terça-feira, 5 de julho de 2011

HÁ 87 ANOS NASCIA OSMAN DA COSTA LINS

“A lenta rotação da água, em torno de sua vária natureza. Sua oscilação entre a paz dos copos e as inundações. Talvez seja mineral; ou um ser mitológico; ou uma planta, um liame, enredando continentes, ilhas. Pode ser um bicho, peixe imenso, que tragou escuridões e abismos, com todas as conchas, anêmonas, delfins, baleias e tesouros naufragados. Desejaria ter, talvez, a definição das pedras; e nunca se define. Invisível. Visível. Trespassável. Dura. Amiga. Existem os ciclones, as trombas marinhas. Golpes de barbatanas? E também as nuvens, frutos que, maduros, tombam em chuvas. O peixe as absorve e cresce. Então este peixe, verde e ramal, de prata e sal, dele próprio se nutre? Bebe a sua própria sede? Come sua fome? Nada em si mesmo? Não saberemos jamais sobre este ente fugidio, lustral, obscuro, claro e avassalador. Tenho-o nos meus olhos, dentro das pupilas. Não sei portanto se o vejo; se é ele que se vê.”


Do conto Retábulo de Santa Joana Carolina, uma das narrativas do livro Nove Novena.

Osman Lins nasceu em Vitória do Santo Antão, filho de um alfaiate e de uma dona de casa, que morreu logo depois de seu nascimento. A ausência da mãe foi compensada por um círculo familiar de grande afetividade, liderado por sua avó paterna.

Cursou o primário de 1932 a 1935, no Colégio Santo Antão. Ao terminar o ginásio, realizado no período 1936-1940 no Ginásio de Vitória, impõe-se para ele a necessidade de deixar a cidade natal que pouco podia lhe oferecer em termos de estudos. Muda-se para Recife, em 1941, quando consegue o primeiro emprego, como escriturário na secretaria do, então, Ginásio de Recife. Ingressou no curso de finanças. Nesta época começou a trabalhar no Banco do Brasil. Posteriormente estudou dramaturgia na Universidade do Recife.


A essas alturas, já era habilitado em datilografia, curso que finalizou junto com o ginásio. Nesse mesmo ano, começam a surgir, nos suplementos da capital pernambucana, suas primeiras experiências no campo da ficção (”Menino Mau” e “Fantasmas…”) .

Em 1943, inicia-se um longo período em que suas preocupações literárias, pelo menos publicamente, são deixadas de lado, quando ingressa por concurso no Banco do Brasil. Segue o curso de Finanças da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Recife (1944-1946).
É do conhecimento de poucos que, concomitantemente aos estudos universitários, dedica-se à composição de um romance, que lhe consome mais dois anos.

Chega a terminá-lo, mas não o edita. Isso não significa o abandono da literatura. Ao contrário, foi uma espécie de rito de passagem, em que o escritor praticava o exercício da palavra, com apurado senso crítico.
Em fins dos anos 1940, Osman Lins casou-se com Maria do Carmo, com quem teria três filhas: Litânia, Letícia e Ângela. Em 1950 ganhou um concurso literário com o conto “O Eco”, mas sua estréia na ficção se deu com a publicação de seu primeiro romance, “O Visitante”, em 1955. Dois anos depois publicou “Os Gestos” e em seguida “O Fiel e a Pedra”.

Sua primeira peça teatral a ser encenada foi “Lisbela e o prisioneiro”, adaptada com sucesso para o cinema em 2003.
Vídeo – Lisbela e o Prisioneiro – Trailer

No início dos anos 1960, Osman Lins viveu na Europa, como bolsista da Aliança Francesa. De volta ao Brasil, transferiu-se para São Paulo. Em 1964, já separado de sua primeira mulher, casou-se com a escritora Julieta de Godoy Ladeira. Publicou, em 1966, “Nove, Novena” (contos), “Um Mundo Estagnado” (ensaios) e mais uma peça de teatro, “Guerra do Cansa-Cavalo”.

Em 1970 tornou-se professor universitário, ensinando literatura brasileira. Obteve também o grau de doutor em Letras, com uma tese sobre o escritor Lima Barreto. Em 1973 Lins publicou o enigmático romance “Avalovara”, considerado uma de suas principais obras e traduzido para diversas línguas.
Este romance de 1973 assinala o ápice do percurso literário do pernambucano Osman Lins.

Tendo como ponto de partida a intersecção entre uma espiral e um quadrado, nos quais se inscreve uma curiosa frase em latim, o romance cria uma intrincada trama de texto e mundo, em que a imagem dos nomes sobrepõe-se a imagem dos seres e das coisas, compondo um terceiro destino que cabe necessariamente ao homem decifrar.

Avalovara intercala oito temas narrativos que atravessam tempos e espaços distintos, de Amsterdã a Recife, de Recife a Roma Antiga, daí a São Paulo e vice-versa, numa narrativa notável, que ambiciona abarcar o mundo e a linguagem em sua totalidade. Neste mergulho no cerne da linguagem, o ritmo poético precede e ordena os nexos narrativos, num casamento entre prosa e poesia que marcou o romance brasileiro contemporâneo.

Poucos anos depois, pediu exoneração da Universidade, desencantado com a qualidade do ensino brasileiro.
É também autor de “Guerras sem Testemunhas”, livro-tese, onde discorre sobre as atividades e os problemas enfrentados pelo escritor.
Seu último romance foi “A Rainha dos Cárceres da Grécia”, publicado em 1976. Osman Lins colaborou com diversos órgãos de imprensa e escreveu roteiros para televisão. Autor de uma vasta obra reconhecida pela crítica, recebeu diversos prêmios, entre eles o prêmio Monteiro Lobato e o prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras.

É autor de contos, romances, narrativas, livro de viagens e peças de teatro. Seu romance Avalovara (1973) é uma das maiores obras universais de arquitetura narrativa, construído a partir de um palíndromo latino (sator arepo tenet opera rotas), dentro de uma espiral a partir dos quais vão sendo desenvolvidos todos os capítulos do livro. Lisbela e o Prisioneiro (1964) virou especial na rede Globo, com os atores Diogo Vilela e Giulia Gam, sendo depois adaptado por Guel Arraes para o cinema, com Selton Mello e Débora Falabella.

Obra


O Visitante – romance, 1955. Os Gestos – contos, 1957. O Fiel e a Pedra – romance, 1961. Marinheiro de Primeira Viagem – 1963. Lisbela e o Prisioneiro – teatro, 1964. Nove, Novena – narrativas, 1966. Um Mundo Estagnado – ensaio, 1966. Capa-Verde e o Natal – teatro infantil, 1967. Guerra do Cansa-Cavalo – teatro, 1967. Guerra sem Testemunhas – o Escritor, sua Condição e a Realidade Social – ensaio, 1969. Avalovara – romance, 1973. Santa, Automóvel e o Soldado – teatro, 1975. Lima Barreto e o Espaço Romanesco – ensaio, 1976. A Rainha dos Cárceres da Grécia – romance, 1976. Do Ideal e da Glória. Problemas Inculturais Brasileiros – coletânea de artigos e ensaios, 1977. La Paz Existe? – literatura de viagem, em parceria com Julieta de Godoy Ladeira, 1977. O Diabo na Noite de Natal – literatura infantil, 1977. Missa do Galo, Variações Sobre o Mesmo Tema, Organização e Participação, 1977.

Casos Especiais de Osman Lins – novelas adaptadas para televisão e 
levadas ao ar pela TV Globo, 1978, composto de:


A Ilha no Espaço Quem Era Shirley Temple? Marcha Fúnebre Evangelho na Taba.
Problemas inculturais brasileiros II – coletânea de artigos, ensaios e entrevistas, com apresentação de Julieta de Godoy Ladeira, 1979.
Domingo de Páscoa – novela, 1978.

OBS: EM NOSSA CIDADE TEMOS O CENTRO DE CULTURA OSMAN LINS, NA RUI BARBOSA BAIRRO DO LIVRAMENTO, ALÉM CLARO, DA FACOL(FACULDADE OSMAN LINS), INSTITUIÇÕES QUE MANTEM VIVA A HISTÓRIA DESSE GRANDE MESTRE.


POSTADO POR JOHNNY RETAMERO

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