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Para
uma mesa armada por um grupo estudantil do campus, esta continha alguns itens
incomuns: um espéculo ginecológico, diafragmas, preservativos (para ele e para
ela) e vários pacotinhos de lubrificante. Perto dali, dois estudantes rebatiam
um para o outro uma camisinha inflada como se fosse um balão.
“Este
é o Implanon”, disse Gabby Bryant, uma veterana de 22 anos que ajudou a montar
a mesa, exibindo uma amostra do contraceptivo implantável. “Aqui em Harvard,
você o recebe de graça.”
“Implanon?”
disse Samantha Meier, outra veterana, que estava vendo os itens na mesa. “Não
acredito.”
“Minha
amiga conseguiu de graça”, disse Bryant, resolvendo o assunto.
Era
a Semana do Sexo em Harvard, um programa dirigido pelos estudantes com
palestras, painéis de discussão e conversas de fazer corar, sobretudo
envolvendo sexo. O evento foi o primeiro de Harvard, apesar da tradição ter
começado em Yale em 2002 e desde então se espalhado por universidades de todo o
país: Brown, Universidade do Nordeste, Universidade de Kentucky, Universidade
de Indiana e Universidade de Washington, todas realizaram alguma versão da
Semana do Sexo nos últimos anos.
Apesar
do agitado debate nacional sobre contracepção e financiamento para saúde
reprodutiva, a Semana do Sexo em Harvard (e em outros lugares) se desviou da
política, despontando como uma resposta à preocupação entre os estudantes de
que as lições em sala de aula sobre sexualidade –seja no colégio ou além– não
os preparam para a experiência em si.
Os
organizadores desses eventos dizem que os estudantes universitários de hoje
enfrentam uma realidade confusa: em um momento em que a sexualidade está mais
descarada e ostensivamente em exposição, os jovens estão, paradoxalmente,
praticando menos sexo do que em gerações anteriores, indicam as pesquisas.
“Eu
acho que há esta cultura de ‘ficar’ em Harvard, onde as pessoas presumem que
todo mundo está fazendo sexo o tempo todo, o que não é necessariamente
verdade”, disse Suzanna Bobadilla, uma caloura de 21 anos.
Os
estudantes aqui parecem menos interessados em debater a agenda social dos
republicanos e mais em falar sobre como os costumes sexuais estão ligados às
suas próprias vidas. Um evento: “Ficando no Campus”, fez os participantes
falarem sobre as percepções criadas em torno do sexo casual –por exemplo, a
ideia de que todas as mulheres são tão liberadas que ficam felizes em praticar
sexo sem compromisso (um tema examinado a fundo na nova série da HBO, “Girls”).
O
evento ajudou a eliminar esse rumor, disse Bobadilla, ao apresentar estatísticas
mostrando que os estudantes universitários estavam praticando menos sexo do que
seus antecessores, e ao “permitir às pessoas expressarem seus próprios pontos
de vista”.
Essa
educação sexual falada de modo franco é particularmente importante em uma
escola como Harvard, ela disse, “porque os jovens de Harvard não querem admitir
que não sabem algo que sentem que deveriam saber”.
À
medida que a Semana do Sexo se espalha por mais campi, ela mantém um equilíbrio
entre assuntos de saúde e prazer sexual. Diferente dos programas universitários
típicos dirigidos pelos estudantes nas décadas que antecederam a descoberta do
HIV/Aids, os eventos de campus vão além de instrução sobre sexo seguro,
prevenção de estupro e doenças sexualmente transmissíveis, dando orientação
sobre como se sentir mais à vontade e satisfeito sexualmente, tudo, pelo menos
na teoria, em uma atmosfera livre de julgamento que abraça todos os estilos de
vida.
A
ideia é promover uma educação sexual que as escolas não podem –ou optam por não
dar.
“Eu
acho que o que nossa geração está fazendo é realmente tentar tratar dessas
questões de uma forma que respeite as experiências, crenças e identidades
individuais”, disse Meier, 23 anos, uma das organizadoras da Semana do Sexo de
Harvard. “E eu vejo a Semana do Sexo como parte disso.”
A
Semana do Sexo nasceu em Yale como a Semana do Sexo Kosher, uma ideia que o
Yale Hillel teve para gerar interesse no grupo. Mas à medida que mais clubes e
docentes passaram a se envolver, “um membro do corpo docente apresentou a
ideia, por que tinha ser um evento judeu?” disse Eric Rubenstein, um dos
fundadores. Então foi tomada a decisão de abandonar o ângulo kosher, dando
nascimento em 2002 ao que passou então a se chamar Semana do Sexo de Todo
Campus.
“Todos
os envolvidos queriam que fosse algo real, desafiador e com o qual as pessoas
pudessem se relacionar, algo que as pessoas tivessem que considerar”, disse
Rubenstein, 29 anos, que atualmente trabalha como trader e estrategista de
petróleo para o Citigroup. “Não se resumia apenas a falar sobre os assuntos
regulares.”
A
educação sexual sempre fez parte da universidade, de um jeito ou de outro. E
toda geração de estudantes tenta preencher as lacunas percebidas no currículo
formal com suas próprias iniciativas, seja pela distribuição de preservativos
nos anos 90 ou a explosão de colunas estudantis sobre sexo –e até mesmo
revistas pornográficas– na última década. Os estudantes chamam isso de
educação; pais e administradores podem chamar de atuação.
Na
primeira Semana do Sexo de Harvard, que terminou em 31 de março, havia painéis
sobre conversar sobre sexo com seu médico e carreiras em saúde sexual, mas
também eventos sobre ética da pornografia; sexo e religião; práticas
excêntricas como bondage; e sexo gay e lésbico. Após todo evento, os
organizadores sorteavam vibradores.
Apesar
da participação de alguns professores, capelães e provedores de saúde, a
universidade em si não foi patrocinadora. Em Yale, o nome foi mudado neste ano
de Semana do Sexo em Yale para simplesmente Semana do Sexo, por pressão da
administração.
As
semanas do sexo enfrentam alguma oposição das universidades, ex-alunos e estudantes
em quase toda parte onde são realizadas. Algumas pessoas não gostam da ideia de
recursos da universidade sendo usados para promover atividade sexual. Outros
acham que os eventos promovem uma abordagem irresponsável ao sexo, que coloca o
prazer em primeiro lugar.
Neste
ano, um novo grupo chamado Estudantes por uma Yale Melhor começou a oferecer
uma alternativa à Semana do Sexo chamada Semana do Amor Verdadeiro. Em 2007,
Chelsea Thompson, um estudante da Universidade do Nordeste que se descreveu
como cristã, formou um grupo chamado Mulheres de Valor, que promoveu uma noite
em um spa para dar às estudantes do sexo feminino uma alternativa à Semana do
Sexo. Segundo o blog do grupo, mais de 100 mulheres participaram, incluindo o
time inteiro de softball.
“Educação
não significa dar a todo mundo todas as opções que possam ter”, disse Isabel
Marin, uma integrante dos Estudantes por uma Yale Melhor. “Significa dar às
pessoas a informação certa sobre como devem encarar os relacionamentos e as
opções sexuais. Não é um bufê.”
Mas
os organizadores no campus dizem que estão apenas tentando reconhecer a
realidade: a de que muitos estudantes fazem sexo pela primeira vez quando estão
na faculdade e que isso pode causar muitos sentimentos e reações fortes.
“As
aulas sobre sexualidade na faculdade são quase sempre bastante acadêmicas, elas
não necessariamente refletem a experiência pessoal das pessoas”, disse Aida
Manduley, presidente da Semana do Sexo da Brown. “Nós tentamos equilibrar a
situação.”
Em
uma era onde materiais sexuais explícitos estão prontamente disponíveis a um
apertar de botão de teclado ou controle remoto, alguns estudantes consideram os
procedimentos da semana em Harvard surpreendentemente brandos. Brenda Serpas,
uma caloura, frequentou um seminário chamado “Conversa Suja” e o considerou,
bem, não tão sujo.
“Muita
gente achava que daria dicas sobre como falar de modo sujo”, ela disse, “mas
não se tratava de nada disso. Era como ser consensual e ficar à vontade se
expressando com seu parceiro”.
Shana
Kim, uma estudante do segundo ano, acrescentou: “Que você não precisa ter
vergonha. Fique à vontade consigo mesma”.
“E
acho que é sobre isso que se trata a semana toda, basicamente”, acrescentou
Kim. “Saber o que quer, saber como consentir ao que quer e permitir aos outros
que façam o mesmo.”
Tradutor:
George El Khouri Andolfato
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