Do O Globo
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MADRI — Na
hora em que estiver mordendo seu próximo sanduíche cheio de maionese, presunto
e bacon, ou querendo convidar os amigos para mais um rodízio de pizza, pense
duas vezes: um novo estudo espanhol mostra que quem come mais gordura tem mais
propensão a desenvolver depressão. O trabalho que comprovou esta relação foi
realizado por cientistas da Universidade de Las Palmas de Gran Canaria e da
Universidade de Navarra, que acompanharam mais de oito mil pessoas durante seis
anos.
—
Constatamos que os participantes que mais consumiam fast food apresentavam 40%
mais risco de ter depressão do que aqueles que não consumiam — disse ao jornal
“El Mundo” Almudena Sánchez-Villegas, a principal autora do estudo, divulgado
pela “Public Health Nutrition”.
Segundo os
autores, a depressão afeta cerca de 120 milhões de pessoas no mundo, e pouco se
sabe sobre o papel da dieta no desenvolvimento da doença, embora estudos
anteriores tenham sugerido que certos alimentos têm um papel preventivo contra
este mal, incluindo as vitaminas do grupo B, os ácidos graxos e o azeite de
oliva.
O trabalho
foi realizado com 8.964 participantes, que não tinham diagnóstico de depressão
nem tomavam qualquer tipo de antidepressivo no inicío da investigação. Ao longo
da pesquisa, todos responderam a questionários anuais sobre seus hábitos de
vida e consumo de alimentos. Ao final, um total de 493 dos voluntários haviam
recebido diagnóstico de depressão ou começado a tomar antidepressivos.
Além de
constatar que aqueles que ingeriam mais gordura tinham mais propensão a
desenvolver a doença, o estudo mostrou que, quanto mais fast food, mais risco,
numa reação chamada dose-resposta. O mesmo efeito, porém, não foi observado com
produtos industrializados.
Ainda
segundo o estudo, os participantes com maior ingestão de gordura tendiam a
“estar solteiros, ser menos ativos e ter um padrão dietético pior, com menos
consumo de frutas, peixes, verduras e azeite de oliva”. Além disso, fumavam
mais e trabalham mais de 45 horas por semana.
Uma
possível explicação para a relação entre alimentos gordurosos e depressão é a
grande quantidade de gordura trans presente neles. Como se sabe, a gordura
trans pode afetar o organismo de diferentes formas, e aumenta, entre outros
riscos, o de se desenvolver doenças cardiovasculares e problemas mentais como a
depressão.
Para
garantir a segurança do resultado, ao longo da pesquisa os cientistas
eliminaram do grupo pessoas que tiveram o diagnóstico de depressão até dois
anos após seu início: é que elas poderiam já ter a doença antes, embora não o
soubessem. Mesmo assim, os dados não mudaram: até o final do estudo, a depressão
teve maior incidência entre aqueles que consumiam mais gordura.
Ao tomar
conhecimento do trabalho, José Luis Carrasco, chefe da Unidade de Transtorno de
Limite da Personalidade do Hospital Universitário San Carlos, em Madri,
observou que a predisposição pessoal e o histórico familiar também ajudam a
determinar se a pessoa será ou não acometida de depressão. Mas ele diz que, no
dia a dia do hospital, observa que, de fato, as pessoas deprimidas tendem a
comer mais rapidamente e a ingerir alimentos de menor valor nutritivo.
— A
fast-food produz uma gratificação imediata — diz ele. — Se uma pessoa com
vulnerabilidade ou predisposição para a depressão, insegura e instável
emocionalmente, tem hábitos de alimentação que se baseiam em hambúrgueres e
pizzas e costuma comer em cinco minutos, isto significa que está se
desestabilizando. Estas pessoas, como mostrou o estudo, tendem a se apaixonar
rapidamente, trabalhar mais e fumar mais.
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