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Uma equipe da Universidade de
Louisiana State, nos Estados Unidos, encontrou uma nova forma de usar a
estratégia. Adotando uma droga epigenética já conhecida, o grupo liderado pelo
pesquisador James Hill, do Centro de Ciências da Saúde da instituição,
conseguiu silenciar a reativação do vírus do herpes no organismo de animais,
abrindo a possibilidade para um novo tratamento da infecção em humanos
futuramente.
Acredita-se que cerca de 90% da
população mundial tenha a forma latente do vírus, que fica abrigada,
normalmente, no interior do núcleo celular, onde também está armazenado o DNA.
Ali, ele fica escondido e distante de qualquer ação do sistema imune ou de
terapias. Por um motivo ainda não esclarecido, em algumas pessoas, o
micro-organismo se torna reativo, e a doença se manifesta de tempos em tempos.
Estudos anteriores mostraram que
uma proteína chamada LSD1, encontrada também na célula hospedeira, parecia
envolvida nesse processo, ao modificar determinadas proteínas do hospedeiro que
controlam o acesso ao DNA. Com essa informação em mãos, os cientistas
norte-americanos decidiram aplicar em camundongos, coelhos e porcos infectados
com o herpes-vírus uma droga chamada tranilcipromina, conhecida por sua
capacidade de bloquear a atividade da LSD1. A consequência foi o impedimento da
manifestação dos sintomas ou a redução deles.
Os resultados, publicados na
edição de hoje da revista Science Translational Medicine, indicam que, mesmo
durante a latência, o material genético do vírus está sujeito a alterações
epigenéticas que podem ser reguladas com as drogas. Os autores do trabalho
acreditam que, ao bloquear um componente celular, em vez de um viral, o
tratamento pode minimizar a evolução do vírus resistentes às drogas.
O tratamento tem como alvo um
estágio muito inicial do ciclo infeccioso e sintomas reduzidos da doença, além
do derramamento (libertação de partículas virais) e recidiva da lesão. Se esses
dados forem confirmados em humanos, as terapias epifarmacêuticas podem fornecer
uma área terapêutica promissora para o tratamento da doença ainda muito
prevalente ao longo da vida.
Estratégia promissora
Segundo Hill, seu trabalho mostra
uma análise abrangente da inibição epigenética de infecção viral e reativação
de piscinas latentes. Essa demonstração seria um contraste para as abordagens
atuais de combate a infecções virais como as que tentam purgar reservatório
latentes, como para o HIV, com a reativação do vírus. “A supressão epigenética
pode representar uma abordagem aos antivirais com enorme potencial derivada de
estudos de epigenética viral e o surgimento do campo de epifarmacêuticos”,
acredita o cientista, lembrando que terapias epigenéticas estão sendo
rapidamente desenvolvidas como tratamentos de câncer.
Após a infecção inicial, o vírus
do herpes entra em um estado latente em células nervosas sensoriais e
periodicamente acontece a reativação, que produz a doença. Normalmente, quando
manifestada, provoca lesões orais ou genitais recorrentes e pode contribuir
para a doença ocular ceratite herpética — uma das principais causas de
cegueira. Mesmo sem sintomas, as pessoas infectadas podem lançar e transmitir o
vírus. Os tratamentos atuais, que têm como alvo as proteínas virais, não
controlam efetivamente o derramamento ou a reativação do vírus latente. Para
Nancy Bellei, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e professora da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a tentativa de tratar o vírus com
drogas epigenéticas é bastante interessante e inovadora.
“Imagine se conseguíssemos pegar
um paciente que já teve herpes no passado, sujeito, portanto, a uma reativação,
e administrássemos essa droga. Ela iria à célula do paciente, entraria no
núcleo e encontraria o material genético que não é de funcionamento celular do
paciente, mas sim inativo, chamado heterocromatina. E, nesse meio, silenciaria
esse vírus do herpes”, projeta Bellei, ainda que alerte para a necessidade de
muitos outros estudos até esse ponto. Ela ressalta também que outra potencial
vantagem da terapia é que esse silenciamento seria transmitido quando a célula
se dividisse. “Se isso não acontecesse, na hora que ela se dividisse, o vírus
seria reativado.” O tratamento seria, então, uma garantia de que o
micro-organismo ficaria sempre inativo.
Esconderijo
Um dos maiores desafios hoje na
busca pela erradicação do vírus da imunodeficiência humana (HIV) do organismo
de pessoas sob tratamento está nos chamados reservatórios ou “santuários”. Eles
são compostos de células infectadas afastadas da corrente sanguínea e com o
vírus em estado latente. Juntas, essas duas condições fazem com que elas não
sejam atingidas pelos antirretrovirais, contribuindo para a manutenção da
infecção.
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