Do O Globo
imagem: semrimasemetricas.blogspot.com |
SÃO PAULO - No último ano de adaptação
ao Acordo Ortográfico no Brasil, professores afirmam que neste ano letivo vão
cobrar mais o uso das novas normas pelos alunos.
Muitos professores reclamam
que não receberam treinamento ou orientações das secretarias de Educação sobre
a nova ortografia, que ainda provoca muitas dúvidas nas salas de aula. E ainda
há algumas escolas usando livros não adaptados às novas regras, em casos
considerados excepcionais.
Em 1990, Brasil, Angola, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe assinaram o Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa, mas ele só passou a valer no Brasil depois
que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o promulgou, em setembro de 2008.
Ficou estabelecido um período de transição de 1 de janeiro de 2009 a 31 de
dezembro de 2012, com o convívio das duas normas no país. A partir de 1º de
janeiro de 2013, as novas regras passam a ser obrigatórias.
O acordo alterou 0,5% das palavras do
vocabulário comum do brasileiro, menos que em Portugal, que teve 1,6% das
palavras atingidas.
Professores de várias regiões do país
afirmam que, desde que o acordo passou a vigorar, eles passaram a ensinar nas
salas de aula a nova ortografia e que as mudanças têm sido absorvidas de
maneira gradual.
Segundo o professor de Português Marcos
Fábio, que dá aula no Ceará, educadores e alunos ainda têm muitas dúvidas:
- Todos nós temos que recorrer ao
dicionário, sempre surgem dúvidas, principalmente sobre o hífen.
Para alguns professores, o governo
deveria fornecer treinamento específico para os educadores sobre o novo acordo.
- Muitos colegas que dão aulas de
Português têm dúvidas, que dirá os de outras disciplinas. Seria interessante um
curso de formação. E não adianta dizer que vai ter curso online. Se o acordo
ortográfico era tão importante, deveria haver uma forte preocupação com a
formação de quem vai transmiti-lo - diz Alayr Pessoa Filha, professora de
Língua Portuguesa do Liceu Estadual Nilo Peçanha, em Niterói.
O GLOBO ouviu professores e secretarias
de Educação de vários estados e a maioria afirma que todos os alunos da rede
pública já está usando livros didáticos adaptados ao acordo ortográfico.
No Mato Grosso, porém, a secretaria
estadual de Educação informa que uma pequena quantidade de livros não adaptados
continua sendo usada em algumas salas de aula de forma complementar. Isso
acontece quando o total do material didático com as novas regras não é
suficiente para o número de alunos, devido ao aumento de estudantes de uma
turma após o recebimento das publicações, ou para substituir livros danificados.
O Ministério da Educação (MEC), que
encaminha livros didáticos para 99% das escolas públicas de todo país, afirma
que todo material que enviou para uso a partir de 2010 para alunos do 1º ao 5º
ano do ensino fundamental já estava de acordo com as novas regras. Segundo o
MEC, livros com a nova ortografia começaram a ser usados por estudantes do 6º
ao 9º ano do ensino fundamental em 2011. O ministério diz que distribuiu
publicações adaptadas para o ensino médio em 2012. A compra dos livros é feita
a cada três anos e são usados por igual período.
No entanto, a distribuição de
dicionários escritos com a nova ortografia será feita pelo MEC apenas entre
junho e setembro deste ano, 2012, para 1
milhão de salas de aula. Mas alguns estados não esperaram o MEC e já compraram
seus próprios dicionários.
Além de livros e dicionários, o MEC
investiu na compra de 204 mil exemplares do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa (conhecido pela sigla Volp), editado pela Academia Brasileira de
Letras para esclarecer dúvidas sobre a grafia das palavras. Todos os
exemplares, segundo o ministério, já foram distribuídos. Mas isso não quer
dizer que eles estejam sendo usados: há professores de Língua Portuguesa que
garantem que nunca viram o Volp nas suas escolas.
As regras ortográficas não são objeto
de preocupação só de estudantes do ensino regular. Muitas empresas têm
disponibilizado para os funcionários cursos para que passem a escrever de
acordo com as novas regras.
- De todas as empresas que nos
contrataram para prestar treinamento de Língua Portuguesa para funcionários,
80% solicitaram que incluíssemos um módulo sobre a nova ortografia. As empresas
estão preocupadas, principalmente as que têm funcionários que lidam com o
público - afirma Ana Catarina Kretly, gerente de Marketing da Scritta, empresa
que presta consultoria de comunicação a companhias.
Apesar de o decreto prever a
obrigatoriedade do uso da nova ortografia a partir de 1 de janeiro de 2013,
ação popular que tramita na Justiça Federal pede que o prazo seja adiado.
Impetrada pelo movimento Acordar Melhor, a ação afirma que a Academia
Brasileira de Letras (ABL) desrespeitou o acordo assinado entre os países de
língua portuguesa ao fazer alterações em palavras publicadas no Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp).
- O Congresso Nacional teria que
aprovar as alterações que o Volp apresentou ao acordo - disse o professor
Ernani Pimentel, líder do Acordar Melhor.
O acadêmico Evanildo Bechara nega que a
ABL tenha desrespeitado o acordo:
- Se for escrito num sistema
ortográfico uniforme, um livro escrito em português na Europa, no Brasil, ou na
África não precisa ser atualizado para ser publicado em outro país - afirma.
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