Investigação da PF contraria discurso do governo sobre ação orquestrada em boatos do Bolsa Família |
A Polícia Federal finalizou o
inquérito que investigou a onda de boatos sobre o Bolsa Família, após quase
dois meses de trabalho, mas não identificou nenhum indício de crime. Por isso,
nenhuma pessoa foi indiciada ou responsabilizada. A conclusão contraria o
discurso oficial do governo federal explicitado logo após a onda de boatos, no
sentido de que haveria uma ação orquestrada para difundir o boato sobre o fim
do programa.
A PF concluiu que houve uma
decisão de gestão da Caixa Econômica Federal, que antecipou parte dos
pagamentos sem aviso prévio para os beneficiários. O inquérito constatou um
aumento no volume de saques em Ipu (CE) e Cajazeiras (PB), cidade onde teve a
primeira notícia do pagamento no Facebook. Também não foi identificado o uso de
empresas contratadas ou rádios comunitárias. Cerca de 200 pessoas foram
ouvidas.
Segundo o relatório final, foi um
conjunto de "fatores desassociados" que levou à onda de boatos, que
teriam sido espontâneos, sem intenção de causar qualquer dano ao governo. Por isso
a PF afirmar que não houve crime ou contravenção.
Em maio, milhares de pessoas
correram até as agências da Caixa Econômica para sacar os benefícios, após a
propagação do boato de que o programa iria acabar. Houve tumulto em alguns
locais. Também foi difundida a informação de que o governo iria depositar um
dinheiro extra por conta do Dia das Mães.
Chefe da PF, o ministro José
Eduardo Cardozo (Justiça) chegou a declarar: "Evidentemente houve uma ação
de muita sintonia em muitos pontos do território nacional, o que pode ensejar a
avaliação de que alguém quis fazer isso deliberadamente, planejadamente,
articuladamente. Não dá para afirmar isso ainda, mas seguramente as situações
nos levam a cogitar essa hipótese. Mas nessa hora acho importante investigar,
apurar, com o sigilo que o inquérito policial recomenda", disse o ministro
em 21 de maio.
A ministra Maria do Rosário
(Direitos Humanos) foi mais incisiva e afirmou em 20 de maio, na internet, que
os boatos eram fruto "da central de boato da oposição".
Nos últimos dois dias,
integrantes do governo fizeram reuniões para definir como a informação seria
divulgada e por quem. A preocupação era evitar desconforto com a conclusão das
investigações.
O Bolsa Família, que contempla
13,8 milhões de famílias e completa dez anos em outubro, é o maior programa
social do governo, com forte apelo eleitoral.
Folha de São Paulo
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