Da Agência USP de Notícias
Apesar do aumento da expectativa
de vida da população brasileira, um estudo desenvolvido pela Faculdade de Saúde
Pública (FSP) da USP aponta que os idosos estão vivendo com menor qualidade de
vida, já que convivem mais tempo com doenças crônicas típicas da faixa de
idade. De acordo com a pesquisa, exames e tratamentos preventivos ajudam a
evitar esse processo.
Segundo o médico geriatra
Alessandro Campolina, parte desse aumento de tempo de enfermidade se deve à
falta de políticas de prevenção eficientes e voltadas para a população mais
velha. Ele é o autor da pesquisa que buscou avaliar a ocorrência de um processo
chamado de compressão da morbidade. Esse conceito, surgido na década de 1980,
lançava a hipótese de que, com o envelhecimento das populações, os anos ganhos
pelas pessoas com a melhoria dos serviços de atendimento seriam anos vividos em
bom estado de saúde.
O estudo
Segundo o estudo-base da
pesquisa, até a década de 1970 e 1980, se tinha a ideia central de que o
aumento de expectativa de vida da população seria uma espécie de fracasso em
termos de saúde. "Os estudiosos pensavam que, embora conseguissem fazer as
pessoas viverem mais tempo, elas viviam em uma situação de saúde pior",
explica Campolina.
A partir da década de 1980, as
pesquisas passaram a contrariar as hipóteses anteriores, afirmando que a
população vivia mais e em um quadro de saúde bom. A nova teoria também
levantava o ponto de que a população humana apresenta um limite máximo, ainda
não estabelecido com precisão, de tempo de vida. À medida que a melhoria das
condições de vida vai se estabelecendo, a população tende a se aproximar cada
vez mais desse limite.
Da mesma forma que a expectativa
de vida ia sendo trazida para o limite máximo de vida da pessoa, o limiar de
aparecimento de doenças crônicas, comuns na população idosa, também vai sendo
empurrado.
"Num primeiro momento, o
tempo limite máximo de aparecimento das doenças crônicas não mudaria com o
aumento da expectativa de vida. Posteriormente, observou-se que o início de
aparecimento das doenças também é postergado, mantendo, e talvez diminuindo, o
tempo de vida da pessoa portando a doença". A diminuição desse intervalo
entre o aparecimento das doenças e a morte, a ciência dá o nome de compressão
da morbidade.
Análises em domicílio
O projeto teve como objeto de
avaliação participantes do Projeto Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE),
desenvolvido pela FSP, que acompanha idosos da cidade de São Paulo desde o ano
2000 em diversos aspectos, tais como saúde e qualidade de vida. "No
estudo, nos atentamos para aspectos sociodemográficos, condições de saúde,
capacidades e desempenho de atividades de vida diária pela população
idosa", ressalta Campolina.
A coleta dos dados era realizada
por uma equipe especializada, que colhia as informações nos domicílios e traziam
os dados para análise. "O interessante, do ponto de vista temporal, era
comparar a população de 2000 e de 2010 para saber se houve compressão da
morbidade, e os estudos mais recentes estão nos dando uma resposta negativa
para essa pergunta", completa o pesquisador.
Prevenção e resultados
O estudo buscou levantar a
importância das medidas de prevenção das doenças crônicas na contribuição para
a chamada compressão da morbidade. A conclusão é de que algumas das principais
doenças crônicas que acometem a população idosa, entre elas a hipertensão
arterial sistêmica, doença articular, doença cardíaca, diabetes mellitus tipo
2, doença mental, doença pulmonar crônica e doença cerebrovascular, uma vez
prevenidas, contribuem de maneira significativa para a melhoria da qualidade de
vida e para a longevidade dos idosos.
Campolina ressalta que esses
métodos preventivos não são frequentemente incentivados na população mais
velha, e que isso é uma visão equivocada. "A medicina ainda acredita que
prevenção é sinônimo de pacientes jovens. Mas a prevenção de doenças é uma
estrategia afirmativa, mesmo nos idosos, para prolongar o tempo de vida e
ganhar qualidade de vida, e o estudo comprovou isso", afirma.
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