Golden Retriever, Aisha foi treinada por dois anos no Kennel de Pernambuco para se tornar cão-guia Foto: divulgação Kennel Club Pernambuco |
O Kennel Club do Estado de
Pernambuco inaugurou, nesta sexta-feira (12), um Centro de Formação de
Cães-Guias. Com isso, o Estado tornou-se o único do Norte e Nordeste do Brasil
a contar com esse tipo de serviço, considerado importante para a inclusão
social de pessoas com deficiência visual. Localizado na BR-101 Norte, no
município do Paulista, o clube de adestramento conta agora com 12 canis, uma
maternidade animal, um ambulatório para os cachorros e dois alojamentos, sendo um
feminino e outro masculino, para receber os cegos que passarão pelo processo de
treinamento até receber o cão.
De acordo com o presidente do
Kennel de Pernambuco, Luiz Alexandre, o clube é pioneiro na proposta de
desenvolver trabalhos em que o animal possa trazer benefícios para as pessoas.
"Nós já desenvolvíamos o trabalho dos cães doutores e agora essa proposta
dos cães-guia. Estamos fazendo muito mais do que preservar a raça canina - que
é o objetivo inicial desse tipo de clube -, ou promover campeonatos, aqui nós
criamos condições para projetos sociais", orgulhou-se Alexandre que se
disse feliz com a inauguração do centro de formação.
Além de inaugurar a nova
estrutura, o Kennel Club de Pernambuco conseguiu entregar a cadela Aisha, da
raça Golden Retriever, para o professor Gustavo Soares Dantas, de 38 anos. A
fêmea, de dois anos, é o segundo animal que a organização entrega no Estado - o
primeiro foi o cão Simba, da mesma raça, entregue em novembro de 2013.
Para o novo tutor de Aisha, a
presença do cão-guia no dia a dia do cego traz mais segurança e rapidez nos
deslocamentos. "A entrega oficial foi nesta sexta, mas nós já estamos
morando juntos há um mês, como num período de adaptação. Agora faço meus
percursos em menos tempo e com mais segurança. Ela [a cadela] alerta para
buracos, por exemplo, que com a bengala a gente não percebe", contou
Gustavo, que vinha tentando ter um cão-guia há cerca de cinco anos.
O professor e funcionário público
mora no bairro Mustardinha, na Zona Oeste do Recife, e trabalha na área central
da capital pernambucana. Com isso, ele e a cadela usam transporte público e
transitam por locais muito movimentados, como a Avenida Conde da Boa Vista, uma
das principais da cidade. "As pessoas têm sido receptivas e até pedem para
tirar foto conosco. Também não tenho problemas nos ônibus, apenas algumas vezes
houve resistência com os taxistas, mesmo com uma lei tão clara sobre esse
assunto", comentou Gustavo Soares.
A entrega da cadela Aisha ao
professor Gustavo foi apenas o começo de um grande projeto, segundo o
presidente do Kennel Club de Pernambuco. "Em 2015 entregaremos mais dois
cães, e até 2017 vamos entregar cinco animais por ano. Isso significa muito uma
vez que, atualmente, cinco é o número de animais entregues por ano em todo o
País", ressaltou Luiz Alexandre.
O treinamento de um cão-guia -
geralmente das raças Golden Retriever ou Labrador - dura em média dois anos e
pode custar até R$ 30 mil. No entanto, o projeto do Kennel Pernambuco prevê a
cessão gratuita do animal ao cego, que deve seguir algumas regras para manter o
direito de posse. Entre as obrigações estão: levar o animal ao clube de
adestramento a cada três meses para que ele seja avaliado e passe por uma
reciclagem. Além disso, o bicho deve estar com boa saúde e as vacinas em dia.
"Não gosto de pensar que alguém possa não tratar bem esse animal, mas se
não houver o cuidado ideal para o cão-guia nós podemos exigir o mesmo de
volta", decretou Alexandre.
Em Pernambuco ainda não há uma
lista de espera para os próximos cães-guia que serão entregues, uma vez que os
responsáveis pelo Kennel Club do Estado preferiram tratar a implantação do
projeto com cautela e esperar pela inauguração do Centro de Formação para
iniciar o recebimento de pedidos. Agora, os deficientes visuais interessados
devem acessar o site www.kcep.com.br e mandar a solicitação na seção contato. O
pedido será avaliado de acordo com alguns requisitos como: ter entre 20 e 40
anos, ter mobilidade com a bengala (curso de acessibilidade), rotina ativa, e
condições financeiras para sustentar o animal (ração/medicamento/banho/tosa). A
"vida de trabalho" do cão-guia é de oito anos, após isso o animal
passa a ser um cão de estimação e deve ser substituído em suas funções diárias.
No Brasil, estima-se que haja
menos de 100 cães-guia para uma população de cegos que já ultrapassa os 500 mil
habitantes. A maioria desses animais é proveniente de escolas de adestramento
dos Estados Unidos ou do Canadá, o que torna seu custo maior do que os R$ 30
mil de um treinamento em terras brasileiras. Hoje, há cerca de cinco
instituições no País que preparam animais para o convívio com a pessoa cega,
sendo as principais localizadas em São Paulo e em Brasília.
Do NE10
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