Bruno Boghossian - O Estado de
S.Paulo
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Os partidos
brasileiros pagaram quase R$ 61 milhões para financiar campanhas de outras
siglas nas eleições municipais de 2012. O dinheiro foi repassado por diretórios
e comitês partidários para ajudar candidatos de legendas aliadas. Na maior
parte dos casos, partidos que tinham candidatos a prefeito fizeram pagamentos
para as campanhas a vereador das siglas que os apoiavam.
O Estado
analisou 1.625 repasses acima de R$ 100 mil feitos pelos partidos nas eleições
do ano passado e identificou 211 transferências entre as legendas – os demais
repasses foram parar em contas de candidatos da mesma sigla que fez o
pagamento. As transferências interpartidárias somam R$ 60,9 milhões, o que
representa 5,9% do total de R$ 1 bilhão que circulou nesse universo. Os
repasses são legais e foram registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
durante a campanha.
O PT foi
quem transferiu mais dinheiro a aliados: R$ 18,5 milhões. Em São Paulo, o PT
repassou quase R$ 6 milhões às campanhas de vereadores dos três partidos que
apoiavam Fernando Haddad: PP (R$ 3 milhões), PC do B (R$ 2,1 milhões) e PSB (R$
850 mil). Os repasses do PT beneficiaram siglas como o PP do Recife, que
apoiava o petista Humberto Costa na disputa pela prefeitura e recebeu R$ 1,3
milhão.
Petistas
também deram quase R$ 2 milhões para ajudar a eleger Gustavo Fruet (PDT) em
Curitiba – a vitória de Fruet era considerada importante para a disputa pelo
governo do Paraná em 2014, quando o PDT deve apoiar os petistas Gleisi Hoffman
ou Paulo Bernardo.
Outra
doação volumosa partiu do PT de São Bernardo do Campo (SP), que repassou R$ 5,4
milhões a 15 partidos que apoiavam a reeleição de Luiz Marinho à prefeitura. O
dinheiro foi para os comitês de candidatos a vereador de siglas maiores, como o
PTB (R$ 752 mil) e o PC do B (R$ 660 mil), e menores, como o PTC (R$ 40 mil) e
o PSDC (R$ 19 mil). Marinho venceu a disputa e sua coligação elegeu 19 dos 28
vereadores do município.
Barganha?
Cientistas políticos e especialistas em direito eleitoral divergem na avaliação
desses pagamentos: alguns acreditam que os repasses representam apenas o
financiamento coletivo de um projeto político; outros afirmam que as transferências
contêm indícios de uma barganha por apoio eleitoral.
A quantia
movimentada entre partidos é suficiente para financiar uma campanha eleitoral
de grande porte. O comitê de Fernando Haddad (PT), por exemplo, desembolsou R$
67,9 milhões para eleger o novo prefeito da capital paulista.
Segundo no
ranking. O PSDB foi o segundo partido que mais ajudou siglas amigas, com
repasses de R$ 10,5 milhões. Parte do dinheiro financiou campanhas de
candidatos a prefeito de outros partidos, como Marcio Lacerda, do PSB de Belo
Horizonte (R$ 1 milhão), Luciano Ducci, do PSB de Curitiba (R$ 264 mil), e Alex
Manente, do PPS de São Bernardo do Campo (R$ 200 mil).
O PSDB
paulista repassou R$ 950 mil à direção nacional do DEM, um de seus principais
aliados no Estado. Em São José dos Campos, os tucanos repassaram mais R$ 142
mil ao Democratas, que apoiava o candidato do PSDB a prefeito.
Na capital
paulista, o PRB apostou as fichas na eleição de Celso Russomanno (que terminou
em terceiro lugar) e ajudou os aliados, distribuindo R$ 400 mil ao PT do B, ao
PHS e ao PTN.
Rio. A
campanha de Eduardo Paes (PMDB) no Rio fez repasses a três partidos de sua
coligação: R$ 241 mil ao PSDC, R$ 150 mil ao PTB e R$ 100 mil ao PSL.
O PV de
Palmas distribuiu dinheiro entre os aliados do candidato do partido à
prefeitura. Campanhas a vereador do DEM receberam mais de R$ 400 mil; o PMDB
foi beneficiado com quase R$ 300 mil; o PSDB recebeu duas transferências que
somaram R$ 236 mil; e o PSD obteve R$ 155 mil.
Receptor
universal. O DEM foi o partido que mais recebeu recursos de outras siglas:
quase R$ 7 milhões. Metade desse dinheiro saiu dos cofres do PSDB, que ainda
tenta manter o combalido aliado, desestruturado após a criação do PSD, no
espectro de alianças para 2014.
O PDT
obteve o melhor "custo-benefício". O partido fez apenas um repasse de
R$ 100 mil, para o PT de Passo Fundo (RS), mas recebeu o segundo maior volume
de recursos, R$ 6,6 milhões – a maior parte do PT e do PMDB.
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