domingo, 21 de novembro de 2010

Caixa perdeu mais de R$ 320 mi no Panamericano

Participação do governo federal no banco, de 35,5%, era de mais de R$ 740 milhões

A Caixa Econômica Federal perdeu mais de R$ 320 milhões na compra de uma participação no Banco Panamericano, do empresário e dono da rede de TV SBT, Silvio Santos.

Quando a Caixa comprou 35,5% do Panamericano por R$ 740 milhões, em novembro de 2009, o Panamericano valia R$ 2,1 bilhões na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). Na última quinta-feira (18), o chamado valor de mercado (o valor total das ações da empresa) havia desabado para R$ 1,2 bilhão.

Ou seja, essa participação de 35,5% agora vale pouco mais de R$ 420 milhões - o que significa que a Caixa perdeu mais de R$ 320 milhões no negócio.

Uma das várias questões que intrigam o mercado no caso Panamericano é o fato de o banco ter conseguido dois grandes aportes de capital quando aparentemente já enfrentava problemas.

Segundo o Banco Central, há indícios de que as fraudes contábeis começaram em 2006. Ainda assim, o Panamericano conseguiu levantar quase R$ 800 milhões em um IPO (Oferta Pública Inicial de Ações, na sigla em inglês) realizada em novembro de 2007.

Somando a compra pela Caixa e o IPO, chega-se a cerca de R$ 1,5 bilhão.

A abertura de capital foi coordenada por três instituições bastante ativas no mercado de capitais brasileiro: UBS Pactual (hoje BTG Pactual), Bradesco BBI e Itaú BBA. Antes de efetuar a compra de parte do Panamericano, a Caixa foi assessorada pelo Banco Fator e pela KPMG.

Principal coordenador do IPO, o BTG Pactual diz que "seguiu os mesmos procedimentos adotados nos demais processos de abertura de capital". O Itaú BBA afirma "que se serve de informações públicas e auditadas como base para todos os negócios que assessora".

O Bradesco BBI alega que "faz parte dos processos de IPO um relatório de empresa de auditoria especializada, o que ocorreu no caso em questão [foi a Deloitte]". A KPMG diz que "os limites do trabalho executado, bem como das informações disponibilizadas no ‘data room’ [um banco de dados com informações do Panamericano], não permitiriam a detecção dos fatos ora noticiados pela imprensa como irregularidades".

O diretor do banco de investimentos do Fator, Venilton Tadini, afirma que a instituição se baseou nas informações fornecidas pelo Panamericano. Segundo ele, o "escopo" do trabalho era fazer a chamada due diligence (análise e avaliação detalhada de dados e documentos de uma empresa) a partir de "informações primárias apresentadas pelo Panamericano".
Como tais informações se têm revelado falsas, Tadini afirma que o Fator estuda processar o Panamericano.

Garantia

O FGC (Fundo Garantidor de Crédito) atendeu ao pedido do Grupo Silvio Santos e concedeu um empréstimo de R$ 2,5 bilhões, para que o Panamericano saneasse suas contas. O fundo é uma reserva guardada pelos bancos brasileiros para garantir crédito a acionistas e clientes em caso de problemas com algum associado.

Em troca, o FGC exigiu todo o patrimônio do apresentador como garantia - e compromisso de que as empresas sejam vendidas nos próximos anos até a liquidação da dívida. Silvio foi atendido e poderá vender o SBT no último dos dez anos que terá para devolver o dinheiro. O único pedido de Silvio Santos durante os 26 dias em que negociou socorro financeiro foi a permissão para vender o SBT por último.


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