domingo, 25 de março de 2012

VEJA COMO A CHINA AFETA SEU BOLSO

Do JC Online
imagem: paulista40graus.com.br

Toda vez que o gigante asiático dá mostra de uma futura desaceleração econômica, o mundo treme de ansiedade.Segunda maior potência econômica do globo (atrás apenas dos Estados Unidos), a China vem apresentando nos últimos anos taxas de crescimento impressionantes. Quase sempre de dois dígitos. Agora, no entanto, o gigante asiático começou seu processo de desaceleração.

E, num mundo globalizado, isso significa muita dúvida e tensão para governos, mercados, indústrias, comércio e, por que não dizer, para seu bolso. Explica-se: os chineses se transformaram numa força que vem puxando o crescimento do mundo há pelo menos duas décadas e são atualmente o maior parceiro comercial do Brasil. Há duas semanas, a autoridade máxima chinesa, o premiê Wen Jiabao, admitiu uma pequena diminuição do Produto Interno Bruto (PIB).

No curto prazo, isso vai trazer consequências na comercialização de algumas commodities, produtos primários negociados em Bolsa, como carne, soja e açúcar, por exemplo. Aqui, temos pelo menos algo de positivo. Se as vendas de produtos agropecuários para a China caírem, os produtores brasileiros vão se voltar para o mercado interno. Isso significa que os preços podem ficar mais baixos nos nossos supermercados.

O cenário provocado pela desaceleração chinesa agora é o oposto ao de 2007, quando os preços de vários alimentos subiram no mundo inteiro devido ao fato dos chineses estarem consumindo mais carne, produtos derivados de soja, entre outros. Na época, essa alta contribuiu para aumentar a inflação em vários países, incluindo o Brasil.



“O que acontece agora vai beneficiar o consumidor, que poderá comprar alguns produtos um pouco mais baratos, como a carne (bovina e a de frango) e os derivados da soja. No entanto, as empresas vão ganhar menos dinheiro com a queda das exportações e, como consequência disso, o desemprego pode ser maior nas companhias exportadoras”, explica o economista e professor do Departamento de Economia da UFPE, Carlos Magno Lopes. Esse reflexo não é imediato e a baixa no preço das commodities pode levar alguns meses até chegar ao consumidor.


“Apesar de consumir menos, os chineses vão continuar comendo”, diz Magno, acrescentando que os alimentos não devem ter um decréscimo de preço acentuado, mas o minério de ferro, sim. “O setor minero-siderúrgico já deve estar experimentando uma desaceleração e poderá desempregar, porque é muito sensível à demanda chinesa, mas não será nada terrível”, diz Magno. Nos dois primeiros meses deste ano, o minério de ferro representou 44,7% de tudo que o Brasil exportou para a China, enquanto a soja ficou com 24%.

Nos dois primeiros meses deste ano, 85% de tudo que o Brasil exportou para a China eram produtos primários, como minério de ferro - matéria-prima para fazer o aço -, soja e açúcar bruto. “Essa desaceleração da China vai diminuir a demanda pelas commodities brasileiras e esse mercado será reduzido no mundo”, resume o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Ricardo Chaves. E acrescenta: “Quem vender esse tipo de produto, vai vender mais barato”.

A queda no preço das commodities vai ocorrer também porque outros grandes consumidores desse tipo de produto - como os países da Zona do Euro e os Estados Unidos - estão, respectivamente, com as suas economias em crise, desacelerando ou numa lenta recuperação. Ou seja, o que deixar de ser vendido para a China provavelmente não vai ser comercializado para outro país. E aí entra em cena outra regrinha básica da economia: o aumento da oferta faz cair o preço.

A desaceleração da China não vai causar impactos terríveis na economia do País e do mundo, porque os chineses continuarão crescendo, mas num ritmo menor. A previsão de crescimento do PIB chinês é de 7,5% este ano, quando no início deste ano era 8%. Além da desaceleração, o premiê Wen Jiabao anunciou que o governo chinês vai estimular o consumo no mercado interno, deixando a China, a longo prazo, menos dependente das suas exportações.

Hoje, grande parte do que é produzido lá é consumido no resto do mundo, porque os chineses ainda são muito pobres. Se as commodities estão com uma tendência de preço baixo, o mesmo não vai ocorrer com os milhares de importados chineses que estão nas lojas e lares brasileiros. No curto prazo, esses produtos continuarão com o mesmo patamar de preço. “A China não vai poder estimular excessivamente o seu mercado interno, porque tem que controlar a sua inflação”, conta Magno. Geralmente, quando aumenta muito o consumo interno há uma alta da inflação.

A vendedora autônoma Edilma Amorim argumenta que a China continuar vendendo produtos baratos é “importante” para continuar na sua atual ocupação. Ela compra bolsas e relógios made in China no Bairro de São José e revende as clientes que trabalham em lojas e escritórios em Boa Viagem. “Se os importados da China aumentarem de preço, vou diminuir as compras e consequentemente ganhar menos”, diz.

Já a administradora Natália Nogueira – que também trabalha na área de vendas – afirma que vai continuar comprando os importados chineses, principalmente por serem mais baratos do que “as marcas originais”.

Segundo o economista Carlos Magno, os importados da China só ficarão mais caros se a economia mundial voltar a crescer de forma acelerada. Atualmente, ninguém acredita que isso vá ocorrer. Não nos próximos dois anos. Se os preços dos importados chineses não sofrem num primeiro momento, o mesmo não está ocorrendo com as principais Bolsas do mundo. A cada nova informação sobre a redução do crescimento chinês, os mercados sofrem. Em princípio, a queda ocorre por causa da expectativa de que as grandes empresas que têm ações devem ser impactadas.

No entanto, também há outra explicação para o tremor nas Bolsas, como cita o ex-diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o economista Gustavo Maia Gomes: “Muita gente adora especular com preço de ação, desencadeando uma onda de boatos artificiais que pode trazer consequências boas (e financeiras) para muita gente e o efeito ser grande (negativo) nas ações dessas empresas”.

Nenhum comentário: