quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Do blog do Magno Martins: Coluna da quinta-feira

UM MONSTRO SAGRADO - A notícia da morte do poeta João Paraibano, o mais pernambucano de todos os paraibanos que escolheram este pedaço de chão nordestino para viver, emudeceu o som da viola, engasgou a voz dos repentistas pajeuzeiros, silenciou o campo, entristeceu a alma dos seus admiradores e levou o Pajeú às lágrimas.

Tem gente que não devia morrer nunca. Com a sua viola inseparável, João Paraibano era um desses. Repentista de mão cheia, improvisador que a partir de um mote criava espontaneamente um poema, ele cantava a natureza, os animais e sua gente.

Era um gênio em qualquer dos gêneros do improviso: sextilhas, décimas, oitavas, martelos e o galope a beira mar. Simples, bem inspirado, seguro na estruturação do verso, estava inserido no rol dos grandes nomes da cantoria nordestina, um dos maiores astros permanentes no palco dos festivais de cantoria da região.

Sabia temperar com emoção e graça seus versos doces e espontâneos, que entravam em nossos ouvidos como um canto de sereia, enfeitiçando e seduzindo. Com o seu canto, fez da dor sertaneja o riso, da seca o grito dos excluídos. Sua poesia, como dizia, vinha como uma flor da ventania.

João Paraibano tinha uma verve só comparável aos grandes menestréis da poesia, trovões do improviso, como os saudosos Lourival Batista, Pinto do Monteiro, João Furiba, Otacílio Batista, Jó Patriota, Manoel Filó e Cancão. Na euforia das primeiras chuvas, quando o companheiro de viola lhe provocou sobre a seca, João Paraibano beliscou as cordas da viola e cantou assim:

“Cai a chuva no telhado/ a dona pega e coloca/ uma lata na goteira/ onde a água faz barroca/ cada pingo é um baião/ que o fundo da lata toca.” “Vi o fantasma da seca/ Ser transportado numa rede/ Vi o açude secando/ Com três rachões na parede/ E as abelhas no velório/ Da flor que morreu de sede.

Um companheiro de cantoria lembrou-lhe a chegada da velhice, dada a presença dos cabelos brancos que já lhe enfeitavam a fronte e apresentou o seguinte mote: “A velhice vem chegando/ é preciso ter cuidado!”

Paraibano respondeu magistralmente: “Estou ficando cansado/ o corpo sem energia.../ Jesus pintou meu cabelo no final da boemia/ pintou mas nem perguntou/ qual era a cor que eu queria!”

Numa cantoria em que era saudada a chegada da chuva no sertão, improvisou alegre:

“Quando esbalda o nevoeiro/ rasga-se a nuvem, a água rola/ um sapo vomita espuma/ onde o boi passa se atola/ e a fartura esconde o saco/ que a fome pedia esmola.”

João Paraibano cantou com maestria o seu sertão do Pajeú, especialmente a sua amada Afogados da Ingazeira, com quem fez um casamento indissolúvel.

 'Uma vida vivida no sertão/ uma fruta madura já caindo/ um relâmpago na nuvem se abrindo/ um gemido do tiro do trovão/ meia dúzia de amigos no salão/ nem precisa de um piso de cimento/ minha voz, as três cordas do instrumento/ o meu quadro de louco está pintado/ O poeta é um ser iluminado/ que faz verso com arte e sentimento”.

Sobre a saudade:  'Vou no trem da saudade todo dia/ Visitar o lugar que eu fui criado/ No vagão da saudade eu tenho ido/ Ver a casa que antes nasci nela/ Uma lata de flores na janela/A parede de taipa e o chão varrido/ Milho mole esperando ser moído/ Numa máquina com o ferro enferrujado/ Que apesar da preguiça e do enfado/ Mãe botava de pouco e eu moía/ Vou no trem da saudade todo dia/ Visitar o lugar que fui criado”.

João Paraibano amava o que fazia, a poesia, que no seu canto se fez belo e forte. João era a beleza que se ouve no silêncio. A sua poesia penetrava no vazio das nossas almas e nos fazia feliz. João era aquele poeta que os demais poetas olhavam para ele para aprender de novo. Ele desencaixotava emoções, recuperava sentidos.

Só veem as belezas do mundo, através do canto e da poesia, aqueles que têm belezas dentro de si, como João Paraibano.

Descansa em paz, poeta!

GENIALIDADE – Em entrevista, ontem, ao Frente a Frente, o prefeito de Tabira, Sebastião Dias (PTB), que fez dupla com João Paraibano durante 36 anos, afirmou que o parceiro era um gênio do improviso. “Com ele, ganhei muitos prêmios por este país afora. Ele nos fará uma grande falta, ficou um vazio indescritível. O Pajeú perdeu um dos seus maiores repentistas”, afirmou.

RAZÃO DA MORTE – A polícia trabalha com a hipótese de que o vice-prefeito de Cumaru, Marcos de Neco (PSD), tenha sido assinado por motivos financeiros, mais especificamente por questões relacionadas à agiotagem. Está descartada, portanto, a possibilidade de atentado político.

REAÇÃO TUCANA – O furacão Marina não é surpresa para Aécio. Um membro de sua campanha conta que ele foi aconselhado, ano passado, a mudar de atitude e de agenda. A ideia era tentar incorporar à sua candidatura o espírito dos protestos de junho. Mas Aécio não quis adotar a rebeldia no seu discurso. Apostou e aposta na mudança segura. Consta que essa divergência fez o cientista político Renato Pereira a deixar a campanha, revela Ilimar Franco.

AFASTAMENTO – Candidato a governador pelo PTB, o senador Armando Monteiro promoveu a primeira mudança no seu guia eleitoral, com a saída do estrategista argentino José Maria Cravero, que cuidava de pesquisas. Veio para a campanha por indicação do marqueteiro Marcelo Simões, que já trabalhou por muito tempo com Duda Mendonça.

SALVADORA, NÃO!
Em discurso no Senado, ontem, Jarbas disse não há a “intenção de transformar Mariana em ‘salvadora da Pátria’, “mas sim promover mudanças com responsabilidade, compromisso e respeito ao povo brasileiro”. Para o senador, o modelo petista se esgotou e “não tem a capacidade de encontrar novas soluções para problemas que se arrastam há uma década. O país não aquenta mais quatro anos de governo do PT”, afirmou.

CURTAS

FREANDO – A pesquisa do Ibope parece ter apontado, ontem, uma estagnação nos números de Marina Silva, que vinha subindo feito um foguete. Dilma aparece na frente com 37%, Marina vem em seguida com 33% e Aécio tem apenas 15%. No segundo turno, Marina bate Dilma por uma diferença de sete pontos.

PESSOAL – A assessoria do senador Armando Monteiro, candidato a governador pelo PTB, disse que o estrategista argentino José Maria Cravero não foi afastado e que saiu por problemas pessoais, já que vinha há muito tempo alimentado o desejo de voltar para São Paulo.

PERGUNTAR NÃO OFENDE: O Ibope traz, hoje, no Bom dia, PE, mudanças na corrida para governador?


'O desejo que se alcança deleita a alma, mas apartar-se do mal é abominável para os insensatos'. (Provérbios 13-19)

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