sexta-feira, 15 de março de 2013

Esqueletos encontrados no Bairro do Recife contam histórias dos séculos 16 ou 17

Foto: Guga Matos/JC Imagem
Como num jogo de quebra-cabeça, arqueólogos da Fundação Seridó que descobriram um cemitério com 14 esqueletos humanos no Bairro do Recife combinam peças para identificar a origem dos sepultamentos, associados aos séculos 16 ou 17. As pistas são retiradas de ossos e dentes, onde estão preservadas informações capazes de revelar doenças, hábitos de vida e até a raça. O dente incisivo de um deles, por exemplo, não apresenta características de ancestralidade africana ou indígena.


 “Provavelmente é um europeu”, diz o arqueólogo forense Sérgio Monteiro, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). No osso da tíbia de um dos esqueletos há sinais de um tumor perto do joelho e calcificação junto do calcanhar, indicando que a pessoa mancava. Marcas no dente de outro esqueleto evidenciam fumante de cachimbo. “O dente se desgasta no lugar onde se prende o cachimbo”, explica.

Ossos ainda em processo de formação revelam a existência, no grupo, de pelo menos três adolescentes com idades de 15 a 17 anos. Talvez fossem grumetes (marinheiros em início de carreira), pondera o professor. Outro esqueleto tem o crânio perfurado, o que pode ter provocado a morte. Até agora, não há indícios de covas, caixões e roupas (botões e metais).

“Pela postura dos esqueletos, eles foram enterrados em covas muito estreitas ou envoltos num manto, com o corpo comprimido. Como não há sinais de caixão, podem ter sido deixados diretamente no chão.” Os corpos enrolados em mortalhas sugerem sepultamentos judaicos, comenta o professor. A hipótese de vítimas de doença em massa (peste) ou de guerra não é descartada.

A medição do crânio, diz ele, ajudará a revelar informações sobre a raça. Exames de isótopos estáveis nos dentes funcionarão como indicadores para descobrir do que se alimentavam. “Com isso, também podemos saber de onde vieram. Pelos dentes bem preservados, a comida era mole.” Esta semana, os pesquisadores iniciaram outra etapa do trabalho, o registro dos sepultamentos com o uso do scanner laser, do Instituto Nacional de Paleontologia e Arqueologia do Semiárido do Nordeste, criado por professores e pesquisadores de universidades federais.

Jornal do Commercio

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