A disparada do preço da energia
no mercado à vista, por causa do baixo nível dos reservatórios das
hidrelétricas, pegou algumas empresas no contrapé.
Mal orientadas (ou cientes
dos riscos do mercado à vista), elas não aguentaram o custo da eletricidade, hoje
em R$ 822 o megawatt/hora (MWh), ficaram inadimplentes, foram expulsas da
Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e tiveram a luz cortada.
Agora estão tendo de partir para o "plano B" para continuar em
operação. Uma das alternativas tem sido alugar geradores movidos a óleo diesel.
A ideia de reduzir os custos de
produção comprando energia elétrica mais barata parecia um ótimo negócio para
melhorar a competitividade da indústria metalúrgica Injet. Em 2012, quando o
preço da eletricidade no mercado à vista estava em cerca de R$ 40 o MWh, a
empresa decidiu fazer o que vários concorrentes já tinham feito: migrar para o
mercado livre, em que o consumidor tem liberdade para comprar a energia de quem
quiser.
Mas ela errou o momento. Em 2013,
quando a companhia estreou no mercado livre, o preço já havia subido para quase
R$ 350 o MWh. O custo da energia no mercado à vista, chamado de PLD, varia
conforme o nível dos reservatórios e a necessidade de colocar mais térmicas
para operar. Neste ano, as usinas do Sudeste e Centro-Oeste não conseguiram
recuperar o nível de suas represas por causa da escassez de chuvas, o que
manteve o preço no valor máximo.
Normalmente, as companhias que
migram para o mercado livre fecham contratos de médio e longo prazos para
reduzir os riscos de um período de estresse como o atual. O diretor da Injet,
Heverton Padilha, conta que, com a alta dos preços no mercado de curto prazo,
ficou muito difícil fechar um contrato de longo prazo com quem tinha energia
para vender - hoje contratos de um ano a partir de 2015 têm preços acima de R$
3 mil o MWh. Com isso, a empresa, de Caxias do Sul, ficou exposta ao mercado de
curto prazo, comprando energia diariamente ao preço do momento.
"Não tínhamos como manter o
novo patamar de custos e não podíamos voltar ao mercado cativo (atendido pelas
distribuidoras). Ficamos nunca situação complicada." Pelas regras do
setor, para voltar a ser atendido pelas distribuidoras o consumidor livre
precisa avisar com cinco anos de antecedência - ou por menos prazo, dependendo
da concessionária de energia.
Sem condições de arcar com o
aumento de custo, a Injet ficou inadimplente e foi desligada da CCEE. O efeito
dessa decisão é o corte da energia. Mas, com uma ação judicial, a empresa
conseguiu adiar a medida até a semana passada, quando a liminar caiu e o aviso
de desligamento da luz chegou. "Para continuar operando, alugamos dois
geradores a óleo diesel. Apesar de ser caro, o custo da energia será menor que
o mercado spot (à vista)", diz Padilha.
Solução milagrosa
Ele reclama da posição das
comercializadoras no processo de migração. "As empresas chegam com uma
solução milagrosa e depois deixam a gente na mão." Segundo o executivo de
uma grande comercializadora, que prefere não se identificar, algumas empresas
são mais aventureiras e apostam na sorte. Mas tem havido muitos problemas
decorrentes de consultorias erradas. Nosso trabalho é aconselhar o consumidor,
ter uma visão clara do que pode ocorrer, ver o clima e posicionar o
cliente."
Pelos dados da CCEE, 16 empresas
foram desligadas até outubro de 2014 por descumprimento das obrigações, sendo a
principal a falta de pagamento das faturas mensais. Outras 10 companhias
conseguiram liminares para continuar no mercado. A metalúrgica Caliendo, do Rio
Grande do Sul, também tem brigado com a Câmara desde o primeiro semestre. No
fim do mês passado, a ação perdeu seus efeitos e a empresa ficou sujeita ao
corte de energia.
A Caliendo migrou para o mercado
livre em outubro de 2013, quando o preço estava em R$ 270. Naquela época, no
entanto, havia expectativa de que as chuvas de verão recuperariam os
reservatórios e os preços recuariam. O cenário não se confirmou e o preço
subiu. Em janeiro deste ano, a empresa já começava a sentir o peso do custo
elevado. Priorizou o pagamento de salários e fornecedores, deixando a conta de
luz pendente.
A dívida da Caliendo é de R$ 1
milhão. A exemplo da Injet, a empresa também optou pelos geradores a óleo
diesel para produzir energia para o funcionamento da fábrica. Até semana passada,
ela ainda não tinha recebido aviso de corte da luz. Na ata de reunião da semana
passada, a CCEE informa a contratação de um escritório de advocacia para mover
ações contra sete empresas que já foram excluídas do mercado e continuam
inadimplentes.
Agência Estado
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