Os funcionários da construtora
Mendes Júnior, nas obras de Transposição do Rio São Francisco, já começaram a
sentir os efeitos da operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investiga
esquema de corrupção nos contratos da Petrobrás. Sem crédito na praça e sem
receber da estatal, a construtora não fez o pagamento da segunda parcela do 13º
salário, previsto para 20 de dezembro, para os cerca de 500 empregados que
continuam na obra.
De férias coletivas desde o dia
18, os funcionários voltaram ao trabalho na segunda-feira (07), e continuam
parados. "No escritório da empresa (em Salgueiro-PE), dizem que não há
dinheiro nem para comprar combustível para colocar nos veículos e equipamentos
da obra. Por isso, os funcionários ficam de braços cruzados sem saber o que
fazer", afirma o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias
de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem em Geral no
Estado de Pernambuco (Sintepav), Luciano Silva.
Além de entrar com uma ação na
Justiça reivindicando o pagamento do 13º salário e por dano moral coletivo, o
sindicato fará uma mobilização na BR-232 para protestar contra a situação nesta
quinta-feira (08). "A empresa disse que fará o depósito hoje
[quinta-feira], quando vence também o salário dos funcionários. Mas ela está
falando isso todos os dias", diz Silva. Segundo ele, nos últimos meses, a
Mendes Júnior demitiu quase 2.500 pessoas no canteiro de obras do lote 8, que
deverá ser concluído apenas em 2016. "Tem muita coisa para fazer nesse
trecho." Procurada, a Mendes Júnior não respondeu ao pedido de entrevista.
Fontes do setor de construção,
que preferem não se identificar, afirmam que a situação da empresa, como a de
outras construtoras envolvidas no escândalo de corrupção, é bastante delicada,
com risco até de ter de pedir recuperação judicial. Só na Mendes Júnior
Engenharia, o valor de debêntures previsto no balanço de 2013 somava R$ 1,91
bilhão.
Na época, o grupo tinha 40 projetos
em andamento, como a Transposição do São Francisco, Rodoanel Norte de São Paulo
e o Porto de Santana (AP). Não é a primeira vez que a Mendes Júnior passa por
maus bocados. No início da década de 90, com dívidas e sem poder disputar
licitações por causa de uma pendência com a Chesf, a empresa quase quebrou. Só
em 1998 a companhia começou a engrenar com novos contratos para a construção de
rodovias, hidrelétricas e na área de petróleo e gás.
Na opinião de especialistas, o
risco é que as obras de outras áreas tocadas pelas construtoras envolvidas na
Lava Jato sejam atingidas. Com caixa debilitado, as empresas vão passar por
momentos complicados, sem dinheiro até para fazer a rescisão dos funcionários,
afirma um executivo do setor.
Rebaixamento
Outra empresa que corre o risco
de entrar em recuperação judicial é a OAS, alerta a agência de classificação de
risco Fitch Rating. Na quarta-feira (07), pela segunda vez em menos de uma
semana, a agência rebaixou a nota de crédito da empresa. Desta vez, de C para
RD, o que significa que a empresa está inadimplente, mas legalmente ainda não
entrou em processo de recuperação judicial.
A revisão ocorreu porque a
empresa não fez o pagamento de principal e juros relacionados à nona emissão de
debêntures, de R$ 103 milhões, com vencimento em 5 de janeiro. Ela também não
pagou US$ 16 milhões de juros de um título de US$ 400 milhões com vencimento em
2021.
Estadão Conteúdo
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