quarta-feira, 30 de novembro de 2011

90 ANOS SEM A PRINCESA ISABEL





A Princesa Dona Isabel nos últimos anos de sua vida, Castelo d'Eu, França

Por Hermes Rodrigues Nery*

“A liberdade verdadeira e desejável é a que, na ordem individual, não deixa o homem escravo nem dos erros, nem das paixões, que são os seus piores tiranos; e na ordem pública traça regras sábias aos cidadãos, facilita largamente o incremento do bem-estar e preserva do arbítrio de outrem a coisa pública. 

Essa liberdade honesta e digna do homem, a Igreja a aprova ao mais alto ponto, e, para garantir aos povos o firme e integral gozo dela, nunca cessou de lutar e de combater.” Papa Leão XIII, Encíclica “Immortale Dei – Sobre a Constituição Cristã dos Estados”, 1885.

Há 90 anos, em 14 de novembro de 1921, morreu a princesa Isabel, distante do Brasil que tanto amava, no mais penoso e longo exílio impingido a um governante brasileiro, numa página de dor em nossa história que ainda hoje comove aos que estudam com seriedade os documentos há tanto tempo esquecidos e evitados por aqueles que a detrataram e procuraram diminuir a importância de sua vida, de inequívocas virtudes heróicas e cívicas, que honrou o primeiro posto desta Nação. 

D. Isabel Cristina de Orléans e Bragança foi uma das que melhor compreenderam a alma do povo brasileiro, por isso foi tão querida no tempo em que governou, e não fraquejou em tomar decisões acertadas e corajosas, de feliz memória, dentre elas a que culminou no 13 de maio de 1888, com a abolição da escravatura em nosso País.




Destinada a dirigir os destinos da Nação (de personalidade forte e resoluta, mas humaníssima em sua compaixão pelos sofredores); preparou-se como nunca antes outra autoridade política havia cuidado com tanto zelo em corresponder aos desafios e as incumbências do governo. 

Ao contrário do avô e do pai, afetados por uma infância de tão grandes turbulências, a princesa Isabel teve ambiente propício para desenvolver seus talentos e assumir seu imperativo vocacional. Não apenas com dedicação aos estudos, mas ainda com percepção aguda dos problemas do seu tempo, desejando dar ao Brasil soluções sociais pautadas em princípios e valores humanos e cristãos.

A sua fé – catolicíssima – deu-lhe força para fazer com alegria tudo o que empreendia (como mãe e esposa exemplar, como filha e amiga leal, como governante mulher) e a confortou nas horas de amargura, que não foram poucas. Sofreu as angústias de ver o Brasil em guerra externa, com o risco de tornar-se viúva, ainda recém-casada, ou ter de ser forçada ao arranjo nupcial urdido pelo ditador paraguaio Solano Lopez.

Pesou-lhe tanto a pressão de grandes proprietários rurais, que resistiram e dificultaram a aprovação da libertação dos escravos, criando obstáculos no parlamento, ameaças e um temor infundado de desestabilização social. Foi preciso então agir com sabedoria, mas de modo perseverante, para ver bem sucedido o movimento abolicionista. 

Desde 1810 o Brasil comprometera-se em acabar com a escravidão, mas o processo político não foi fácil, porque era preciso preparar o País para tão significativa mudança. O movimento foi lento e gradual, exigiu mobilização e prudência, mas que poderia ser postergado ainda mais, não fosse a precisão decisória da princesa em seus períodos de regência, que tudo fez para que a vitória do abolicionismo fosse obtida pela via institucional, e sem derramamento de sangue. 

Com a Lei Áurea, a princesa Isabel visava não apenas assinar o fim da escravidão, mas preparar os meios concretos de indenização e suporte social para oferecer aos libertos condições de dignidade para o exercício da liberdade, com acesso a educação e o trabalho com justa remuneração. Atestam os historiadores a visão de estadista da princesa Isabel, que não viu acontecer por completo seu projeto de promoção social do povo brasileiro, especialmente os libertados pela Lei Áurea, porque tal relevante iniciativa foi solapada pelos republicanos positivistas, que temiam o 3º Reinado tendo à frente uma mulher de tão profundas convicções cristãs. 

Pois justamente o catolicismo da princesa Isabel (e sua atuação pública e pessoal coerente com a doutrina social e moral da Igreja) levou os republicanos a forçarem a quartelada de Deodoro e ao cruel banimento (exigindo que ela e sua família deixassem o País em 24 horas), exílio este que se prolongou por 32 anos, até a sua morte.



Em Paris, Dona Isabel acompanhando o vôo do 14 Bis

O fato é que, apesar do patrulhamento ideológico e a conspiração do silêncio por mais de um século, a princesa Isabel não está no inteiro esquecimento, pelo contrário, seu nome ressoa luminoso em nossa história. O nevoeiro ideológico que a vitimou ao pior dos ostracismos, parece agora começar a ser dissipado, especialmente quando a Arquidiocese do Rio de Janeiro recebeu oficialmente, no mês passado, o pedido para a abertura do seu processo de beatificação. Isso comprova que a Princesa Isabel haverá de perdurar como estrela fulgurante no coração dos brasileiros, ad eternum.



1921, Eu, funerais da Princesa Dona Isabel

* O Professor Hermes Rodrigues Nery é o responsável pelo pedido de Beatificação da Princesa Dona Isabel.

Em: http://diasimdiatambem.com/2011/11/11/90-anos-sem-a-princesa-isabel/
Imagens 1, 3 e 4: Arquivo pessoal de Dionatan da Silveira Cunha
Imagem 2: Brasil Escola

MATÉRIA ENVIADA PELO NOSSO AMIGO MANOEL CARLOS

12 comentários:

Anônimo disse...

"Matéria enviada pelo nosso amigo Manoel Carlos?". Esse cara só fala mal de todo mundo, critica varias pessoas, manda os seguidores calaream a boa, os chama de burros e imbecis, ignora e humilha a opinião alheia, só prevalece seus comentários e suas opiniões e vocês do blog ou seja lá quem publicou este texto, ainda tem a ´coragem, audácia e capacidade de chamar este homem de nosso amigo? É muita coragem dizer que é amigo deste homem! Nanda

candido neto disse...

A Princesa Isabel seria homenageada com uma escultura no morro do corcovado, em função de sua luta pela libertação dos escravos brasileiros; ocorre que seu amor pela igreja e por Jesus Cristo era tão grande que pediu que fizessem a imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo, como foi feito. O Cristo Redentor é mais um presente da Dona Princesa Isabel!

Ana Julia disse...

Leão XIII, Papa

“À muita amada em Cristo Filha Nossa, Saúde e Benção Apostólica.

As preclaras virtudes que adornam Tua pessoa e as brilhantes demonstrações de singular dedicação que Nos deste a Nós e a esta Sé Apostólica, pareceu-Nos mereceriam sem dúvida um testemunho particular e insigne de Nosso Apreço e paternal afeto para contigo.

Para te apresentarmos porém esse testemunho, nenhuma oportunidade mais favorável podia dar-se, conforme entendemos, do que a atual. Com efeito, novo esplendor acaba de realçar ainda mais os Teus louvores por ocasião da Lei que aí foi recentemente decretada e por Tua Alteza Imperial sancionada, relativa àqueles que, achando-se nesse Império Brasileiro, sujeitos à condição servil, adquiriram em virtude da mesma lei a dignidade e os direitos de homens livres.

Assim, pois, muito amada em Cristo Filha Nossa, Nós te enviamos de mimo a Rosa de Ouro que, ao pé do altar, consagramos com a prece apostólica e os demais ritos sagrados, consoante a usança antiga de Nossos Predecessores.

Por esta razão investimos do caráter de Nosso Delegado apostólico ao amado Filho Francisco Spolverini, Nosso Prelado Doméstico e Protonotário Apostólico, que exerce as funções de Internúncio e de Enviado extraordinário Nosso e desta Santa Sé, junto ao muito amado em Cristo Filho Nosso Pedro II Imperador do Brasil, e na ausência dele junto à Tua Alteza Imperial, com o fim de levar-Te a referida Rosa e de exercer o honrosíssimo ministério de fazer-Te a tradição dela, observando as sagradas cerimônias do estilo.

Nesse mimo, porém, que Te ofertamos, é desejo Nosso que Tua Alteza Imperial não olhe para o preço do objeto e seu valor, mas atenda aos mais sagrados mistérios por ele significados. Assim é que nessa flor e no esplendor do ouro se manifesta Jesus Cristo e sua suprema Majestade. É Ele que se denomina a flor do campo e o lírio dos vales. Na fragrância da mesma flor se exibe um símbolo do bom odor de Cristo, que ao longe rescendem todos os que cuidadosamente imitam as suas virtudes.

Daí é impossível que o aspecto deste mimo não inflame cada vez mais o Teu zelo em respeitar a religião e em trilhar a vereda árdua, sim, mas esplêndida da virtude.

No entanto, implorando toda a sorte de prosperidades e venturas para Ti, e todo o Império Brasileiro, muito afetuosamente no Senhor outorgamos a Benção Apostólica a Ti, muito amada em Cristo Filha Nossa, e à Tua Imperial Família.

Dado em Roma, junto a São Pedro, sob o anel do Pescador, no dia 29 de maio do ano de 1888, IIº no Nosso Pontificado.

Cardeal Carlo Nocella.”

catolicos sempre disse...

Simplesmente o Papa Leão XIII, contemporâneo da Princesa Isabel, premiou-a com a Rosa de Ouro, por ocasião da abolição da escravatura. Trata-se da primeira homenagem de um Papa a uma brasileira! Trata-se, inclusive, da única homenagem que uma brasileira recebeceu do Sumo Pontífice até hoje.
Que isso cale a boca dos desinformados de plantão que acusam a Igreja católica der a favor da escravidão.

evandro holanda cavalcanti disse...

Com efeito, o ato de libertação dos escravos foi sancionado pela Princesa Isabel. Ao ser cumprimentado pelo Barão de Cotegipe, este vaticinou: “Vossa Alteza acabou de libertar uma raça e perder o trono”! Mas a Princesa não hesitou em responder: “Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para libertar os escravos do Brasil”.

Cumpre então analisar as razões da convicção da Princesa Isabel. A história registra que a Princesa Isabel era profundamente católica e no momento da proclamação da Lei Áurea a Igreja tinha um ensinamento já consolidado sobre a libertação de escravos.

No ano de 873 o Papa João VIII na Carta “Unum Est” aos príncipes da Sardenha advertia que escravos comprados dos gregos deveriam ser libertados por amor a Jesus Cristo (1). Em 1537 o Papa Paulo III se dirige ao Arcebispo de Toledo atraves do Breve “Pastorale officium” dizendo que os índios não deveriam ser privados de sua liberdade “pois são homens e por isto capazes de fé e salvação e não devem ser destruídos pela escravidão”(2).

Em 1839 o Papa Gregório XVI considera desumano o mercado de negros, índios ou outras etnias (3). Em vários outros documentos a Igreja condena a escravidão. Neste cenário a Princesa Isabel decide pela libertação dos escravos do Brasil.

evandro holanda cavalcanti disse...

Encontra-se na contra-mão de nossa história a adoção de cotas para etnia negra nas Universidades. A respeito dos EUA — país com histórico de discriminação racial acentuado — disse o Ministro Gilmar Mendes, no mesmo documento exarado do STF: “em recentes julgados, a Suprema Corte norte-americana voltou a restringir a adoção de políticas raciais.

No caso Parents Involved in Community Schools vs. Seattle School District No. 1. (28 de junho de 2007), no qual se discutiu a possibilidade de o distrito escolar adotar critérios raciais (classificando os estudantes em brancos e não brancos ou negros e não negros) como forma de alocá-los nas escolas públicas, os juízes, por maioria, entenderam desarrazoado o critério e salientaram que “a maneira de acabar com a discriminação com base na raça é parar de discriminar com base na raça”.

O Justice Kennedy afirmou que, “quando o governo classifica um indivíduo por raça, ele precisa primeiro definir o que ele entende por raça. Quem, exatamente, é branco ou não branco? Ser forçado a viver com um rótulo racial definido pelo governo é inconsistente com a dignidade dos indivíduos em nossa sociedade”.

evandro holanda cavalcanti disse...

Dona Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon (Rio de Janeiro, 29 de julho de 1846 — Eu, França, 14 de novembro de 1921), mais conhecida no Brasil como a princesa Isabel, foi a última princesa imperial do Brasil e regente do Império por três ocasiões, na qualidade de herdeira de seu pai, o imperador Dom Pedro II, e da imperatriz Dona Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias. Foi a terceira chefe de Estado e chefe de governo brasileira após sua avó D. Leopoldina e sua trisavó Dona Maria I. Foi cognominada a Redentora por ter, através da Lei Áurea, abolido a escravidão no Brasil.

Após seu casamento com Gastão de Orléans, conde d'Eu, em 1864, ocorreu uma junção matrimonial entre a Casa de Bragança e a de Orléans, originando o nome Orléans e Bragança, que foi passado, exclusivamente, aos descendentes de Gastão de Orléans e D. Isabel. Também, por a mesma ter sido a herdeira do trono imperial brasileiro, os seus descendentes - os Orléans e Bragança - são os atuais herdeiros da extinta coroa imperial do Brasil.

A princesa Isabel foi também a primeira senadora do Brasil, cargo a que tinha direito como herdeira do trono a partir dos 25 anos de idade, segundo a constituição imperial brasileira de 1824 - a primeira carta constitucional do Brasil.

Com a morte de seu pai, em 1891, tornou-se a chefe da Casa Imperial do Brasil e a primeira na linha sucessória ao extinto trono imperial brasileiro, sendo considerada, de jure, Sua Majestade Imperial, Dona Isabel I, Por Graça de Deus, e Unânime Aclamação dos Povos, Imperatriz Constitucional e Defensora Perpétua do Brasil, conforme a constituição de 1824 - a primeira constituição do Brasil

evandro holanda cavalcanti disse...

A fim de prepará-la para seu papel, começou D. Pedro II a preocupar-se com a formação da futura imperadora. Desde cedo, porém, o Imperador iniciou entendimentos para dar às filhas uma preceptora. Por indicação da tia das princesas, Francisca de Bragança, a escolhida foi a condessa de Barral, filha do embaixador Domingos Borges de Barros, visconde de Pedra Branca e esposa do nobre francês, o conde de Barral, considerada pela maior parte dos autores - inclusive José Murilo de Carvalho, em seu livro D. Pedro II (Companhia das Letras, 2007) - como o grande amor do imperador Pedro II. A condessa iniciou suas funções em setembro de 1855.

Para a educação de D. Isabel e da sua irmã numerosos mestres foram designados, que elaboraram um severo programa de estudos. Afirma D. Pedro II sobre a educação de suas filhas:

"o caráter de qualquer das princesas deve ser formado tal como convém a senhoras que poderão ter que dirigir o governo constitucional de um Império como o Brasil. A instrução não deve diferir da que se dá aos homens, combinada com a do outro sexo: mas de modo que não sofra a primeira. Convirá conformar-se, quando for de proveito, aos regulamentos da instrução pública primária e secundária. Poderá impor castigos, e quando forem leves, sem meu conhecimento prévio, devendo minhas filhas não saber ilegível que o tenho, quando isto não for conveniente, sendo o maior deles a reclusão em um dos quartos dos respectivos aposentos, assim como representar-nos, mesmo perante nossas filhas, sobre a justiça da concessão de algum prêmio."[2]

Mas, apesar de todo este rigor, sua infância teve muitos momentos de descontração, ao lado da irmã Leopoldina. Em seu diário ela diz: "Petrópolis, residência de verão, residência deliciosa: jardins floridos, canais cortando a cidade... " Ou mais adiante: "Eu fui de Petrópolis a pé até a cascata de Tamarati. A mana andou tão pouco a cavalo."

evandro holanda cavalcanti disse...

Casamento


Família Imperial - da esquerda para a direita: conde d'Eu, D. Pedro II, D. Teresa Cristina Maria e D. Isabel.
Os preparativos para seu casamento foram iniciados na década de 1860. Por indicação de sua tia, D. Francisca de Bragança (filha de D. Pedro I), princesa de Joinville na França, vieram ao Brasil dois primos, os príncipes Gastão de Orléans, conde d'Eu e Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, sobrinhos-netos do rei Leopoldo I dos Belgas, sobrinhos de D. Fernando II de Portugal, além de primos de segundo grau da rainha Vitória do Reino Unido.

O imperador havia tratado, através de seus ministros, o casamento da princesa Isabel, herdeira do trono, com o duque Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, o segundo filho de Augusto de Saxe-Coburgo-Gota e da princesa Clementina de Orléans; ao mesmo tempo, o primo deste, Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orléans e Saxe-Coburgo-Gota (Louis Phillipe Marie Ferdinand Gaston d'Orléans et Saxe-Cobourg et Gotha), conde d'Eu, foi prometido à princesa Leopoldina.

Quando da chegada dos dois jovens, as princesas perceberam que deveria ocorrer uma troca, pois cada uma delas havia se encantado pelo pretendente da outra, e imediatamente solicitaram aos pais que a troca fosse realizada. Tanto D.Pedro quanto D. Teresa Cristina, favoráveis a que os casamentos fossem motivados não apenas pelas questões dinásticas, mas também pelos afetos - até porque, no seu próprio caso, havia ocorrido um choque inicial - consentiram imediatamente. Em 18 de setembro de 1864 o príncipe Gastão de Orléans pediu a mão da Princesa Imperial do Brasil. [5]

O casamento teve lugar na Capela Imperial, no Rio de Janeiro, a 15 de outubro de 1864. No mesmo dia os noivos partiram para a lua de mel em Petrópolis, e em 10 de janeiro de 1865 seguiram para a Europa, onde a princesa conheceu os sogros. Gastão, batizado Louis Philippe Marie Ferdinand Gaston, nascera em 1842 e morreu em 1922 em águas brasileiras, a bordo do navio Massilia. Era não só conde d´Eu como príncipe de Bourbon-Orléans, sendo feito depois marechal do exército brasileiro. Era filho de Louis Raphael, Duque de Nemours, logo, neto do Rei francês Luís Filipe I.

evandro holanda cavalcanti disse...

Postura política
Liberal, a princesa uniu-se aos partidários da abolição da escravidão. Apoiou jovens políticos e artistas, embora muitos dos chamados abolicionistas estivessem aliados ao incipiente movimento republicano. Financiava a alforria de ex-escravos com seu próprio dinheiro e apoiava a comunidade do Quilombo do Leblon, que cultivava camélias brancas, símbolo do abolicionismo. Chegava mesmo a receber fugitivos em sua residência em Petrópolis:

"A Princesa Isabel também protegia fugitivos em Petrópolis. Temos sobre isso o testemunho insuspeito do grande abolicionista André Rebouças, que tudo registrava em sua caderneta implacável. Só assim podemos saber hoje, com dados precisos, que no dia 4 de maio de 1888, “almoçaram no Palácio Imperial 14 africanos fugidos das Fazendas circunvizinhas de Petrópolis”. E mais: todo o esquema de promoção de fugas e alojamento de escravos foi montado pela própria Princesa Isabel. André Rebouças sabia de tudo porque estava comprometido com o esquema. O proprietário do Hotel Bragança, onde André Rebouças se hospedava, também estava comprometido até o pescoço, chegando a esconder 30 fugitivos em sua fazenda, nos arredores da cidade. O advogado Marcos Fioravanti era outro envolvido, sendo uma espécie de coordenador geral das fugas. Não faltava ao esquema nem mesmo o apoio de importantes damas da corte, como Madame Avelar e Cecília, condessa da Estrela, companheiras fiéis de Isabel e também abolicionistas da gema. Às vésperas da Abolição final, conforme anotou Rebouças, já subiam a mais de mil os fugitivos “acolhidos” e “hospedados” sob os auspícios de Dona Isabel."[7]

Conforme o artigo 46, capítulo 3, título IV, da constituição brasileira de 1824, os Principes da Casa Imperial são Senadores por Direito, e terão assento no Senado, logo que chegarem á idade de vinte e cinco annos. Dessa forma, em 1871, D. Isabel Leopoldina tornou-se a primeira senadora do Brasil (a primeira senadora brasileira eleita foi Eunice Mafalda Berger Michiles). Há que se notar que foi a única a desfrutar desse dispositivo constitucional, haja vista que todos os príncipes do Brasil que a antecederam ou morreram antes dos vinte e cinco anos, ou se casaram com estrangeiros e partiram do país, à exceção de seu pai, que assumiu o Trono aos quatorze anos de idade. Depois dela, a ordem constitucional do Império caiu antes que os príncipes porvir pudessem tornar-se senadores.



Bilhete da Princesa Isabel a seu pai, datado de 13 de maio de 1888:
"Empereur Brésil, Milan.
Acabo sanccionar a lei da extincção da escravidão. Abraço Papae com toda a effusão do meu coração. Muito contentes com suas melhoras. Commungamos hoje por sua intensão.
Isabel".
"Isabel Cristina comemorou seu aniversário de 39 anos, em 1885, com uma solenidade no Paço Municipal da capital, o Rio de Janeiro. Sentada, tendo a seu lado o marido, foi a estrela da cerimônia em que diversos escravos foram alforriados.Conforme os nomes dos beneficiados eram anunciados pelo vice-presidente da Câmara, João Florentino Meira de Vasconcellos, eles seguiam para receber seus certificados de libertação das mãos de Isabel. Cada ex-escravo curvava-se e, em sinal de respeito e gratidão, dava um beijo na mão da aniversariante. A relação de afeto entre a mulher e os negros começava a ser demonstrada publicamente."

evandro holanda cavalcanti disse...

Sobre a revogação do Decreto de Banimento propriamente dito, a notícia foi veiculada inicialmente pelo Jornal O Imparcial, do Rio de Janeiro, no dia 4 de setembro de 1920.[15] O decreto 4.120, assinado em 3 de setembro de 1920, procurava corrigir uma distorção jurídica, onde uma família brasileira, que não cometera crime algum, fora expulsa do país de maneira arbitrária.

É a historiadora Luciana Pessanha Fagundes, em seu memorável artigo Memórias da monarquia: D.Pedro II no cenário político da década de 20[16] quem nos descreve as circunstâncias em que se deu esta revogação:

"Enfim, no dia 3 de setembro realizava-se no Salão de Despachos do Palácio do Catete a assinatura do decreto que revogava o banimento da família real. Para assinatura do decreto foi oferecida ao presidente uma caneta de ouro obtida especialmente para a ocasião com dinheiro arrecadado mediante subscrição pública promovida pelo jornal A Rua. A cerimônia foi realizada com a presença de comissões de várias instituições importantes como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a Associação Brasileira de Letras e a Associação Brasileira de Imprensa. O decreto é caracterizado como uma “nova Lei Áurea” por Affonso Celso em artigo para o Jornal do Brasil. O presidente do IHGB apontava que a denominação Lei Áurea para a lei assinada naquele dia se devia pelo fato de que, assim como a de 13 de maio, “essa lei repara uma grave injustiça” e também “redime do exílio a excelsa senhora que mereceu o cognome de Redentora”. A república teria, então, inscrito nos anais da história uma “data luminosa semelhante aquela do Império”. Revogado o banimento, são formadas rapidamente duas comissões, capitaneadas pelo IHGB, encarregadas de organizar a recepção dos despojos do imperador e da imperatriz."

Além do banimento - por si só um ato autoritário e injustificável - ocorreu um verdadeiro confisco dos bens (particulares) da família imperial. Pouco comentado pela historiografia brasileira é o fato de que praticamente todos os bens e pertences dos Orleans e Bragança foram leiloados:



Princesa Isabel e o conde D'Eu com alguns de seus netos.
"No Brasil de 1890 deram-se 13 leilões dos bens da Casa Imperial - objetos, móveis e semoventes. Procederam à avaliação dos móveis, carros, animais e objetos existentes na Quinta da Boa Vista e os vindos do Paço da Cidade o tenente-coronel Costa Ferreira, da parte do Juízo da 2ª Vara de Órfãos e João Teixeira, por parte do dr. José da Silva Costa, procurador de d. Pedro de Alcântara. O Juiz da 2ª vara, dr. Honório Coimbra nomeou para proceder ao leilão o leiloeiro Joaquim Dias dos Santos. Francisco Marques dos Santos, em seu artigo intitulado O leilão do Paço de São Cristóvão, publicado no Anuário do Museu Imperial, vol. 1, 1940, fala dos absurdos, da desordem, da avaliação arbitrária e venda forçada dos bens da família."[17]

Anônimo disse...

Professor Evandro, sinto um imenso orgulho e uma grata satisfação de ter sido sua aluna no Agro e ter tido o prazer e o privilégio de conviver contigo por três longos e belos anos.
Você foi o meu primeiro incentivador em aprender a arte da leitura e da pesquisa e também a enfrentar uma sala de aula para falar em público. Também me tornei um pouco menos tímida com as aulas de teatro.

Quanta saudade daquela época! Nós éramos muito felizes e não tínhamos a dimensão exata do que é o mundo fora da proteção escola e da família para o mercado de trabalho.

Gostaria que soubesses, em vida, o quanto você desempenhou um papel importante na minha formação como leitora, pensadora, pesquisadora, questionadora e formadora de opinião.

Por todos os ensinamentos, por todos os momentos em sala de aula e no teatro, pelas vezes que fui corrigida e ensinada, pelas vezes que fiquei triste quando não consegui desempenhar bem um texto, pela timidez excessiva e pela pessoa sensível que você sempre foi aos problemas alheios; deixo aqui o meu muito obrigada por você ter me permitido desfrutar deste coração enorme, acolhedor, de um pai protetor e rígido nos momentos certos e desta mente brilhantemente iluminada por Deus. Que Ele te conceda ainda mais vida, plenitude e sabedoria! Um grande beijo e muitas saudades... Walkíria Araújo.