Santos Dumont distribuiu entre os pobres o prêmio que ganhou pelo vôo do 14-bis |
Alberto Santos-Dumont nasceu no
dia 20 de julho de 1873 no sítio Cabangu, no local que viria a ser o município
de Palmira (hoje rebatizado em honra a ele), em Minas Gerais. Filho de Henrique
Dumont, de ascendência francesa e engenheiro de obras públicas, e de Francisca
Santos-Dumont, filha de uma tradicional família portuguesa.
Com Alberto ainda pequeno a
família se mudou para Valença (atual município de Rio das Flores) e passou a se
dedicar ao café. Em seguida seu pai comprou a Fazenda Andreúva a cerca de 20 km
de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Ali, o pai de Alberto logo percebeu o
fascínio do filho pelas máquinas da fazenda e direcionou os estudos do rapaz
para a mecânica, a física, a química e a eletricidade.
Em 1891, Alberto, então com 18
anos e emancipado, foi para a França completar os estudos e perseguir o seu
sonho de voar. Ao chegar em Paris, admirou-se com os motores de combustão que
começavam a aparecer impulsionando os primeiros automóveis e comprou um para
si. Logo Santos-Dumont estava promovendo e disputando as primeiras corridas de
automóveis em Paris.
Com a morte do pai, um ano
depois, o jovem Santos-Dumont sofreu um grande abalo emocional, mas continuou
os estudos na Cidade-Luz. Em 1897 fez seu primeiro vôo num balão alugado. Um
ano depois, subia ao céu no balão Brasil, construído por ele. Mas procurava a
solução para o problema da dirigibilidade e propulsão dos balões. Projetou
então o seu número 1, com forma de charuto, com hidrogênio e motor a gasolina.
Primeiro vôo
No dia 20 de setembro de 1898
realizou o primeiro vôo de um balão com propulsão própria . No ano seguinte
voou com os dirigíveis número 2 e número 3. O sucesso de Santos-Dumont chamou a
atenção do milionário Henry Deutsch de la Muerte que no dia 24 de março de 1900
ofereceu um prêmio de cem mil francos a quem partisse de Saint Cloud,
contornasse a torre Eiffel e retornasse ao ponto de partida em 30 minutos.
Santos-Dumont fez experiências
com os números 4 e 5. Em 19 de outubro de 1901 cruzou a linha de chegada com o
número 6, mas houve uma polêmica graças a um atraso de 29 segundos. Em 4 de
novembro o Aeroclube da França declarou-o vencedor. Além do Prêmio Deutsch
recebeu do presidente Campos Salles outro prêmio no mesmo valor e uma medalha
de ouro.
Em 1902 o príncipe de Mônaco,
Alberto 1º, ofereceu um hangar para ele fazer suas experiências no principado.
Santos-Dumont continuou construindo seus dirigíveis. O numero 11 foi um bimotor
com asas e o numero 12 parecia um helicóptero. Em 1906 foi instituída a Taça
Archdeacon para um vôo mínimo de 25 metros com um aparelho mais pesado que o
ar, com propulsão própria. O Aeroclube da França lançou o desafio para um vôo
de 100 metros.
Com Edison e Roosevelt
Em abril de 1902 Santos Dumont
viajou para os Estados Unidos onde visitou os laboratórios de Thomas Edison e
foi recebido pelo presidente Theodore Roosevelt. Em 23 de outubro de 1906, no
Campo de Bagatelle, o 14-Bis voou por uma distância de 60 metros, a três metros
de altura e conquistou a Taça Archdeacon. Uma multidão de testemunhas assistiu
a proeza e no dia seguinte toda a imprensa louvou o fato histórico. O dinheiro
do prêmio foi distribuído para seus operários e os pobres de Paris, como era o
costume do inventor.
Em 12 de novembro de 1906, na
quarta tentativa, conseguiu realizar um vôo de 220 metros, estabelecendo o
primeiro recorde de distância e ganhando o Prêmio Aeroclube. Santos-Dumont não
ficou satisfeito com os números 15 a 18 e construiu a série 19 a 22, de tamanho
menor, chamadas Demoiselles.
Santos-Dumont recebeu diversas
homenagens na Europa e nas Américas, em especial no Brasil, onde foi recebido
com euforia. Como o brasileiro não patenteava suas invenções, seus projetos
foram aperfeiçoados por outros como Voisin, Leon Delagrange, Blériot, Flarman.
Em 1909 ocorreram dois grandes
eventos: a Semaine de Champagne, em Reims, o primeiro encontro aeronáutico do
mundo e o desafio da travessia do Canal da Mancha. Nesse ano Santos-Dumont
obteve o primeiro brevê de aviador, fornecido pelo Aeroclube da França. Em 25
de julho de 1909, Blériot atravessou o canal da Mancha e foi parabenizado por
carta pelo brasileiro.
Primeira Guerra Mundial
Cansado e com a saúde abalada,
Santos-Dumont realizou seu último vôo em 18 de setembro de 1909. Depois fechou
sua oficina e em 1910 retirou-se do convívio social. Em agosto de 1914, a
França foi invadida pelas tropas alemãs. Era o início da Primeira Guerra
Mundial. Aeroplanos começaram a ser usados na guerra e Santos Dumont
amargurou-se ao ver sua invenção ser usada com finalidades bélicas.
Passou a se dedicar ao estudo da
astronomia, residindo em Trouville, perto do mar. Em 1915, com a piora na sua
saúde, decidiu retornar ao Brasil. No mesmo ano, participou do 11º Congresso
Científico Panamericano nos Estados Unidos, tratando do tema da utilização do
avião como forma de facilitar o relacionamento entre os países.
Já sofrendo com a depressão,
encontrou refúgio em Petrópolis, onde projetou e construiu seu chalé "A
Encantada": uma casa com diversas criações próprias, como um chuveiro de
água quente e uma escada onde só se pode pisar primeiro com o pé direito.
Permaneceu lá até 1922, quando visitou os amigos na França. Passou a se dividir
entre Paris, São Paulo, Rio de Janeiro, Petrópolis e Fazenda Cabangu, MG.
Em 1922, condecorou Anésia
Pinheiro Machado, que durante as comemorações do centenário da independência do
Brasil, fizera o percurso Rio de Janeiro-São Paulo num avião. Em janeiro de
1926, apelou à Liga das Nações para que se impedisse a utilização de aviões
como armas de guerra. No mesmo ano, inventou um motor portátil para
esquiadores, que facilitava a subida nas montanhas. Internou-se no sanatório
Valmont-sur-Territet, na Suíça.
Em maio de 1927, chegou a ser
convidado pelo Aeroclube da França para presidir o banquete em homenagem a
Charles Lindberg, pela travessia do Atlântico, mas declinou do convite devido a
seu estado de saúde. Passou algum tempo em convalescença em Glion, na Suíça e
depois retornou à França.
Em 1928 veio ao Brasil no navio
Capitão Arcona. A cidade do Rio de Janeiro tinha se preparado para recebê-lo
festivamente. Mas o hidroavião que ia fazer a recepção, sobrevoando o navio
onde estava, da empresa Condor Syndikat, e que fora batizado com seu nome,
sofreu um acidente, sem sobreviventes. Abatido, Santos-Dumont retornou a Paris.
Legião de Honra
Em junho de 1930 foi condecorado
com o título de Grande Oficial da Legião de Honra da França. Em 1931, esteve
internado em casas de saúde em Biarritz, e em Ortez no sul da França. Antônio
Prado Júnior, ex-prefeito do Rio de Janeiro, encontrou Santos-Dumont doente na
França, o que o levou a entrar em contato com a família e a pedir ao sobrinho
Jorge Dumont Villares que fosse buscar o tio.
De volta ao Brasil, passam por
Araxá, em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e finalmente no Guarujá, onde
se instalou no Hotel La Plage, em maio de 1932. Antes, em junho de 1931 tinha
sido eleito membro da Academia Brasileira de Letras.
Em 1932, explodiu a Revolução
Constitucionalista, quando o Estado de São Paulo se levantou contra o governo
de Getúlio Vargas. Isso incomodava a Santos-Dumont, que lançou apelos para que
não houvesse uma guerra civil. Mas aviões atacaram o campo de Marte, em São
Paulo, no dia 23 de julho. Possivelmente esse fato pode ter piorado a angústia
de Santos Dumont, que nesse dia, aproveitando-se da ausência de seu sobrinho,
suicidou-se, aos 59 anos de idade, sem deixar descendentes.
Da Página 3 Pedagogia &
Comunicação
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