OPNIÃO JC
O Circuito Cultural dos Museus, em andamento no Recife, é uma oportunidade que se oferece para que a nossa cidade descubra o que o mundo inteiro já descobriu: que museu é um patrimônio cultural a ser cultivado pelos de casa, para a admiração e o respeito, também, dos de fora. É assim que em todas as grandes cidades do mundo os museus abrem inclusive aos sábados, domingos e feriados. As razões que parecem lógicas lá fora e aqui ainda não aportaram são óbvias: o movimento turístico não sofre restrições de calendário e para os de casa que trabalham esses dias são os únicos disponíveis para atividades culturais, esportivas ou de lazer.
No Recife, por incrível que pareça, seus museus mais importantes entre eles o Museu do Estado não abrem nos fins de semana. Uma enorme contribuição ao vazio que faz da cidade um grande deserto urbano. Diante disso, nos perguntamos: para que existem os museus? Apenas para constar como itens culturais parcialmente disponíveis, ou por mera inércia burocrática? O Circuito Cultural pretende sensibilizar as autoridades para a necessidade de abrir as portas desses espaços de memória e arte nos finais de semana, com um complemento bastante significativo: querem os promotores desse evento apontar para um ponto fundamental, que é a criação de estímulos à visitação pelo público de casa.
Esse talvez seja o argumento de que se serve a burocracia para fechar as portas do que deveria estar sempre aberto nos horários convenientes de visitação: o pouco interesse local. Inverte-se, assim, o processo que deveria consistir desde o primeiro momento na atenção à pedagogia dos museus. Algo que estimule, que mostre constantemente a importância desses espaços como instrumento de prazer estético, de interesse pela história materializada em peças raras, na iconografia, nos marcos artísticos que delimitam épocas e, assim, educam.
O cuidado com a arte que ocupa alguns dos museus mais importantes do mundo do Louvre em Paris, ao Hermitage, em São Petersburgo, na Rússia , faz parte da cultura desses países, mas é, também, um tributo à história e um valioso instrumento para a economia local, movida em boa parte, e cada vez mais, pela indústria turística. Por não termos aprendido ainda essa lição tão elementar é que nosso turismo engatinha, anda a passos lentos e comprometido pelo desgaste do que deveria estar sendo preservado e exposto.
Essa é uma tarefa que cabe aos poderes públicos do Estado e do município, que deveriam atuar em sintonia, com a mesma atenção com que se planeja um grande evento artístico de massa de duplas sertanejas a bandas de forró ou roqueiros quase sempre com mais despesa que receita, com efeito mais que efêmero. Por que não se tira uma fatia desse entusiasmo com festas ruidosas e se aplica na serenidade criativa dos museus, alimentando-se a emoção própria da estética do passado e do presente, que deve sobreviver a toda e qualquer manifestação de massas que se esgota em horas e deixa nada como legado?
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