A primeira vez que o ex-senador
pernambucano Ney Maranhão pisou na China foi em 1979. Naquele ano, o país mal
tinha começado seu processo de abertura econômica, comandado por Deng Xiaoping
(o arquiteto do milagre chinês). Com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 263
bilhões no final daquela década, nem o mais auspicioso economista poderia
arriscar que a nação asiática fosse se transformar na segunda maior economia
mundial em 2015, com um PIB de US$ 11,6 trilhões. Da visita que fez à China, o
então deputado federal voltou com idéia fixa de reforçar as relações
sino-brasileiras, antevendo o poderio econômico do gigante amarelo.
“Naquela época, meus colegas do
Congresso disseram que eu estava doido. Brincavam comigo falando que chinês
servia pra lavar roupa (numa referência às lavanderias asiáticas). Depois de
voltar da China, no final de 1979, fui considerado elemento deletério perigoso
para a segurança nacional e cassado pela ditadura militar no Brasil. Passei 11
meses preso, mas mantive o interesse de aproximar o Brasil da China quando
voltasse à política”, conta. E cumpriu a promessa.
Com muitas horas de voo, Ney
Maranhão já fez 13 viagens à China, que diz conhecer melhor do que Pernambuco.
Com orgulho, o político exibe um cartão plastificado do Chefe do Comitê Central
do Partido Comunista Chinês (PCC), Jiang Zemin. “Só existem quatro cartões
desses”, diz, explicando que ele é uma autoridade tão importante quanto o
Presidente da República e que raramente recebe delegações parlamentares
estrangeiras.
Em 1991, o ex-senador foi
convidado a comandar uma delegação parlamentar brasileira à China. O grupo foi
integrado por oito parlamentares, entre eles os pernambucanos Tony Gel e
Maviael Cavalcante. Os parlamentares passaram 14 dias no país. “Antes da reunião
com o Jiang Zemin, o então Embaixador do Brasil em Pequim, Roberto Abdenur, me
orientou a não convidar a autoridade para visitar o Brasil, porque ele não era
o presidente. Respondi que se percebesse o interesse dele convidaria, sim, em
nome do Congresso Nacional e da Presidência da República”, recorda.
Dois anos depois, Jian Zemin
visitaria o Brasil já como presidente da República Popular da China. Em sessão
solene no Congresso Nacional, a autoridade foi saudada e homenageada pelo então
senador Ney Maranhão. O político brasileiro é recebido com tapete vermelho no
país e chegou a receber título de cidadão de Sichuan, a terceira maior
província da China, onde está localizada a hidrelétrica de Três Gargantas, a
maior do mundo.
“Mas o segredo do meu sucesso no
país se deve ao fato de ter conseguido o voto favorável do Brasil à entrada da
China no antigo Gatt (hoje Organização Mundial do Comércio/OMC). Uni todas as
tendências ideológicas no Senado Federal, juntando o apoio dos 81 senadores, de
Eduardo Suplicy a Marco Maciel, de Roberto Campos a Pedro Simon. E eles me são
gratos até hoje, porque eles levam em consideração o ditado: ‘quem toma água do
poço tem que lembrar quem cavou’”, sentencia.
Na Fazenda Itamatamirim, onde Ney
Maranhão mora em Vitória de Santo Antão (Zona da Mata) são muitos os presentes
chineses. Os objetos enchem uma sala de estar. O ex-senador também acumula
muitos álbuns de fotografia. As relações com os chineses também se estenderam
para os negócios, com a venda de terras e minerais não metálicos para os
parceiros. Perguntado se aprendeu alguma coisa em mandarim, o político responde
com humor: “e eu sou cobra pra ter duas línguas?”, dizendo que costuma ir à
China acompanhado por intérpretes.
Em Pernambuco, a influência do
ex-senador foi decisiva para que se instalasse no Estado uma unidade do
Instituto Confúcio e do consulado chinês. O Instituto Confúcio funciona em
convênio com a Universidade de Pernambuco (UPE), oferecendo curso de mandarim e
de cultura chinesa. O consulado chinês é o terceiro instalado no Brasil, depois
de São Paulo e Rio de Janeiro. “A presença do consulado aqui evita que a
população do Norte e do Nordeste tenha que se deslocar até o Sudeste para
conseguir visto chinês”, diz Ney.
Sobre a crise econômica mundial,
o ex-senador continua destacando o diferencial chinês, que ainda projeta
crescimento de 7% para 2015, enquanto a média mundial está estimada em 3,5%.
Jornal do Commercio
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