Pesquisadores vão testar em
macacos uma vacina brasileira contra o vírus HIV, a partir do segundo semestre,
informou uma nota da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp), nesta segunda-feira (5).
A previsão é que os experimentos
durem 24 meses, e o objetivo é encontrar um método de imunização mais eficaz contra
a Aids para ser usado em seres humanos, afirma a nota da Agência Fapesp.
O imunizante contido na vacina
foi desenvolvido e patenteado por cientistas da Faculdade de Medicina da USP, e
batizado de HIVBr18. O projeto teve início em 2001 e foi desenvolvido por três
pesquisadores - Edecio Cunha Neto, Jorge Kalil e Simone Fonseca.
Vantagens
A atual etapa do teste
pré-clínico, a ser realizada no segundo semestre, vai ser feita em uma colônia
de macacos rhesus mantida pelo Instituto Butantan. A vantagem de fazer os
testes, de acordo com a Agência Fapesp, é a similaridade entre o sistema
imunológico humano e o dos macacos, e o fato de eles serem suscetíveis ao vírus
SIV, que deu origem ao HIV.
Os cientistas avaliam que, no
atual estágio de desenvolvimento, a vacina não deve eliminar totalmente o HIV
do organismo, mas poderia manter a carga dos vírus reduzida ao ponto um
infectado não desenvolver a imunodeficiência e não transmitir o vírus.
A vacina também pode vir a ser
usada para fortalecer o efeito de outras contra a Aids, como uma que está sendo
desenvolvida por cientistas da Universidade Rockfeller, em Nova York, nos UEA,
criada com uma proteína do vírus chamada gp140, aponta a Agência Fapesp.
"Em um experimento conduzido
pela pesquisadora Daniela Rosa, observamos que a pré-imunização com a HIVBr18
melhora a resposta à vacina feita com a proteína recombinante do envelope do
HIV gp140, que é a responsável pela entrada do vírus nas células", disse
Cunha Neto, em entrevista à Fapesp.
"Uma vacina capaz de induzir
a produção de anticorpos contra essa proteína [gp140] poderia bloquear a
infecção contra o HIV", completou Cunha Neto.
O projeto é atualmente conduzido
no ambito do Instituto de Investigação em Imunologia, considerado um dos
institutos nacionais de ciência e tecnologia (INCT) vinculados ao Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação com apoio da Fapesp.
O projeto teve início a partir
partir da análise do sistema imunológico de um grupo especial de portadores do
HIV, que mantinham o vírus sob controle por mais tempo que o normal e
apresentavam demora para adoecer, de acordo com a nota da Agência Fapesp.
Nestes pacientes, a quantidade de
linfócitos T do tipo CD4 (TCD4), tipo de glóbulo branco que é alvo do vírus
HIV, permaneciam em níveis mais elevados do que o normal.
Naquela época, os pesquisadores
isolaram peptídeos (pequenos pedaços de proteínas) do vírus HIV entre os mais
estáveis (que se mantém presentes em quase todas as cepas) e testaram com a
ajuda de um programa de computador.
A ideia foi selecionar os
peptídeos com mais chances de serem reconhecidos pelas células TCD4 do sistema
imunológico dos pacientes infectados com o HIV. Foram escolhidos 18 entre os
peptídeos testados, segundo a Fapesp.
Os 18 peptídeos foram recriados
em laboratório e codificados em uma molécula circular de DNA, chamada de
plasmídeo. Os resultados foram publicados em 2006 na revista científica
"Aids".
Testes em laboratório feitos com
amostras de sangue de 32 pessoas com HIV com diferentes condições imunológicas
e genéticas mostraram que, em mais de 90% dos casos, ao menos um dos peptídeos
era reconhecido pelas células imunológicas, de acordo com a Fapesp.
Os processos foram aperfeiçoados
e novos testes foram feitos, inclusive um novo experimento com camundongos
geneticamente modificados para expressar moléculas do sistema imunológico
humano, cujas conclusões saíram na revista científica "PLoS One", em
2010.
Para pesquisas recentes, o grupo
desenvolveu uma nova versão da vacina, com elementos conservados de todos os
subtipos do grupo principal do HIV, chamado de grupo M, afirma a Fapesp. A
vacina foi capaz de induzir respostas do sistema imunológico contra fragmentos
de todos os subtipos testados do vírus até o momento.
"Os resultados sugerem que
uma única vacina poderia, em tese, ser usada em diversas regiões do mundo, onde
diferentes subtipos do HIV são prevalentes", afirmou Cunha Neto, em
entrevista à Fapesp.
Do G1
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