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Um estudo que avaliou o
impacto econômico global da doença de Chagas mostrou que ele supera doenças bem
mais conhecidas mundialmente, como o rotavírus (vírus que causa diarreia grave
e infecções, principalmente em crianças) e o câncer de colo do útero. Apesar de
ser considerada uma doença tropical, e da maioria dos casos se concentrarem na
América Latina, o impacto econômico dessa doença se mostrou significativo em
áreas onde ela não é tradicionalmente considerada um risco, como a América do
Norte e a Europa.
A pesquisa estima que os
gastos globais com a doença de Chagas excedam os 7 bilhões de dólares anuais,
valor que supera os gastos com o rotavírus (2 bilhões de dólares) e câncer de
colo do útero (4,7 bilhões de dólares). Mais de 10% desse valor vem dos Estados
Unidos de do Canadá, lugares que tradicionalmente não são considerados de risco
para a doença.
O estudo, publicado nessa
quinta-feira no periódico Lancet Infectious Diseases, levou em consideração não
só os gastos da área da saúde com os pacientes e as mortes causadas pela
doença, mas também a produtividade perdida em virtude dela. A doença de Chagas é
causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida por insetos conhecidos
como "barbeiros" (Triatoma infestans). Ela não é transmitida pela
picada do inseto, mas pelas fezes que ele deposita na pele durante a picada.
Quando a pessoa coça o local, as fezes penetram no organismo, causando a
doença.
Ao cair na circulação, o
parasita Trypanosoma cruzi pode causar febre, dores de cabeça e lesões na pele,
sintomas que na maioria das vezes passam despercebidos. Porém, em alguns casos,
a doença volta a se desenvolver depois de mais de 20 anos, podendo causar
arritmia cardíaca e até aumento do tamanho de órgãos, como coração, intestino e
esôfago, e pode levar à morte.
A transmissão também pode
ocorrer por meio de transfusão de sangue, da placenta e, mais raramente, por
via oral, ou seja, ingestão de alimentos contaminados pelo parasita. De acordo com estimativas
da OMS, existem 10 milhões de pessoas infectadas pelo parasita em todo o mundo,
com a maior concentração na América Latina. Só no Brasil, segundo o Ministério
da Saúde, existem cerca de três milhões de indivíduos infectados. Os casos costumam ser
mais frequentes em regiões mais pobres, onde existe uma quantidade maior de
moradias de baixa qualidade, muitas vezes de madeira, onde os insetos transmissores
vivem.
Custos — A pesquisa
estima que os gastos globais com a doença de Chagas excedam os 7 bilhões de
dólares anuais, valor que supera os gastos com o rotavírus (2 bilhões) e câncer
de colo do útero (4,7 bilhões). Mais de
10% desse valor vem dos Estados Unidos de do Canadá, lugares que
tradicionalmente não são considerados de risco para a doença.
Para Peter Hotez, um dos
autores do estudo, quantificar o impacto econômico da doença pode ajudar no
desenvolvimento de políticas de saúde pública. "Nós temos evidências de
que a doença de Chagas tem um impacto além de alguns países mais pobres. Em
todo o mundo, a doença de Chagas em um impacto econômico imenso", afirma o
pesquisador.
Opinião do especialista:
Dirceu de Almeida - membro
da Sociedade Brasileira de Cardiologia e professor da Unifesp
"Nos Estados Unidos
o impacto é maior por conta da imigração, mas a doença de Chagas está em todo o
mundo. Ela era uma doença quase que exclusiva da América Latina,
particularmente da América do Sul, mas com o tempo a transmissão predominante
pelo barbeiro foi caindo e surgiram outras formas, como transfusão de sangue e
a transmissão da mãe para o feto”.
"Uma nova forma de
transmissão, que ocorre principalmente no norte do Brasil, é a contaminação por
alimentos, principalmente cana-de-açúcar e açaí. Ocorrem cerca de 200 a 250
casos por ano transmitidos dessa forma, contando apenas aqueles que se tem
conhecimento”.
"A doença de Chagas
acomete principalmente pessoas de baixa renda, então os investimentos são
baixos, principalmente nos locais onde a doença é mais grave. Alguns estados do
Brasil, como São Paulo e os da região Sul, controlaram totalmente a transmissão
pelo mosquito barbeiro, mas e, outros locais, como Amazonas, Goiás e o Piauí,
ela ainda ocorre”.
"No Brasil o
Ministério da Saúde fala em três milhões de infectados, mas o número é
seguramente maior do que isso, porque boa parte das pessoas infectadas não
chega a desenvolver os sintomas da doença”.
"O pico da doença
corresponde à fase mais produtiva das pessoas, entre 30 e 40 anos, de modo que
ela gera um custo alto para o Estado, com aposentadoria precoce, por exemplo. Além
disso, a doença requer tratamentos caros, como transplante de coração, uso de
desfibrilador e marca-passo".
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