Fazendeiro José Maria Barbosa chega à sede da PF, no Recife, onde presta depoimento (Foto: Luna Markman / G1) |
Fazendeiro José Maria Barbosa
presta depoimento à PF, no Recife.
Thiago Faria Soares foi
assassinado a tiros em 14 de outubro de 2013.
O suspeito de mandar matar um
promotor de Justiça de Itaíba, no Agreste de Pernambuco, em outubro do ano
passado, se apresentou à Polícia Federal (PF), nesta terça-feira (28). O
fazendeiro José Maria Pedro Rosendo Barbosa, 55 anos, estava foragido desde a
época do crime e falou à imprensa que chegou a dormir em cemitérios para escapar
da prisão.
José Maria chegou à sede da PF
por volta das 18h, acompanhado pela esposa e por advogados. "Eu estou me
apresentando espontaneamente. Isso era para ter acontecido bem antes, mas a
Polícia Civil nunca quis me ouvir. O delegado da Polícia Federal [Alexandre
Alves], na hora que chegou em Águas Belas, que procurou minha família, meus
advogados, eu me dispus a me apresentar para contribuir com as
investigações", disse.
Na época do crime, ele tinha
cabelos bem grisalhos e apareceu nesta terça com os fios pintados. A tintura
estava sendo usada para dificultar a identificação. A PF assumiu o caso em
setembro passado, a pedido do Ministério Público Federal e por ordem do
Superior Tribunal Federal. O delegado Alexandre Alves, que é de Brasília, assumiu
o caso em caráter especial.
Fazendeiro chegou acompanhado da esposa e de advogados; após depor, ele ficará preso no Cotel (Foto: Luna Markman / G1) |
O suspeito não informou os locais
onde esteve escondido nos últimos meses. "Eu estava na pior situação que
vocês podem crer, não é fácil deixar a família e viver da maneira que vivi um
ano por causa da falta de interesse, de contribuição do estado. Cheguei a
dormir várias vezes dentro de cemitério, dentro do mato e não tinha necessidade
de nada disso, porque se o delegado [da Polícia Civil] tivesse mandado uma
intimação, eu teria comparecido à delegacia. Nunca quiseram me ouvir",
comentou.
José Maria Pedro Rosendo Barbosa
também afirmou que votou no primeiro e segundo turno, o que indica que esteva
em seu domicílio eleitoral por duas vezes. O fazendeiro também afirmou que era
inocente. "Eu vou ver o que vão me perguntar [no interrogatório], estou
pronto para responder. Quero ouvir por que razão estou sendo acusado, porque
nunca existiu motivo de eu praticar isso que estão me acusando. Eu nunca dei um
bom dia [ao promotor], não conhecia ele", apontou.
O suspeito recebou voz de prisão
na sede da PF em cumprimento a um mandado temporário, que tem validade de 30
dias, podendo ser renovado pelo mesmo período. Ele vai ser ouvido e depois
seguirá para o Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, na Região
Metropolitana do Recife. Ele ficará em uma área reservada que já foi acertada
entre a Polícia Federal e a Secretaria de Defesa Social. Como a investigação
corre em segredo de Justiça, o teor do depoimento não será revelado.
'Mais protegido'
Pela manhã, o advogado do
fazendeiro, Anderson Flexa, havia informado que José Maria tinha decidido depor
porque se sente mais protegido depois que a Polícia Federal assumiu o caso, em
setembro, a pedido do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e por ordem do
Superior Tribunal de Justiça (STJ). “A Polícia Federal deixou bem claro que, em
suas investigações, não vai descartar qualquer tese, qualquer linha de
investigação. Isso para gente é confortante e é a certeza que nos passa que o
depoimento de Zé Maria pode ser usado, agora, na tentativa de elucidação do
caso”, explicou.
O crime aconteceu no dia 14 de
outubro de 2013, na PE-300. Para a Polícia Civil, que iniciou a investigação do
caso, foi o fazendeiro José Maria quem contratou o cunhado, Edmacy Ubirajara,
para matar Thiago Faria. A motivação envolveria uma disputa pelas terras da
Fazenda Nova. Ubirajara chegou a ser preso – passou dois meses no Centro de
Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife. O
advogado de defesa conseguiu que o acusado saísse da prisão para responder pelo
homicídio em liberdade.
Promotor trabalha no comarca de Itaíba, no Agreste (Foto: Facebook/Arquivo Pessoal) |
O promotor foi morto no Agreste,
quando seguia de Águas Belas para Itaíba, cidade onde trabalhava. Quatro
cartuchos de espingarda 12 foram encontrados no carro dele.
A noiva, Mysheva Martins, e o tio dela também
estavam no veículo, mas não ficaram feridos. Segundo simulação ocorrida em 23
de dezembro, os três foram perseguidos por um carro. O homem que estava no
banco de trás desse veículo atirou com uma espingarda 12, acertando o promotor.
Mysheva saiu do carro do noivo e se protegeu no barranco; o tio dela também
saiu do veículo e andou pelo acostamento. Os atiradores voltaram e o homem que estava
atrás atirou outras três vezes, antes de deixar o local do crime. Mysheva e o
tio escaparam ilesos.
A Polícia Civil afirma que José
Maria encomendou o assassinato porque o promotor teria ajudado a noiva a
comprar a sede da Fazenda Nova em um leilão da Justiça Federal. José Maria
perdeu a posse e teve que sair dessa fazenda. Em entrevista exclusiva à TV
Globo, na época, o fazendeiro negou o crime. O advogado dele, Anderson Flexa,
garantiu que seu cliente irá para a prisão, se assim a Justiça decidir. "Ele
está disposto a isso. A única exigência é que garantam a integridade física
dele", concluiu.
Conflito
Em agosto deste ano, o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) determinou a imediata transferência de
responsabilidades no caso do promotor para os órgãos federais. Para o ministro
relator, Rogerio Schietti Cruz, é notório um conflito entre Polícia Civil e
Ministério Público de Pernambuco (MPPE). A Polícia Federal já estava a par de
alguns atos urgentes, depois de liminar, enquanto tal determinação não era decidida.
O pedido de federalização foi feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo
Janot.
Para o STJ, "o crime estaria
inserido no contexto de atuação de grupos de extermínio na área, conhecida como
Triângulo da Pistolagem". Parentes da noiva do promotor já foram alvo de
denúncias e investigações sobre este tipo de crime na região.
Do G1 PE
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