Do JC Online
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imagem: paulista40graus.com.br |
Toda vez
que o gigante asiático dá mostra de uma futura desaceleração econômica, o mundo
treme de ansiedade.Segunda maior potência econômica do globo (atrás apenas dos
Estados Unidos), a China vem apresentando nos últimos anos taxas de crescimento
impressionantes. Quase sempre de dois dígitos. Agora, no entanto, o gigante
asiático começou seu processo de desaceleração.
E, num
mundo globalizado, isso significa muita dúvida e tensão para governos,
mercados, indústrias, comércio e, por que não dizer, para seu bolso.
Explica-se: os chineses se transformaram numa força que vem puxando o
crescimento do mundo há pelo menos duas décadas e são atualmente o maior
parceiro comercial do Brasil. Há duas semanas, a autoridade máxima chinesa, o
premiê Wen Jiabao, admitiu uma pequena diminuição do Produto Interno Bruto
(PIB).
No curto
prazo, isso vai trazer consequências na comercialização de algumas commodities,
produtos primários negociados em Bolsa, como carne, soja e açúcar, por exemplo.
Aqui, temos pelo menos algo de positivo. Se as vendas de produtos agropecuários
para a China caírem, os produtores brasileiros vão se voltar para o mercado
interno. Isso significa que os preços podem ficar mais baixos nos nossos
supermercados.
O cenário
provocado pela desaceleração chinesa agora é o oposto ao de 2007, quando os
preços de vários alimentos subiram no mundo inteiro devido ao fato dos chineses
estarem consumindo mais carne, produtos derivados de soja, entre outros. Na
época, essa alta contribuiu para aumentar a inflação em vários países,
incluindo o Brasil.
“O que acontece agora vai beneficiar o consumidor, que
poderá comprar alguns produtos um pouco mais baratos, como a carne (bovina e a
de frango) e os derivados da soja. No entanto, as empresas vão ganhar menos
dinheiro com a queda das exportações e, como consequência disso, o desemprego
pode ser maior nas companhias exportadoras”, explica o economista e professor
do Departamento de Economia da UFPE, Carlos Magno Lopes. Esse reflexo não é
imediato e a baixa no preço das commodities pode levar alguns meses até chegar
ao consumidor.
“Apesar de
consumir menos, os chineses vão continuar comendo”, diz Magno, acrescentando
que os alimentos não devem ter um decréscimo de preço acentuado, mas o minério
de ferro, sim. “O setor minero-siderúrgico já deve estar experimentando uma
desaceleração e poderá desempregar, porque é muito sensível à demanda chinesa,
mas não será nada terrível”, diz Magno. Nos dois primeiros meses deste ano, o
minério de ferro representou 44,7% de tudo que o Brasil exportou para a China,
enquanto a soja ficou com 24%.
Nos dois
primeiros meses deste ano, 85% de tudo que o Brasil exportou para a China eram
produtos primários, como minério de ferro - matéria-prima para fazer o aço -,
soja e açúcar bruto. “Essa desaceleração da China vai diminuir a demanda pelas
commodities brasileiras e esse mercado será reduzido no mundo”, resume o
professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) Ricardo Chaves. E acrescenta: “Quem vender esse tipo de produto, vai
vender mais barato”.
A queda no
preço das commodities vai ocorrer também porque outros grandes consumidores
desse tipo de produto - como os países da Zona do Euro e os Estados Unidos -
estão, respectivamente, com as suas economias em crise, desacelerando ou numa
lenta recuperação. Ou seja, o que deixar de ser vendido para a China
provavelmente não vai ser comercializado para outro país. E aí entra em cena
outra regrinha básica da economia: o aumento da oferta faz cair o preço.
A
desaceleração da China não vai causar impactos terríveis na economia do País e
do mundo, porque os chineses continuarão crescendo, mas num ritmo menor. A
previsão de crescimento do PIB chinês é de 7,5% este ano, quando no início
deste ano era 8%. Além da desaceleração, o premiê Wen Jiabao anunciou que o
governo chinês vai estimular o consumo no mercado interno, deixando a China, a
longo prazo, menos dependente das suas exportações.
Hoje,
grande parte do que é produzido lá é consumido no resto do mundo, porque os
chineses ainda são muito pobres. Se as commodities estão com uma tendência de
preço baixo, o mesmo não vai ocorrer com os milhares de importados chineses que
estão nas lojas e lares brasileiros. No curto prazo, esses produtos continuarão
com o mesmo patamar de preço. “A China não vai poder estimular excessivamente o
seu mercado interno, porque tem que controlar a sua inflação”, conta Magno.
Geralmente, quando aumenta muito o consumo interno há uma alta da inflação.
A vendedora
autônoma Edilma Amorim argumenta que a China continuar vendendo produtos
baratos é “importante” para continuar na sua atual ocupação. Ela compra bolsas
e relógios made in China no Bairro de São José e revende as clientes que
trabalham em lojas e escritórios em Boa Viagem. “Se os importados da China
aumentarem de preço, vou diminuir as compras e consequentemente ganhar menos”,
diz.
Já a
administradora Natália Nogueira – que também trabalha na área de vendas –
afirma que vai continuar comprando os importados chineses, principalmente por
serem mais baratos do que “as marcas originais”.
Segundo o
economista Carlos Magno, os importados da China só ficarão mais caros se a
economia mundial voltar a crescer de forma acelerada. Atualmente, ninguém
acredita que isso vá ocorrer. Não nos próximos dois anos. Se os preços dos
importados chineses não sofrem num primeiro momento, o mesmo não está ocorrendo
com as principais Bolsas do mundo. A cada nova informação sobre a redução do
crescimento chinês, os mercados sofrem. Em princípio, a queda ocorre por causa
da expectativa de que as grandes empresas que têm ações devem ser impactadas.
No entanto,
também há outra explicação para o tremor nas Bolsas, como cita o ex-diretor do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o economista Gustavo Maia
Gomes: “Muita gente adora especular com preço de ação, desencadeando uma onda
de boatos artificiais que pode trazer consequências boas (e financeiras) para
muita gente e o efeito ser grande (negativo) nas ações dessas empresas”.
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