista sênior da entidade, o
problema é que o governo nem sequer conseguiu fazer as reformas estruturais que
prometeu. "O Brasil desperdiçou o período de vacas gordas e não fez as
reformas estruturais. Agora, será ainda mais difícil."
Na avaliação de Bilbao, um dos
maiores problemas no Brasil é a ineficiência das instituições públicas. No
ranking, o País está na 135ª colocação entre 144 governos em termos de desvios
de dinheiro. Em apenas quatro países a confiança da população nos políticos é
mais baixa que no Brasil e, dos 144 governos avaliados, o País está apenas na
137ª posição no que se refere ao desperdício de recursos.
"Não vimos avanços no que se
refere à eficiência do Estado", alertou Bilbao, sobre os últimos anos.
"Isso é fundamental para que o governo tenha a capacidade de reformar a
economia." Além da questão da corrupção, o que pesa na avaliação do Fórum
Econômico Mundial é o papel do Estado no funcionamento do mercado nacional.
Para ele, é necessário que o Brasil se abra. "Isso geraria uma maior
concorrência interna."
"O grande destaque deste ano
foi a não ação", disse Arruda, da Dom Cabral. Mesmo com avanços em determinadas
áreas, um país perde posições no ranking se outros obtiverem uma nota maior.
Ele lembrou que o Brasil adotou medidas para simplificar os tributos sobre a
folha das empresas e tentou reduzir a burocracia para abertura de negócios, mas
países como Colômbia e México avançaram muito mais nesses tópicos.
A questão trabalhista foi o maior
destaque negativo do Brasil, disse Arruda, lembrando que o tema teve avaliação
crítica em vários indicadores. Em eficiência do mercado de trabalho, por
exemplo, o Brasil caiu 40 posições desde 2012 (da 69ª para a 109ª, a maior
variação negativa entre os 12 temas.
Estadão Conteúdo
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