Foto: Guga Matos/JC Imagem |
Como num jogo de quebra-cabeça,
arqueólogos da Fundação Seridó que descobriram um cemitério com 14 esqueletos
humanos no Bairro do Recife combinam peças para identificar a origem dos
sepultamentos, associados aos séculos 16 ou 17. As pistas são retiradas de
ossos e dentes, onde estão preservadas informações capazes de revelar doenças,
hábitos de vida e até a raça. O dente incisivo de um deles, por exemplo, não
apresenta características de ancestralidade africana ou indígena.
“Provavelmente é um europeu”, diz o arqueólogo
forense Sérgio Monteiro, professor da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE). No osso da tíbia de um dos esqueletos há sinais de um tumor perto do
joelho e calcificação junto do calcanhar, indicando que a pessoa mancava.
Marcas no dente de outro esqueleto evidenciam fumante de cachimbo. “O dente se
desgasta no lugar onde se prende o cachimbo”, explica.
Ossos ainda em processo de
formação revelam a existência, no grupo, de pelo menos três adolescentes com
idades de 15 a 17 anos. Talvez fossem grumetes (marinheiros em início de
carreira), pondera o professor. Outro esqueleto tem o crânio perfurado, o que
pode ter provocado a morte. Até agora, não há indícios de covas, caixões e
roupas (botões e metais).
“Pela postura dos esqueletos,
eles foram enterrados em covas muito estreitas ou envoltos num manto, com o
corpo comprimido. Como não há sinais de caixão, podem ter sido deixados diretamente
no chão.” Os corpos enrolados em mortalhas sugerem sepultamentos judaicos,
comenta o professor. A hipótese de vítimas de doença em massa (peste) ou de
guerra não é descartada.
A medição do crânio, diz ele,
ajudará a revelar informações sobre a raça. Exames de isótopos estáveis nos
dentes funcionarão como indicadores para descobrir do que se alimentavam. “Com
isso, também podemos saber de onde vieram. Pelos dentes bem preservados, a
comida era mole.” Esta semana, os pesquisadores iniciaram outra etapa do
trabalho, o registro dos sepultamentos com o uso do scanner laser, do Instituto
Nacional de Paleontologia e Arqueologia do Semiárido do Nordeste, criado por
professores e pesquisadores de universidades federais.
Jornal do Commercio
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