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Houve um tempo na história do Ocidente em que se
afirmar a descrença em Deus poderia custar a vida do ousado cidadão.
Atualmente, passados alguns séculos, a violência física contra ateus ficou mais
restrita a países que vivem sob forte influência do fundamentalismo islâmico.
No entanto, a desconfiança contra pessoas que simplesmente escolheram viver sem
precisar acreditar no mesmo que milhões de religiosos acreditam ainda é grande.
Foi pensando nisso e na maior integração entre aqueles que vivem e celebram o
livre pensamento, o respeito às diferenças, a liberdade de expressão e o direito
a não crença em deuses que acontece, neste domingo (17), em várias cidades do
País, o segundo Encontro Nacional de Ateus (ENA). Em Pernambuco, o evento
ocorre no Espaço Ciência, no Complexo de Salgadinho, em Olinda, a partir das
13h, com entrada franca.
O ENA é promovido nacionalmente pela Sociedade
Racionalista e localmente pela Sociedade Livres Pensadores de Pernambuco e Ape
(Ateus e Agnósticos de Pernambuco), associação sem fins lucrativos, cuja missão
principal é lutar pelo estado laico – o qual se caracteriza pela separação
efetiva entre governo e religião. “Em países como o Brasil, onde há
predominância de grupos religiosos, é comum haver a ideia básica de que pessoas
sem religião não seguem valores morais e éticos. Trata-se, na verdade, de ignorância
e preconceito”, critica Pedro Paulo Guimarães, integrante da Ape e um dos
organizadores do encontro.
Em Olinda, a programação do ENA terá diversas
atividades como sorteio de brindes, depoimentos ao estilo como me tornei ateu e
duas palestras baseadas no tema Aspectos Sociopolíticos e Jurídicos do Estado
Laico.
Para Pedro Paulo, eventos como esse são importantes
para que os ateus sejam notados e, acima de tudo, respeitados. “Somos cidadãos.
Somos médicos, professores, donas de casa, estudantes, pagamos impostos,
sofremos e nos encantamos como qualquer outra pessoa”, explica. “Muitos jovens
e adultos têm medo ou vergonha de assumirem-se ateus, pois sabem que sofrerão
algum tipo de discriminação na própria família, no trabalho, ou de vizinhos”,
complementa.
Em junho de 2008, pesquisa da Fundação Perseu Abramo
feita em parceria com a ONG alemã Rosa Luxemburg Stiftung ouviu 2014 pessoas,
acima de 16 anos, em 150 municípios de todas as regiões do País. A intenção era
levantar informações sobre a intolerância sexual no País. Mas, além dessa
questão, os dados colhidos e apresentados em 2009 mostraram uma realidade no
mínimo intrigante sobre a visão dos brasileiros em relação aos ateus.
Perguntados sobre quais as pessoas que menos gostam de
encontrar, 35% dos entrevistados responderam que são os usuários de drogas,
seguidos pelos ateus (26%) e ex-presidiários (21%). Essa repulsa a pessoas
descrentes em deuses é alimentada em boa medida, na visão de Pedro Paulo, pelo
discurso de líderes religiosos que associam ateísmo à maldade, como se todos os
ateus fossem indivíduos prontos a cometer todo tipo de atrocidade.
“A capacidade de relacionar-se com outras pessoas,
mantendo relação de amizade ou afetividade, não depende de crenças religiosas
ou da ausência delas. Somos solidários, cultivamos a amizade, o respeito e o
amor. Celebramos a vida, a arte, o conhecimento, como qualquer pessoa que
professe uma religião”, rebate Guimarães.
INTIMAÇÃO: No
fim do mês passado, a TV Bandeirantes foi intimada pelo juiz federal Paulo
Cezar Neves Junior, de São Paulo, a prestar esclarecimentos públicos devido a
declarações do apresentador Luiz Datena contra descrentes. No dia 27 de julho
de 2010, Datena (que professa a religião católica) responsabilizou os ateus
pelos crimes, violência e males do mundo. As acusações foram motivadas pelo
assassinato de um garoto. “Um sujeito que é ateu não tem limites e é por isso
que a gente vê esses crimes aí”, comentou Datena.
Durante quase cinquenta minutos, o apresentador e o
repórter Márcio Campos fizeram comentários preconceituosos contra os ateus.
“Esse é o garoto que foi fuzilado. Então, Márcio Campos, é inadmissível; você
também que é muito católico, não é possível, isso é ausência de Deus, porque
nada justifica um crime como esse, não Márcio?”, disse Luiz Datena.
Em 2011, alunos do Curso de Produção em Mídia
Audiovisual da Universidade de Santa Cruz do Sul (RS) produziram o documentário
Além do ateu e do ateísmo. O filme contém depoimentos de ateus e um religioso a
respeito da discriminação a pessoas descrentes em Deus. Assista ao vídeo,
abaixo.
FAMOSOS: É
bem provável que os religiosos antipáticos a ateus e a agnósticos (gente
desinteressada na existência ou inexistência de Deus) não se dêem conta que
entre esses há diversas personalidades famosas e certamente queridas por
pessoas dos mais variados credos. No Brasil, por exemplo, a lista inclui os
atores Selton Melo, Andréa Beltrão, Camila Pitanga, Alinne Moraes, Antônio
Fagundes e Lima Duarte; o médico Drauzio Varella; os músicos Nando Reis, Tony
Belloto (Titãs), Caetano Veloso e Chico Buarque; os jornalistas Ricardo Boechat
e Juca Kfouri, o cineasta Arnaldo Jabor, entre muitos outros.
Um comentário:
idiotas
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