terça-feira, 14 de outubro de 2014

Desapropriados da Copa do Mundo são ouvidos pelo MPPE

Desapropriados da Copa do Mundo ainda não indenizados foram ouvidos pelo procurador-geral do estado, Aguinaldo Fenelon, no prédio do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), no Recife. Violações de direitos humanos contra duzentas famílias foram denunciadas pelos ex-moradores da área, onde deve ser construída a ampliação do Terminal Integrado de Camaragibe.

Além da necessidade de indenização, também foi alvo das queixas a ausência de apoio psicossocial no período pós-remoção. Reconhecida pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (unidade pública estatal), a fragilidade psicológica dos moradores removidos não foi levada em consideração no processo. Segundo os denunciantes, sete pessoas morreram de doenças decorrentes de depressões profundas.

O Comitê Popular da Copa, grupo que acompanha os processos de remoção ocorridos em função de obras da Copa do Mundo da Fifa, informou que 25% das famílias não aceitaram o valor oferecido pelo governo pelas suas casas, por considera-los baixos demais. Os outros 75% que aceitaram ainda não receberam o valor total acordados e trazem a morosidade do Poder Judiciário como fator para o não pagamento.

É o caso da dona de casa Gileine Pereira, 52, cuja família tinha três casas de dois andares na rua principal do bairro, junto do Terminal Integrado. "Aceitamos o acordo para evitar problemas. Mas recebemos só 50% do combinado e pagamos a primeira de duas parcelas de uma casa. Como não recebemos a segunda parte, ainda estamos devendo a casa. Imagine isso na cabeça de minha mãe de 86 anos".

Relatora da ONU para direitos adequados à moradia, Raquel Rolnik esteve no local no fim do ano passado e lembrou que  não se pode remover forçadamente uma família sem garantir a mesma - ou melhor - qualidade de moradia. Membro do Comitê Popular da Copa, Evanildo Barbosa confirmou a afirmação: "O Brasil é signatário de tratados internacionais de direitos humanos que protegem o povo brasileiro quanto à moradia."

Aguinaldo Fenelon pré-agendou uma nova reunião para o próximo dia 24 em Camaragibe, desta vez com a presença do defensor geral do Estado, Manoel Jerônimo de Melo Neto e da promotora  de Camaragibe, Ana Cláudia Walmsley. "Para essa reunião, precisaremos saber exatamente cada processo que não está andando, para que possamos nos articular com o Judiciário. Por outro lado, pediremos à Defensoria que designe um profissional que trabalhe especificamente para o caso".

Segundo o promotor de Direitos Humanos do Recife, Westei Conde, um eventual pedido de danos morais coletivos pode ser feito ao governo. "Eles sinalizaram nessa reunião a intenção e é algo cabível, provado o que foi alegado nessa reunião", explicou.


Diario de Pernambuco

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