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Parece mentira, mas já foi possível comprar um quilo de frango com apenas R$ 1. Um os símbolos do Plano, o produto representava a
estabilidade econômica proporcionada pela nova moeda e que possibilitou a
inclusão do item a dieta de muitas famílias de baixa renda. Entretanto, a
inflação acumulada de 360%, de 994 a 2014, medida pelo Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), já corroeu grane parte do poder de compra o real. Se
há 20 anos o consumidor pagava R$ 1 por um determinado produto, hoje ele desembolsa
cerca de R$ 4,60 ela mesma mercadoria.
O comprador pode nem entender os índices financeiros, as
sabe traduzir o fenômeno econômico que atinge diretamente o seu bolso. “Hoje em
ia o dinheiro não rende, não compro nem metade do que conseguia antigamente”,
diz a vendedora Nataly Jasiane. Os comerciantes confirmam o aumento nos preços.
A porção de frutas vendida nas bancas de comércio do centro do Recife triplicou
de valor. “Custa R$ 3, porém o freguês consegue levar a unidade pelo preço
antigo”, diz o comerciante Evaldo Santana.
Pelo Mercado de São José as fitinhas de Nosso Senhor do
Bonfim e os chaveiros estão entre as poucas opções que custam R$ 1. “Deveria
cobrar R$ 2 pelos chaveiros. Muitas vezes faço pela metade do preço apenas para
garantir a venda”, explica a proprietária de loja, Sueli Rosa. “Hoje, o Real
não vale muitos vinténs”, comenta a comerciante Jaudecir Bezerra, comparando o
dinheiro com a moeda que virou sinônimo de coisas sem valor.
Outro garoto-propaganda no lançamento do Plano,o pão francês
também não ficou imune à alta. O real que comprava 10 pãezinhos vendidos por
unidade, atualmente só garante dois francesinhos comercializados no peso. “O
aumento da farinha e de outros custos, como energia elétrica também influenciaram
no acréscimo”, explica o gerente da Padaria Imperatriz, Jorge Ferreira.
Se o pão encarece, o cachorro-quente acompanha. No começo do
real o comerciante João Rodrigues cobrava R$ 1 pelo lanche acompanhado de um
copo de suco. Agora, o lanche custa R$ 3, sem direito à bebida. “Temos que
repassar o aumento dos custos para os consumidores, contudo isso termina
prejudicando o negociante”, conta.
Desvalorização - Além da inflação, a explicação para a perda
do poder de compra do real também está relacionada à baixa produtividade
brasileira, na opinião do coordenador do curso de Economia da Faculdade Boa
Viagem (FBV), Antônio Pessoa. “A economia nacional sofreu um choque de
modernidade como Plano, todavia permaneceu sofrendo com problemas de
infraestrutura que afetam a produtividade e os preços. Nos Estados Unidos a
inflação está em um patamar próximo do brasileiro, contudo a produtividade da
economia permite um crescimento real”, conclui.
Para o economista da Datamétrica, Alexandre Rands, o cenário
é de continuidade de perda de poder de compra nos próximos anos. “O panorama
econômico de 2015 já está praticamente desenhado e não deve ser muito diferente
do que temos vivenciado este ano. A depender das eleições, podemos ter mais
contundentes para 2016”, avalia.
Lojas de R$ 1,99 eram símbolo do Plano
O fenômeno das lojas de $ 0,99, que logo reajustaram os
valores para $ 1,99, surgiu de carona com o Plano Real. Este tipo e negócio
ganhou espaço raças ao controle da inflação e à estabilidade do dinheiro, que
alavancaram o consumo das famílias de menor poder aquisitivo, e a
competitividade da nova moeda junto ao dólar, tornando as importações mais
viáveis.
A volta da inflação, ainda que em níveis mais brandos,
abateu o segmento. Os estabelecimentos que conseguiram driblar a crise tiveram
que reinventar o próprio negócio e partiram em busca de novas estratégias. É o
caso da Mundo dos Presentes, no bairro de São José, que assumiu o slogan ‘a
partir de R$ 1”. A ampliação da faixa de preços acompanhou o incremento do mix
de produtos. Contudo, a representatividade de artigos com menor custo diminuiu.
“Vendíamos brinquedos como carrinhos por R$ 1. Atualmente os carrinhos do mesmo
modelo custam R$ 3,99”, conta o gerente Waldeck Almeida.
Mesmo com todo o reposicionamento do negócio, o aumento da
inflação significou queda no resultado de vendas. “O resultado continua caindo
mensalmente porque as pessoas estão mais endividadas e procuram segurar os
gastos”, conta Almeida.
Folha de Pernambuco
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