Do NE10 por Cintia Andrade Moura*
imagem: ne10.uol.com.br |
O que entendemos por orfandade? Qual o
primeiro pensamento que nos vem à mente quando escutamos essa palavra?
Imediatamente, lembramos das crianças desamparadas que perderam os pais. E onde
elas estão? Supomos que estão nas instituições de abrigamento ou nas ruas. Ah!
Ledo engano. Os órfãos não se encontram apenas nos abrigos ou nas ruas, mas
dentro dos incalculáveis lares pelo mundo afora. São os filhos desamparados do
afeto, os privados de cuidados, os que perderam o amor daqueles que lhes
deveriam ser pai ou mãe.
Muitos filhos não se sentem realmente
filhos. Sentem que a televisão, a academia, o trabalho, as viagens são mais
importantes que eles. Tudo o mais é sempre mais importante. Desejando
manterem-se no controle da situação, esses pais tentam compensar sua ausência
afetiva com brinquedos. Dão-lhes presentes em vez de presença.
E o que dizer dos filhos que percebem
que não são os mais queridos? Que o irmão ou irmã é mais importante? Se eles
pudessem desabafar, diriam certamente que gostariam de serem compreendidos,
amados e desejados. São os rejeitados, que tentam de tudo, até mesmo irritar
profundamente aqueles a quem querem a todo custo chamar a atenção. Quantos,
entre nós, não carregamos lembranças amargas da rejeição, da falta de carinho e
do desprezo afetivo?
Já ouvi o amargo desabafo de pais e
mães que não conseguem gostar de seus filhos. Alguns deles, ao contrário,
chegam a sentir pelas suas crianças uma verdadeira repulsa. Sofrem e
frustram-se pelo insucesso na educação da prole. Uma cruel realidade mais comum
do que se imagina.
Portanto, a respeito da orfandade, é
imperioso que nos perguntemos: Meu filho é um problema para mim ou as minhas
limitações e frustrações como pessoa são grandes problemas para ele? Que nível
de envolvimento afetivo eu venho construindo com ele? Em que momento e de que
forma expresso meu amor e afeto? Quais as prioridades e renúncias eu promovo
para estar com ele? Quais os limites que estabeleço para a sua educação? Será
que sou capaz de me tornar uma pessoa melhor para ajudá-lo? Percebo as
consequências futuras da nossa relação se falhar agora?
Esforça-te pelo amor! Aquele filho que
tens maior dificuldade em lidar, adota-o hoje enquanto comungas com ele a mesma
jornada. Reconcilia-te para que uma nova história seja vivida. Busca maiores
entendimentos com momentos de pacificação e cumplicidade. Afinal, nunca é tarde
para aceitar e amar.
Não sejamos nós os futuros órfãos do
amor mal resolvido. Hoje nossos filhos nos solicitam a atenção constante.
Amanhã poderemos ser nós a desejar-lhes a presença e o afeto.
* Cintia Andrade Moura é mãe adotiva,
escritora e integrante do Gead (Grupo de Estudos e Apoio à Adoção do Recife).
*As colunas assinadas não refletem,
necessariamente, a opinião do NE10
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