As decisões tomadas na madrugada
do dia 2 de abril de 1964, há 50 anos, mudaram o curso da história do Brasil.
Marcada pela convocação às pressas, a sessão extra do Congresso Federal que
declarou vago o cargo de presidente da República, ocupado por João Goulart,
permitiu a instalação do regime militar no Brasil. Único pernambucano presente
na sessão que permanece vivo, o ex-deputado federal e ex-senador Ney Maranhão,
atualmente com 86 anos, lembra que houve "rebuliço".
(A renúncia do presidente Jânio Quadros, em
1961, desencadeou uma série de fatos que culminaram em um golpe de estado em 31
de março de 1964. O sucessor, João Goulart, foi deposto pelos militares com
apoio de setores da sociedade, que temiam que ele desse um golpe de esquerda,
coisa que seus partidários negam até hoje. O ambiente político se radicalizou,
porque Jango prometia fazer as chamadas reformas de base na "lei ou na
marra", com ajuda de sindicatos e de membros das Forças Armadas. Os
militares prometiam entregar logo o poder aos civis, mas o país viveu uma
ditadura que durou 21 anos, terminando em 1985)
“No dia, fomos convocados às
pressas para uma sessão de madrugada. Eu, particularmente, já sabia o que
estava acontecendo, pelo que estava se desenhando politicamente no Brasil.
Recebemos a notícia que Jango tinha preferido deixar o governo e houve um ‘rebuliço’
danado, discursos acalorados, mas não era uma ‘cachorrada’, como hoje temos
aí”, lembrou.
A reunião dos deputados e
senadores teve início por volta das 2h, quando o presidente do Senado, Auro
Moura Andrade, declarou que João Goulart tinha deixado cargo – mesmo com uma
carta anunciando que ele ainda estava no Brasil, no Rio Grande do Sul, buscando
apoios políticos. Amigo íntimo de Jango, Ney Maranhão diz que acompanhou todos
os passos que levaram às mudanças políticas drásticas instauradas em 1964.
Declarada a vacância do cargo,
Ranieri Mazzili, então presidente da Câmara dos Deputados, assumiu a
Presidência. Em 11 de abril, o Congresso ratificou a indicação do chefe do
Estado-Maior do Exército, Humberto de Alencar Castelo Branco, como novo
presidente do Brasil.
Membro do Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB), Maranhão acredita que, diante da forma como os conflitos
vinham tomando forma no Brasil, a ditadura militar acabou se tornando
inevitável. “Na época, eu já previa que toda a situação não ia terminar bem.
Jango queria soprar, assobiar e chupar cana ao mesmo tempo”, disse, se
referindo à falta de conciliação política no governo.
Considerando Castelo Branco uma
pessoa “preparada”, Maranhão seguiu a carreira de deputado federal por
Pernambuco nos primeiros anos de ditadura como membro da Arena. Entretanto, com
o Ato Institucional 5 (AI-5), ele teve seu mandato cassado, mesmo sem ter
muitas ideias divergentes dos militares.
A principal razão foi por não
concordar com o afastamento do então governador de Goiás, Mauro Borges, do
poder. Para fazer isso, os militares precisavam do apoio do Congresso.
“Chegaram a pedir meu voto, mas sou fiel ao que acredito. Se naquele momento eu
não concordava, não podia votar”, disse.
Em 2012, Ney Maranhão recebeu uma
homenagem simbólica no Congresso, com a “devolução” do cargo de deputado. Após
ter os direitos políticos reestabelecidos, 20 anos depois da cassação, Maranhão
foi eleito senador na república e atuou no período de 1988 a 1995.
Após todos os anos de experiência
do regime militar, a posição do ex-parlamentar é que foi uma época
“necessária”, mas com muitas injustiças e momentos ruins. “O que passou, a gente não guarda mágoa. Em
coisa ruim, a gente não pensa muito”.
Com dois filhos, três netos e um
bisneto, Ney Maranhão se mantém ativo na política brasileira. Ele atua ainda
como assessor especial do senador alagoano Fernando Collor (PTB-AL), em
Brasília, e também atua nas relações institucionais entre o Brasil e a China.
Na época em que foi parlamentar, Ney era famoso por ser o "senador
boiadeiro", pois sempre andava com um terno branco, sandália de couro e
com um revólver, que mantém na cintura até hoje.
Do G1
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