domingo, 17 de fevereiro de 2013

MORAR NO VATICANO GARANTIRÁ IMUNIDADE A BENTO XVI

O Estado de S.Paulo

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Joseph Ratzinger ficará dentro do Vaticano depois de sua renúncia, supostamente para garantir a tranquilidade para rezar e estudar pelo resto de seus dias. Mas fontes na Santa Sé confirmaram ontem que o papa Bento XVI também garantirá com isso sua imunidade legal, blindando o pontífice de qualquer tipo de processo que eventualmente seja lançado sobre os escândalos de pedofilia que assolaram a Igreja nos últimos dez anos.


Críticos do papa apontam que ele, durante o pontificado de João Paulo II, teria sido informado sobre dezenas de casos de pedofilia e jamais atuou. Como papa, porém, Bento XVI adotou uma política de tolerância zero em relação aos casos, suspendendo padres e determinando punições. Na Irlanda, por exemplo, ele pediu perdão às famílias das vítimas, reconhecendo o erro. Mas, ainda assim, sua gestão foi vista como insuficiente.


MOTIVOS. No Vaticano, fontes confirmaram que três motivos pesaram para que o papa permaneça dentro da Santa Sé, mesmo diante da polêmica em relação a ter dois papas dentro do mesmo território. Um dos aspectos que pesou foi o de não criar um segundo lugar de peregrinação, o que acentuaria a existência de dois papas. O temor é que, se ele optasse por ir a um monastério na Alemanha, o local poderia acabar se transformando em atração para os fiéis.



O segundo aspecto seria a proteção da polícia do Vaticano, que já o conhece há 30 anos. Fora, significaria a necessidade de deslocar parte dessa polícia e mesmo do serviço secreto do Vaticano para atuar no exterior. Mas o aspecto mais importante da decisão de ficar dentro do Vaticano seria suas garantias jurídicas e sua capacidade de manter sua imunidade.



Pelos acordos entre a Itália e o Vaticano, o território da Santa Sé é inviolável, o que significa que o papa jamais poderá ser detido pela Justiça italiana enquanto ele estiver dentro de seu território, seja para testemunhar em um caso ou simplesmente para ser processado. A Igreja diz não acreditar que processos contra o papa possam surgir. Mas, diante de uma série de casos polêmicos em vários países, a opção foi por não arriscar.  


PRISÃO. Em 2007, a Arquidiocese de Los Angeles acabou fechando um acordo para pagar US$ 600 milhões em compensações a vítimas de abusos. Isso evitou a prisão de padres e bispos. Grupos já tentaram pedir sua prisão nos últimos anos, alegando sua conivência com os escândalos sexuais da Igreja. Um dos casos foi proposto durante sua visita ao Reino Unido em 2010. Dois ativistas pediram a prisão do papa, o que foi negado por ele ser um chefe de Estado.


Naquele mesmo ano, Bento XVI foi citado em um processo quando ainda era cardeal, em 1995. Ele teria sido informado sobre abusos sexuais nos EUA por um padre e optou por ignorar o caso. Em 2012, o processo acabou rejeitado, o que foi visto pelo departamento jurídico do Vaticano como uma prova de que o papa não pode ser considerado culpado pela ação de padres espalhados pelo mundo.


Em 2011, nos Estados Unidos, grupos de apoio a vítimas de abusos por padres enviaram uma petição ao Tribunal Penal Internacional para que investigasse o papa e três outros religiosos pelo mesmo fato. Mas o TPI não deu seguimento ao caso.

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