Você provavelmente conhece ou até
participa dos grupos de troca e venda do Facebook. Elogiadas pela praticidade e
velocidade em concretizar negócios, as comunidades desse tipo também se prestam
a objetivos escusos. A Copa do Mundo escancarou essa particularidade: o
cambismo tem acontecido livremente na rede social. A reportagem da Folha de
Pernambuco flagrou cobranças extorsivas numa página que tem mais de 20 mil membros.
Os cambistas virtuais - a maior parte deles sem experiência na prática - chegam
a pedir 22 vezes o preço original do ingresso (Holanda x Chile, no Itaquerão,
de R$ 60 por R$ 1.350).
O funcionamento do grupo de
comercialização de bilhetes é simples. A pessoa faz uma solicitação para
participar - que, em geral, é aceita em poucos minutos. Depois disso, o membro
pode anunciar a venda de ingressos ou publicar o interesse em determinadas
partidas. A negociação propriamente dita normalmente acontece em mensagens
privadas.
A Folha entrou em contato com
três vendedores, cujas identidades serão preservadas. Um deles tentou vender
ingresso para a categoria 4 de Alemanha x Estados Unidos, na Arena Pernambuco,
no próximo dia 26, por R$ 300. Para esse setor específico, o bilhete é vendido
oficialmente por R$ 60.
O segundo vendedor tinha
ingressos disponíveis para mais partidas. Alegou que estava vendendo vários
bilhetes para conseguir arrecadar dinheiro suficiente para a final do Mundial.
Daí, os preços abusivos, explicou. Ele negocia uma entrada no jogo Coreia do
Sul x Bélgica, em São Paulo, pela primeira fase, por R$ 600. O valor original
para partidas desse tipo, na categoria 4, é dez vezes menor: R$ 60. Ele também
vende ingressos para o setor 4 – o mais barato - de um duelo de oitavas de
final, que também acontece na capital paulista. Comprou por R$ 110 e quer
repassar por R$ 1.500. Valor mais de 13 vezes superior ao praticado pela Fifa.
O terceiro anunciante tentou
vender entradas para a partida Espanha x Chile, no Maracanã, às 16h de 18 de
junho. O detalhe é que o ingresso é do lote promocional reservado para quem
trabalhou na obra do estádio. E, conforme impresso no próprio bilhete, não pode
ser vendido. O preço? R$ 1.500 cada um. Os dois, juntos, têm “desconto”: saem a
módicos R$ 2.500. Quando um dos membros do grupo criticou a inflação dos
valores, o cambista aludiu à regra mais conhecida do mercado. “Lei da oferta e
de procura. Tu lembra que o quilo do tomate chegou a ser comercializado por R$
15? Pois é meu jovem, os ingressos são meus. Se eu conseguir esse valor,
beleza. Caso não, vou ao jogo”, argumentou.
A comercialização de ingressos
acima do preço original configura crime: de acordo com o Estatuto do Torcedor,
quem for flagrado vendendo entradas por valor superior ao impresso no próprio
bilhete pode ser preso por até dois anos.
Riscos - Além do prejuízo
financeiro, o torcedor que comprar ingressos a cambistas correrá outro risco: o
de não assistir às partidas. Os bilhetes da Copa são nominais. E há
fiscalização para impedir impostores de entrar nos estádios. Só é possível
substituir a titularidade diretamente com o consentimento da Fifa, que só
autoriza transferência para um convidado particular e para pessoa da mesma
família. Ou em caso de doença grave e morte. Em qualquer outra situação, o
ingresso deve ser devolvido à entidade, que ressarce o valor e revende a
entrada.
Fifa faz alerta aos torcedores
A Fifa tenta combater o problema,
que classifica como global, usando o aparato que tem à sua disposição. O
departamento de Imprensa da entidade explicou - sem revelar muitos detalhes -
como acontece o controle. “Estamos trabalhando em todo o mundo em conjunto com
inúmeras autoridades governamentais e/ou responsáveis pela aplicação da lei com
o objetivo de atingir um número significativo de revendedores não autorizados”.
As atenções da organização não
são especificamente voltadas para pessoas que vendem ingressos individualmente.
O grande problema detectado pela Fifa são as empresas que vendem bilhetes
falsos. “Essas empresas já estão oferecendo ingressos que muitas vezes nem
sequer têm, a preços exorbitantes e altamente inflacionados”, afirma a
entidade, que pede alerta máximo aos torcedores - os verdadeiros prejudicados
com a situação. “Para dar um exemplo dramático que se passou numa Copa do Mundo
da FIFA anterior: na final de 2010, em Joanesburgo, centenas de torcedores
foram impedidos de entrar no estádio Soccer City, já que haviam comprado
ingressos no www.euroteam.net, que eram falsos”, adverte.
Fiscalizar a atuação dos
cambistas também é atribuição da Delegacia do Consumidor, da Polícia Civil de
Pernambuco. Mas, de acordo com o delegado Roberto Wanderley, o principal alvo
de controle são os cambistas “físicos”. Aqueles que vendem os bilhetes a preços
altos nos arredores do estádio e dos pontos de venda. A comercialização ilegal
na internet, ele admite, não é o principal foco. “Se surgir alguma denúncia ou
algo mais concreto, nós vamos atrás. O que sabemos de cambismo na internet é de
ouvir dizer”, afirma.
O problema dos cambistas acontece
em todo o Brasil. Na semana passada, um argentino foi preso ao tentar vender
oito ingressos da Copa no Rio de Janeiro. As entradas estavam sendo
comercializadas por até R$ 1.300. O preço máximo pedido pela Fifa por aquele
tipo de bilhete era R$ 350.
Folha de Pernambuco
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