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Joseph Ratzinger ficará dentro do Vaticano depois de
sua renúncia, supostamente para garantir a tranquilidade para rezar e estudar
pelo resto de seus dias. Mas fontes na Santa Sé confirmaram ontem que o papa
Bento XVI também garantirá com isso sua imunidade legal, blindando o pontífice
de qualquer tipo de processo que eventualmente seja lançado sobre os escândalos
de pedofilia que assolaram a Igreja nos últimos dez anos.
Críticos do papa apontam que ele, durante o pontificado
de João Paulo II, teria sido informado sobre dezenas de casos de pedofilia e
jamais atuou. Como papa, porém, Bento XVI adotou uma política de tolerância
zero em relação aos casos, suspendendo padres e determinando punições. Na
Irlanda, por exemplo, ele pediu perdão às famílias das vítimas, reconhecendo o
erro. Mas, ainda assim, sua gestão foi vista como insuficiente.
MOTIVOS.
No Vaticano, fontes confirmaram que três motivos pesaram para que o papa
permaneça dentro da Santa Sé, mesmo diante da polêmica em relação a ter dois
papas dentro do mesmo território. Um dos aspectos que pesou foi o de não criar
um segundo lugar de peregrinação, o que acentuaria a existência de dois papas.
O temor é que, se ele optasse por ir a um monastério na Alemanha, o local
poderia acabar se transformando em atração para os fiéis.
O segundo aspecto seria a proteção da polícia do
Vaticano, que já o conhece há 30 anos. Fora, significaria a necessidade de
deslocar parte dessa polícia e mesmo do serviço secreto do Vaticano para atuar
no exterior. Mas o aspecto mais importante da decisão de ficar dentro do
Vaticano seria suas garantias jurídicas e sua capacidade de manter sua
imunidade.
Pelos acordos entre a Itália e o Vaticano, o território
da Santa Sé é inviolável, o que significa que o papa jamais poderá ser detido
pela Justiça italiana enquanto ele estiver dentro de seu território, seja para
testemunhar em um caso ou simplesmente para ser processado. A Igreja diz não
acreditar que processos contra o papa possam surgir. Mas, diante de uma série
de casos polêmicos em vários países, a opção foi por não arriscar.
PRISÃO.
Em 2007, a Arquidiocese de Los Angeles acabou fechando um acordo para pagar US$
600 milhões em compensações a vítimas de abusos. Isso evitou a prisão de padres
e bispos. Grupos já tentaram pedir sua prisão nos últimos anos, alegando sua
conivência com os escândalos sexuais da Igreja. Um dos casos foi proposto
durante sua visita ao Reino Unido em 2010. Dois ativistas pediram a prisão do
papa, o que foi negado por ele ser um chefe de Estado.
Naquele mesmo ano, Bento XVI foi citado em um processo
quando ainda era cardeal, em 1995. Ele teria sido informado sobre abusos
sexuais nos EUA por um padre e optou por ignorar o caso. Em 2012, o processo
acabou rejeitado, o que foi visto pelo departamento jurídico do Vaticano como
uma prova de que o papa não pode ser considerado culpado pela ação de padres
espalhados pelo mundo.
Em 2011, nos Estados Unidos, grupos de apoio a vítimas
de abusos por padres enviaram uma petição ao Tribunal Penal Internacional para
que investigasse o papa e três outros religiosos pelo mesmo fato. Mas o TPI não
deu seguimento ao caso.
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