Do O Globo
RIO - Um estudo com mais de 11 mil voluntários
acompanhados por mais de seis anos descobriu que as mais crianças novas com
problemas para respirar durante o sono são propensas a desenvolver dificuldades
comportamentais, como hiperatividade e agressividade, assim como sintomas
emocionais e dificuldade de relacionamento, de acordo com uma pesquisa feitas
pelo Colégio de Medicina Albert Einstein, da Yeshiva University. O estudo, o
maior e mais abrangente deste tipo, foi publicado on-line na última
segunda-feira pela revista "Pediatrics".
- Esta é a
evidência mais forte mostrada por dados de que roncar, respirar pela boca, e
apneia (longas pausas anormais na respiração durante o sono) podem ter sérias
consequências comportamentais e emocionais para crianças - disse a coordenadora
do estudo, Karen Bonuck, Ph.D., professora de medicina da família e social e de
obstetrícia e ginecologia e saúde das mulheres no Einstein. - Os pais e
pediatras também devem prestar muita atenção a desordens na respiração durante
o sono em crianças muito jovens, talvez até mesmo no primeiro ano de vida.
Problemas
de respiração durante o sono (SDB, na sigla em inglês) é um termo geral para
dificuldades respiratórias que ocorrem à noite. Suas principais características
são o ronco (que é normalmente acompanhado por respiração pela boca) e apneia
do sono. SBD costumam ocorrer com maior frequência em crianças de dois a seis
anos de idade, mas também em crianças menores. Cerca de uma em cada dez
crianças roncam regularmente e 2% a 4% delas têm apneia do sono, segundo a
Academia Americana de Otorrinolaringologia e Cirurgia do Pescoço (AAO-HNS, na
sigla em inglês). As causas mais comuns de SDB são aumento das amígdalas ou das
adenoides.
- Até
agora, nós realmente não temos fortes indícios de que SDB realmente são
precedentes de comportamento problemático como hiperatividade - disse Ronald D.
Chervin, coautor do estudo e professor de medicina do sono e de neurologia da
Universidade de Michigan.
O novo
estudo analisou os efeitos combinados dos padrões de ronco, apneia e respiração
pela boca no comportamento de crianças. Os pais foram convidados a preencher
questionários sobre os sintomas de SDB em seus filhos em vários momentos, entre
os 6 e os 69 meses de idade.
Quando seus
filhos tinham aproximadamente 4 e 7 anos de idade, os pais preencheram o
Questionário de Força e Dificuldades (SDQ, na sigla em inglês), que é
amplamente utilizado para avaliar comportamento. O SDQ tem escalas para avaliar
a desatenção e a hiperatividade de uma criança, sintomas emocionais (ansiedade
e depressão), problemas de relacionamento, problemas de conduta (agressividade
e quebra de regras), e comportamento pró-social (prestatividade, capacidade de
dividir, etc.) Os pesquisadores ficaram atentos a 15 potenciais variáveis de confusão, incluindo nível
socioeconômico, tabagismo materno durante o primeiro trimestre de gravidez e
baixo peso ao nascer.
-
Descobrimos que crianças com distúrbios respiratórios durante o sono eram entre
40% e 100% mais propensas a desenvolver problemas comportamentais por volta dos
7 anos de idade, em comparação com crianças sem problemas respiratórios - disse
Bonuck. - A maior ocorrência era de hiperatividade, mas vimos aumento da
incidência em todas as cinco medidas comportamentais.
Crianças cujos
sintomas apareceram cedo, aos 6 e aos 18 meses, eram 40% e 50% mais propensas, respectivamente, a ter problemas
comportamentais aos 7 anos de idade, em comparação com crianças com respiração
normal. Crianças com os problemas comportamentais mais graves eram as com
sintomas SDB, que persistiram durante todo o período de avaliação e se tornaram
mais grave aos 30 meses.
Os
pesquisadores acreditam que problemas de respiração durante o sono podem causar
problemas comportamentais, afetando o cérebro de várias maneiras: diminuição
dos níveis de oxigênio e aumento dos níveis de dióxido de carbono no córtex
pré-frontal, interrompendo os processos restaurativos do sono e perturbando o
equilíbrio dos diversos sistemas celulares e químicos. Problemas
comportamentais decorrentes desses efeitos adversos sobre o cérebro incluem
deficiências no funcionamento executivo (isto é, ser capaz de prestar atenção,
planejar com antecedência, e organizar), a capacidade de suprimir o
comportamento e a capacidade de autorregular a emoção e a excitação.
De acordo
com o AAO-HNS, a cirurgia é o tratamento de primeira linha para SDB pediátrica
grave nos casos em que as amígdalas e adenoides são ampliadas. Outra opção é a
perda de peso para crianças com sobrepeso ou obesas.
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