Na entrada da maior escola
preparatória para concursos públicos de Brasília, panfletos empilhados sobre o
balcão convidam os alunos para uma palestra sobre Vida de concurseiro: o
equilíbrio emocional em suas mãos. Para quem sonha em trabalhar para o Estado,
manter os estudos e a saúde em dia é tão desafiante quanto acompanhar o
lançamento de editais, os índices de concorrência e as disciplinas exigidas em
cada seleção.
Seduzidos pela promessa de uma
vida tranquila após a aprovação, mais de 10 milhões de brasileiros abriram mão
de carreiras, família, amigos e tantas outras coisas, para se dedicar única e
exclusivamente a decorar fórmulas, leis, conceitos, além de aprender macetes em
aulas, vídeos e apostilas. Querem porque querem a estabilidade, a palavra mais
venerada nos cursinhos, onde o significado atribuído a ela é o de “algo que faz
você ganhar bem, sem trabalhar muito”.
Em um país em recessão técnica,
com a economia crescendo pouco e o nível de emprego estagnado, a proposta de
bater cartão em órgãos públicos se torna ainda mais tentadora. O mercado que
inclui cursinhos, livros didáticos e realização das provas movimenta no Brasil
algo em torno de R$ 50 bilhões por ano, segundo a Associação Nacional de
Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac). Boa parte desses recursos circula em
Brasília, a capital dos concurseiros.
A rotina dos aspirantes a
servidores — em sua maioria, jovens — não costuma variar muito: acordam cedo,
estudam, fazem rápidas pausas e retomam os estudos. É assim até a hora de
dormir. Apesar das recomendações, não são todos os que encontram tempo e
disposição para se exercitar ou fazer algo alheio ao universo dos concursos.
Acabam se distanciando das notícias e, nos poucos momentos de conversa, a pauta
quase sempre são as provas.
Marina Lopes tem 22 anos. Cursou
artes cênicas em Goiânia, de onde, há um mês, saiu rumo a Brasília para
“arrochar nos estudos” e ser a primeira funcionária pública da família. “Não é
fácil. Quando me sento em um barzinho, parece que estou fazendo algo errado”,
desabafa ela, com “saudade da balada e da pescaria”. Foi no meio do curso,
concluído sem muita empolgação, que ela ouviu dizer que o funcionalismo
oferecia “um futuro mais certo”.
Concentrada na missão de virar
delegada ambiental da Polícia Federal, Marina não se acanha em assumir o
principal motivo que a empurrou para a vida de concurseira. “Quero trabalhar
menos e ganhar mais: é isso. Se não disser que é isso, estarei mentindo”, diz a
estudante, apossando-se de um discurso uníssono nos cursinhos.
Correioweb
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