Do O Globo
imagem: g1.globo.com |
RIO - O universo nordestino foi o grande tema da segunda
noite de desfiles no Sambódromo. Unidos da Tijuca (com “O dia em que toda a realeza desembarcou na Avenida para
coroar o Rei Luiz do Sertão”, em homenagem a Luiz Gonzaga) e Salgueiro (com “Cordel branco encarnado”)
fizeram desfiles arretados, que encantaram o público com vaqueiros, romeiros e
sanfoneiros, entre outros ícones da cultura do Nordeste.
Mas a Mangueira também arrebatou boa parte do público
com um desfile mais carioca (“Vou festejar! Sou cacique, sou Mangueira”) em que
emoção falou mais alto, quando bateria e intérpretes silenciaram para os
integrantes e o público cantarem o samba da verde e rosa sozinhos, por cerca de
três minutos, numa “paradona”.
União da Ilha do
Governador (“Eu acredito em você! E você?
Histórias de superação”), Grande Rio (“De Londres ao Rio: era uma vez... uma Ilha”, sobre Londres) e São Clemente (“Uma aventura musical na Sapucaí”,
sobre musicais) também passaram bem pela avenida, sem grandes problemas.
No domingo, primeiro dia de desfiles, os grandes destaques
foram Unidos de Vila Isabel, Portela e Beija-flor. Já a Mocidade
Independente de Padre Miguel foi a preferida do público, segundo
pesquisa do Ibope feita no Sambódromo.
Mesmo num enredo sobre Luiz Gonzaga, não faltaram no desfile da
Unidos da Tijuca personagens pop como Michael Jackson
(que, juntamente com Pelé, Roberto Carlos e outros “reis”) estiveram presentes
em três setores da escola (incluindo duas alegorias: o abre-alas, que
simbolizava o desembarque real, e o quinto carro, que mostrava a travessia pelo
rio São Francisco). Mas o grande destaque do desfile idealizado pelo
carnavalesco Paulo Barros foi o setor que trazia duas alas e um carro alegórico
de componentes vestidos como bonecos de barro. A começar pelo segundo casal de
mestre-sala e porta-bandeira, Vinícius e Jackellyne, que evoluíram como
esculturas de mestre Vitalino, em tom terracota. Combinando com eles, veio toda
uma ala de bonecos de barro e a terceira alegoria, "Do barro se fez a
vida", com esculturas vivas que fizeram a fama do carnavalesco, carregando
sanfonas prateadas. Outro ponto alto do desfile foi a comissão de frente, com
componentes escondendo-se em estruturas que representavam foles de sanfonas,
remexendo-se como que ao som do instrumento, que arrancou gritos de "é
campeã". Também no abre-alas, um modernoso aeroporto estilizado, alguns
componentes estendiam uma enorme faixa com a foto de Joãosinho Trinta, para
homenageá-lo.
Já o Salgueiro de Renato Lage e Márcia Lávia - que já brilharam
com enredos futuristas - levou para a avenida o mundo do cordel ao pé da letra,
no melhor sentido. A começar pela bateria Furiosa de
mestre Marcão, que deu toques de xote ao samba, acertando em cheio no gosto
popular. A ala das baianas também fez bonito, com todas elas rodando lindas
roupas de cangaceira, para lembrar Maria Bonita, assim como a ala de Antônio
Conselheiro, com integrantes usando vestes de padre estilizadas, em tom
terroso, com estampas sertanejas nas barras, e carregando uma espécie de cajado
com o espírito Santo na ponta. A nota dissonante, mais uma vez, foi a pressa:
passada uma hora e oito minutos de desfile, ainda faltava meio Salgueiro chegar
à Apoteose. O último carro passou voando pelo setor 9. A escola - que vem
desfila tradicionalmente com muitos integrantes e carros pesados - por apenas
dois minutos não repetiu este ano o que aconteceu em 2011, quando estourou o
tempo e amargou um quinto lugar.
A Estação Primeira de Mangueira arriscou ao promover a
“paradona”: atendendo um pedido do presidente da escola, Ivo Meirelles, os 250 ritmistas comandados por mestre Aílton Nunes ficaram sem
tocar os instrumentos por cerca de três minutos aos 23 minutos da apresentação
da verde e rosa. No primeiro minuto sem som, tudo ia bem. Mas o canto
esmoreceu, e o som da bateria e dos intérpretes não voltava. Começou a parecer
que era um problema técnico. Outras paradas se seguiram até que, aos 42
minutos, a pausa nos instrumentos e na voz dos puxadores gerou evidentes
problemas de harmonia, com o canto atravessando na avenida. Ao que parece, a
ideia da escola - que trouxe seus principais intérpretes, entre eles Luizito,
acompanhado de Noca da Portela e Dudu Nobre, em uma espécie de tripé na bateria
- era deixar o canto deles fluir como num grupo de pagode, enquanto o som
oficial da avenida, onde estava plugados os microfones dos puxadores de apoio,
no carro de som, era desligado nas paradinhas e paradonas. Mas não deu certo.
Ao menos para quem não estava assistindo ao desfile exatamente em frente aos
músicos, e que não os ouvia.
Outra inovação controversa da Mangueira foi trazer o segundo
casal de mestre-sala e porta-bandeira no lugar do primeiro casal, que vinha
"escondido" no meio da bateria e assumia seu lugar no meio do
desfile. A novidade não aparecia na sinopse do desfile, chamada de abre-alas,
distribuída pela Liga às vésperas do desfile. No roteiro da escola, não
constavam sequer os dois casais, mas apenas a palavra "surpresa" na
ala da bateria e na alegoria seguinte. A palavra "surpresa" também
aparece na comissão de frente. A verde e rosa fechou seu desfile em exatos 82
minutos e terminou a apresentação aos gritos de "É campeã"!
Ao falar de uma ilha, o Reino Unido, a União da Ilha acabou
trazendo para a avenida a nobreza do samba da Ilha do Governador. E as fantasias ricas e bem acabadas do carnavalesco Alex de
Souza souberam manter as características da escola, brincalhona e irreverente.
Foi grande o impacto da chegada da comissão de frente à avenida, com a
carnavalesca Maria Augusta de rainha da Inglaterra, ao lado do gari Sorriso,
com uniforme de gala, em uma imponente carruagem, acompanhada de cavalos reais.
A bandeira insulana vinha na vassoura de Sorriso, que levantou o público com
seu gingado. Outros dois bons momentos da Ilha na avenida foram a ala que encenava
a tragédia de Romeu e Julieta, e a dos chá das cinco, com integrantes
fantasiados de xícaras em volta de uma foliã fantasiada de bule, cuja tampa era
uma sombrinha. As alas que formavam os cinco arcos olímpicos, com integrantes
em azul, preto, amarelo, vermelho e verde brincando de roda, já no último
setor, arrancaram palmas.
A São Clemente entrou na avenida com determinação para se manter
no Grupo Especial. E agradou com as paradinhas da
bateria dos mestres Gilberto Almeida e Caliquinho, que teve direito a solos de
violino ("um violino anuncia, vem viajar com a magia", dizia o
samba). A escola da Zona Sul, que cantou um enredo sobre espetáculos musicais
de sucesso, surpreendeu com inovações como uma imensa mulata inflável, que
parecia sambar enquanto flanava sobre o último setor da escola. O segundo casal
de mestre-sala e porta-bandeira, Anderson e Monique, também fez sucesso com o
público representando “A bela e a fera” e foi muito aplaudido. Ele,
caracterizado com máscara e rabo, carregava uma flor vermelha para cortejar sua
bela. Outro destaque foi a ala de Cats, com integrantes vestidos com
quentíssimas roupas de gato que iam em direção às frisas para mostrar as garras
para o público, como no musical.
Para fechar a noite, a Grande Rio apostou na superação como tema
do seu desfile. A comissão de frente divertiu o
público ao tratar das formas de superação dos medos da infância com uma
performance que contou com a participação dos atores Katiuscia Canoro, Samantha
Schmütz, Wagner Trindade e Marcos Veras, do quadro das crianças no programa
humorístico "Zorra Total" sobre uma imensa cama onde se escondiam
fantasmas. Também agradou a interação entre a rainha de bateria Ana Furtado e
seus ritmistas. Em alguns momentos eles abriam alas para que ela desfilasse entre
seus súditos. Apesar do bom acabamento das fantasias, o que pode prejudicar a
agremiação foi o desleixo de alguns foliões que, mesmo em frente a alguns
módulos de jurados, paravam para arrumar a própria roupa. Outros chegaram a
desfilar apenas com chinelos de dedos ou sem adereços, como chapéus. Também
podem causar problemas de evolução um buraco aberto em frente à terceira
alegoria, em frente ao setor 7, e a correria dos integrantes ao fim do desfile.
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