sábado, 10 de maio de 2014

Trio suspeito de matar torcedor vai responder por homicídio doloso

Delegada Gleide Ângelo detalha investigação de homicídio no Arruda (Foto: Vitor Tavares / G1)
Os três suspeitos de envolvimento com a morte do torcedor Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26 anos, atingido por um vaso sanitário no entorno do estádio do Arruda, no Recife, vão responder por homicídio doloso (quando há intenção de matar) com agravante de o crime ter ocorrido por motivo fútil e da vítima não ter tido chance de defesa. 

Segundo a Polícia Civil, eles também serão indiciados por três tentativas de homicídio (outras três torcedores atingidos pela privada ficaram feridos na ação). A delegada Gleide Ângelo, à frente do caso, tem oito dias, a partir desta sexta-feira (9), para concluir o inquérito. Se condenados, eles podem pegar ao menos 30 anos de reclusão.

Em coletiva na tarde desta sexta, na Secretaria de Defesa Social (SDS), em Santo Amaro, na área central da capital, a delegada deu detalhes da ação no estádio. Segundo ela, os três suspeitos - Luiz Cabral de Araújo Neto, 30 anos; Everton Filipe Santana, 23; e Waldir Pessoa Firmo Júnior, 34 anos – tiveram a prisão preventiva decretada pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). Em depoimento, eles contaram que integravam a torcida organizada do Santa Cruz, a Inferno Coral, e que na torcida do time visitante, tinham oito torcedores do Paraná e 200 da organizada do Sport, a Torcida Jovem.

Ela acrescentou que quem teve a ideia de jogar os vasos foi Luiz Cabral, que queria vingar-se de torcedores do Sport. Ele acompanhou o jogo entre Santa Cruz e Portuguesa (no estádio do Canindé, em São Paulo) e, depois, veio direto para o Recife para assistir à partida entre o time tricolor e o Paraná, no Arruda.



“No dia do jogo, ele disse que entrou no estádio do Arruda pela beira-canal [Avenida Professor José dos Anjos]. Quando estava nos acréscimos, ele disse que o jogo estava muito ruim e decidiu sair do campo. Quando estava do lado de fora, viu uma briga na Avenida Beberibe. A PM foi apartar e deteve um integrante da Inferno Coral, chamado Dinho, que é um dos dirigentes. Nesse momento, todos os integrantes da Inferno enlouqueceram pra tentar soltar Dinho, que acabou sendo levado para uma delegacia dentro do estádio. Luiz Cabral, então, teve a ideia de entrar no estádio, subir para o anel intermediário, procurar pedras e jogar na torcida do Sport”, explicou Gleide Ângelo.

Ainda conforme a delegada, Cabral convidou os outros dois suspeitos, que toparam e seguiram para o anel intermediário do estádio. “Eles ficaram escondidos. Quando todos os torcedores saíram, eles foram procurar pedras, mas não encontraram. Quando estavam no anel intermediário, viram o banheiro e tiveram a ideia de pegar os vasos sanitários. Cabral deu chutes nas privadas e Ewerton puxou as bacias. Eles foram para a parte do estádio virada para a Rua das Moças e viram que estava tendo outra briga. Nessa confusão, os torcedores da Jovem começaram a correr e eles perceberam que iam passar embaixo da arquibancada. Eles ficaram esperando a Torcida Jovem passar e então arremessaram as privadas. Everton teria ajudado a retirar as privadas e Cabral e Waldir as jogaram na direção dos torcedores”, esclareceu.



A Polícia Civil ainda informou que Luiz Cabral, que é de Olinda, mudou-se para o Rio Grande do Norte há 9 anos após passar em um concurso de agente de saúde. Ele morava na cidade de Passa-e-Fica e foi detido no município de Monte das Gameleiras. “Toda vez que ele vinha ao Recife, ficava hospedado na sede da Inferno Coral”, destacou Gleide Ângelo. Morador de Olinda, Everton foi pego após informações repassadas ao Disque-Denúncia Pernambuco. Já Waldir decidiu se entregar após ser convencido pela mãe. “Ele queria apagar as imagens do clube, onde eles aparecem. Foi o primeiro identificado, fugiu para Maceió. A mãe o convenceu a voltar”, relatou a delegada.

Os policiais também conseguiram as imagens que mostram os suspeitos entrando e saindo do estádio pelo portão 11. A testemunha-chave, que ajudou a esclarecer as investigações, foi um vendedor de picolé que ainda estava no estádio quando acabou o jogo e os viu deixar o campo juntos. “Eles já se conheciam. Disseram em depoimento que não sabia que haviam matado uma pessoa. Só ficaram sabendo ao chegar em casa e escutar em uma rádio. Mas isso foi um crime bárbaro, cruel e covarde. Como é que a pessoa vai jogar um vaso e não matar? A intenção de quem joga é matar. Também estamos estudando indiciá-los por outros crimes”, concluiu a delegada.

Após prestarem depoimento na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), eles foram encaminhados à sede do Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, onde ficarão à disposição da Justiça.
De acordo com as investigações, Everton e Cabral estavam envolvidos em outra briga ocorrida, ano passado, durante o jogo entre Santa Cruz e CRB, em Maceió. Nesta sexta, a polícia ainda fez uma operação na sede da Inferno Coral e levou um grupo à delegacia para colher depoimentos. No momento, não há outros suspeitos de envolvimento no crime, mas as diligências continuam e outras pessoas serão ouvidas, como integrantes da Torcida Jovem.

Entenda o caso

Paulo Ricardo Gomes da Silva morreu no dia 2 de maio após ser atingido por um vaso sanitário, na saída do jogo entre Paraná e Santa Cruz, pela Série B do Brasileirão. Imagens gravadas na área externa do estádio do Arruda mostram o momento exato em que os dois vasos são lançados.

Nas imagens das câmeras de segurança, ainda é possível ver os torcedores do Paraná sendo escoltados por policiais montados em cavalos. Os objetos foram arremessados de uma altura de 24 metros, de acordo com o Instituto de Criminalística (IC). O professor de física Beraldo Neto avaliou a altura e calculou que os vasos chegaram ao chão com um peso de 350 quilos, cada um.

Entre os feridos devido à queda dos vasos sanitários está um jovem de 21 anos que foi operado no Hospital Getúlio Vargas (HGV) e teve alta na segunda (5). A segunda vítima recebeu alta no sábado (3). Não há informações sobre o estado de saúde do terceiro ferido.

O corpo de Paulo Ricardo foi enterrado no domingo (4), após velório na capela do Cemitério de Santo Amaro. Durante o velório, os pais do rapaz passaram mal e precisaram ser retirados do local. Paulo era soldador e trabalhava no Estaleiro Atlântico Sul, em Suape, no Litoral Sul de Pernambuco.

O departamento jurídico do Santa Cruz conseguiu, na quarta (7), derrubar a punição imposta pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e terá de volta a torcida no duelo contra o Luverdense, no próximo sábado (10), na Arena Pernambuco, Grande Recife. O clube havia sido punido com dois jogos de portões fechados e a interdição preventiva do Arruda.

Durante as investigações, a polícia ainda chegou a ouvir um adolescente que postou mensagens em uma rede social comemorando a morte do torcedor. Ele faria parte de uma torcida organizada do Santa Cruz. O menor prestou depoimento no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no sábado (3), mas acabou sendo liberado.


Do G1 PE

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