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Balões pretos lembram batalha pela criminalização da homofobia, na Parada da Diversidade do Recife (Foto: Luna Markman / G1) |
A 13° Parada da Diversidade
começou o desfile, por volta das 13h deste domingo (21), levando uma multidão
pela Avenida Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. Doze trios animaram o público,
que se misturou aos frequentadores da praia, nessa tarde de sol. Mais cedo,
shows e perfomaces ocorreram no palco da Praça Dona Lindu, ponto de
concentração do evento. A Polícia Militar estimou o público presente entre 75
mil e 80 mil pessoas.
A festa é uma forma de protesto
da população LGBT, que hoje recebeu duas notícias do governo municipal: o
lançamento de uma política de saúde integral e a reserva de vagas nos cursos de
qualificação profissional oferecidos pelo poder público.
O gerente de Livre Orientação
Sexual, Wellington Pastor, ligado à Secretaria de Desenvolvimento e Direitos
Humanos, informou que a Prefeitura do Recife vai lançar, na próxima sexta-feira
(26), o Programa de Saúde Integral da População
LGBT. "O objetivo é permitir o acesso dessas pessoas aos serviços de
saúde. Envolve formação e capacitação dos profissionais para melhor atendimento
e criação de um ambulatório específico para pessoas trans, que muitas vezes,
por preconceito, terminam não acessando essas unidades", explicou.
Pastor também anunciou a
destinação de vagas em cursos profissionalizantes para a população LGBT, que
tem dificuldade em se inserir no mercado de trabalho, tema de reportagem
especial do G1, publicada neste domingo. "A gente sabe que ainda existem
muitas barreiras que impedem a contratação dessas pessoas, principalmente as
transexuais, então a Secretaria de Juventude e Qualificação Profissional está
firmando um projeto, até o final do ano, para direcionar 10% das vagas nos
cursos e encaminhar ao Sistema Único de Emprego", disse.
A coordenadora do Fórum LGBT e
organizadora da Parada, Íris Silva, afirmou que essas medidas são demandas
levantadas em conferências realizadas pelo movimento. "Já saiu,
nacionalmente, uma portaria [nº 2.803/2013, do Ministério da Saúde] sobre esse
programa, e agora cabe aos estados e municípios implantarem. Só acho que a
gente tem que sentar com a Prefeitura para discutir essa política, porque ela
vai ser apresentada e a gente não se debruçou ainda sobre ela. Hoje, o nosso
maior problema é na área do acolhimento. Já a reserva de vagas nos cursos é
muito positiva, apesar de a gente ver que algumas empresas já estão contratando
homossexuais aqui no estado", afirmou.
O agenciador de passeios Romário
Mendonça, 20 anos, e a estilista Mag Alves são exemplos de pessoas que podem
ser beneficiadas com essas novas iniciativas. Romário é homossexual e contou
que, certa vez, foi mal recebido em uma unidade de saúde. "O recepcionista
não quis me atender por preconceito, estava com febre e demorou muito para um
médico me ver", disse. Já Mag é
transformista e afirmou que foi discriminada no ambiente de trabalho. "Eu
gostaria de me vestir sempre como mulher, mas ia trabalhar como homem, apenas o
cabelo era grande. Meu chefe mandou eu cortar para não agredir a clientela. Eu
me demiti e abri a minha própria loja", contou.
Violência
O trio da Articulação e Movimento
para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans-PE) lembrou o caso de João
Antônio Donati, um jovem gay de 18 anos assassinado em Goiás, ao ler uma carta
pendindo respeito aos direitos LGBT. Balões pretos também foram soltos no ar
para marcar a luta pela criminalização da homofobia no País. Há um projeto de
lei, cuja autoria é da Câmara Federal, tramitando sobre o tema.
O agenciador de passeios Diego
Cordeiro, 20 anos, já sofreu violência gratuita no meio da rua por ser
homessexual. "Eu estava saíndo do meu trabalho quando um homem desceu do
carro e me deu um soco, do nada, só porque disse que não gostava de gay. Até
hoje tenho a marca dessa agressão no meu olho", lamentou.
O ator Sérgio Mamberti foi um dos
homenageados da Parada da Diversidade e, em seu discurso, também levantou a
bandeira contra a homofobia. "É uma luta longa e esse projeto de lei tem
que ser aprovado. Estou aqui para defender a liberdade sexual, me juntar a este
grito", apontou. Durante o Governo Lula, entre 2003 e 2006, Mamberti fez
parte da Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural.
Ocorrências policiais
No final da tarde, o
tenente-coronel Ricardo Barbosa, comandante do 19º batalhão da Polícia Militar,
responsável pela segurança pública na parada, informou que aproximadamente 40
pessoas terminaram detidas por envolvimento em brigas. O grupo foi encaminhado
à delegacia móvel da Polícia Civil, que estava montada no 3º jardim de Boa Viagem.
O delegado Luciano Siqueira, de
plantão no evento, disse que pelo menos 29 pessoas foram autuadas em flagrante
por perturbação do sossego e da ordem pública. Os adultos assinaram um termo
circunstanciado de ocorrência e foram liberados. Os menores foram encaminhados
aos responsáveis. Nenhum crime de morte foi registrado.
G1
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