Da
Folha de S. Paulo
O
empresário Marcos Valério Fernandes de Souza disse, em depoimento prestado em
24 de setembro à Procuradoria-Geral da República, que o esquema do mensalão
ajudou a bancar despesas pessoais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em
2003. A informação é da edição desta terça-feira do jornal "O Estado de S.
Paulo".
O
depoimento foi dado após o empresário ter sido condenado pelo STF (Supremo
Tribunal Federal).
Segundo
a reportagem, os recursos foram depositados na conta da empresa do ex-assessor
da Presidência Freud Godoy.
O
empresário, segundo o jornal, afirma ainda que o ex-presidente Lula deu aval
para os empréstimos que serviriam de pagamentos a deputados da base aliada.
Isso teria ocorrido em reunião no Palácio do Planalto com a presença do
ex-ministro José Dirceu e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Dirceu
teria dito que Delúbio, quando negociava, falava em seu nome e no de Lula. Procurado
pelo jornal, o advogado de Dirceu negou a acusação.
Em
setembro passado, Marcos Valério havia procurado o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, afirmando ter novas informações a apresentar sobre o
caso do mensalão.
De
acordo com o que a Folha apurou, um depoimento do empresário mineiro foi
prestado na ocasião às procuradoras Raquel Branquinho e Cláudia Sampaio --esta
última mulher de Gurgel.
Uma
possível estratégia de Valério seria buscar, com eventuais novas informações, a
sua inclusão no programa de proteção a testemunhas, o que, na prática, poderia
reduzir a sua pena no julgamento do Supremo. A redução da pena não evitaria sua
condenação, mas, por exemplo, poderia livrá-lo do regime fechado na prisão.
O
empresário foi condenado a mais de 40 anos por formação de quadrilha, corrupção
ativa, peculato e lavagem de dinheiro. Como a soma supera oito anos, o
empresário deve cumprir parte da pena em regime fechado.
No
mesmo depoimento, Valério teria dito que os R$ 4 milhões pedidos por seus
advogados para defendê-lo no processo foram pagos pelo PT. Segundo ele, essa
foi a única "contrapartida" por sua participação no mensalão.
AMEAÇAS
No
fim de setembro, o Supremo Tribunal Federal recebeu um fax, assinado pela
defesa do empresário Marcos Valério, pedindo para ser ouvido e relatando correr
risco de vida.
Ao
receber o recado, o presidente da corte, ministro Carlos Ayres Britto,
determinou sigilo e encaminhou o documento ao relator do caso, Joaquim Barbosa.
O
STF confirmou ter recebido a mensagem, mas não divulgou o conteúdo, quem
assinou, nem mesmo em que data a mensagem chegou.
Valério
teria dito em seu depoimento à Procuradoria-Geral, que o diretor do Instituto
Lula e amigo do ex- presidente, Paulo Okamotto, teria o ameaçado de morte, caso
ele "contasse o que sabia". Segundo o empresário, Okamotto o teria
procurado por ordem de Lula.
"Tem
gente no PT que acha que a gente devia matar você", teria dito Okamotto.
Procurada pelo jornal, a assessoria do diretor informou que ele responderá às
acusações "quando souber o teor do documento".
CASO CELSO DANIEL
Reportagem
da revista "Veja" do início de novembro informou que Marcos Valério
revelou em depoimento recente ao Ministério Público Federal ter detalhes
envolvendo o PT no assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em
janeiro de 2002.
Segundo
a reportagem, Valério disse que o ex-presidente Lula e o secretário-geral da
Presidência, Gilberto Carvalho, estavam sendo extorquidos por figuras ligadas
ao crime de Santo André.
Ronan
Maria Pinto, que é apontado pelo Ministério Público como integrante de um
esquema de cobrança de propina na prefeitura, seria um dos suspeitos de
chantagear Lula e Carvalho.
A
revista diz que Valério foi procurado por petistas para pagar o dinheiro da
chantagem, mas que ele teria se recusado. Segundo ele, quem teria ficado com a
missão seria um amigo pessoal de Lula, que utilizou um banco não citado no
mensalão.
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