segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Derivados de petróleo made in Pernambuco

Gás liquefeito de petróleo (GLP), nafta, resíduo atmosférico e óleo diesel já estão sendo produzidos pela Abreu e Lima

Não fosse a Operação Lava Jato e o mar de lama derramado sobre o nome da Petrobras, os últimos dias teriam sido de festa no Complexo Industrial e Portuário de Suape. Depois de nove anos de construção e décadas de espera, a Refinaria Abreu e Lima (Rnest) começou a produzir derivados. Saíram da Unidade de Destilação Atmosférica (UDA) da primeira refinaria de petróleo de Pernambuco gás liquefeito de petróleo (GLP), nafta, resíduo atmosférico e, claro, óleo diesel, a razão de ser do empreendimento, que está custando aos cofres da estatal US$ 18,5 bilhões, oito vezes mais que os US$ 2,5 bilhões inicialmente previstos.

Segundo a (discreta) nota divulgada pela Petrobras no último sábado, os produtos foram enviados para armazenamento nos tanques e esferas da refinaria. Além dos derivados, foi produzido também gás combustível, que será utilizado nos processos da própria unidade. Quando estiver operando com força total, no próximo ano, a primeira refinaria a ser construída no Brasil desde 1980 terá capacidade para processar 230 mil barris de petróleo por dia e será responsável por 17% de toda a produção nacional de óleo diesel. A Abreu e Lima será a unidade da Petrobras com maior taxa de conversão de petróleo cru em diesel (70%).

Mas por enquanto a Rnest vai trabalhar em um ritmo mais devagar. Tudo por conta da demora na construção, o que levou os órgãos regulatórios a liberarem as licenças de operação com algumas ressalvas. O “ok” da Agência Nacional do Petróleo (ANP) foi dado com uma limitação da capacidade de processamento da unidade em 11.765 metros cúbicos por dia, o equivalente a 67% da capacidade nominal da refinaria. A refinaria só poderá operar com carga máxima quando colocar em “perfeito funcionamento” a Unidade de Abatimento de Emissões, responsável pelo controle de resíduos. A Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) já tinha feito a mesma ressalva.

O início da operação da Rnest deveria ter acontecido um mês atrás. “A Rnest vai começar a produzir diesel no dia 4 de novembro”, declarou em agosto José Carlos Cosenza, diretor de Abastecimento da Petrobras. Não deu. Houve atraso nas obras e as licenças necessárias para iniciar o processo também não saíram dentro do tempo previsto. Agora que o petróleo finalmente começou a ser transformado em derivados, as atenções se voltam para a partida do segundo trem de refino – que é como o conjunto de unidades de produção costuma ser chamado pelos representantes da estatal.

A previsão é que a “partida” ocorra até maio. Mas, até lá, a Petrobras precisa desatar alguns nós. O primeiro deles diz respeito aos problemas trabalhistas. O consórcio Alumini desistiu da obra alegando que não estava recebendo o pagamento pelos serviços. Com isso, 4,5 mil trabalhadores aguardam para receber. Outras empresas prestadoras de serviço também reclamam que estão há meses sem ver a cor do dinheiro. A estatal vem tocando as obras sozinha da Abreu e Lima, depois que viu naufragar a “parceria” que tinha montado com a venezuelana PDVSA.

Pelo acordo firmado entre os presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, o Brasil assumiria 60% dos gastos e a Venezuela ficaria com os 40% restantes. Os dois lançaram a pedra fundamental em 16 de dezembro de 2005. Depois de promessas de amor eterno, idas e vindas, os vizinhos desistiram. A morte do presidente venezuelano, em março de 2013, pesou na decisão. Apontada como o “fato econômico” mais importante da história de Pernambuco, a Refinaria Abreu e Lima chegou a ser disputada por nove estados. Ficou em Suape por conta da infraestrutura existente no complexo.

Diario de Pernambuco

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