O Ministério Público fez nessa
segunda-feira (16) as primeiras denúncias a 27 investigados na 10ª fase da
Operação Lava Jato. Entre eles está o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.
Ao mesmo tempo, no primeiro
pronunciamento após as manifestações do último fim de semana, a presidente
Dilma Rousseff afirmou que as denúncias provam que o partido não interfere nas
investigações.
"Eu acho que esse
acontecimento mostra que todas as teorias a respeito de como o governo
interferiu sobre o MPF, ou quem quer seja para investigar e fazer qual coisa, é
absolutamente infundada. Se querem investigar vão investigar, quem for
responsável pagará pelo que fez", disse a presidente durante uma
entrevista coletiva.
Entre os denunciados pelo MPF
estão o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, o ex-gerente da
empresa, Pedro Barusco, o doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor de
Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e alguns executivos de empreiteiras.
Eles são acusados de lavagem de dinheiro e corrupção.
De acordo com os procuradores que
apresentaram as denúncias, João Vaccari Neto participou de reuniões com Renato
Duque nas quais eram acertados valores a serem transferidos ao PT em doações
ilegais. O MPF afirma que foram feitas 24 doações ao partido, totalizando R$
4,26 milhões.
O PT, no entanto, afirma que só
recebe doações legais para suas campanhas.
Em nota, a defesa de Vaccari Neto
afirmou que ele "não participou de nenhum esquema para recebimento de
propina ou de recursos de origem ilegal destinados ao PT".
Falando à imprensa após a
cerimônia de sanção do novo Código de Processo Civil, a presidente Dilma
Rousseff voltou a afirmar que anunciará um conjunto de medidas para o combate à
impunidade nos próximos dias e disse não acreditar que o Congresso, partido de
sua base aliada, dificultará a aprovação do pacote.
Nos últimos meses, o governo tem
tido problemas na negociações com os parlamentos, incluindo da própria base
aliada, incluindo o PMDB, partido dos líderes tanto do Senado quanto da Câmara
dos Deputados.
Presidente disse 'estar aberta ao
diálogo', com 'atitude de humildade'
Em resposta ao comentário do
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB - RJ) – que afirmou que "a
corrupção está no Executivo, não no Legislativo", a presidente disse que
"a corrupção pode estar em qualquer lugar".
"A corrupção não nasceu
hoje. Ela é uma senhora idosa, e pode estar em qualquer lugar, não poupa
ninguém. Ela pode estar, inclusive, no setor privado. Não vamos achar que tem
qualquer segmento acima de qualquer suspeita", disse.
'Prova de democracia'
Em seu discurso sobre o novo
Código de Processo Civil, a presidente relembrou o aniversário da
redemocratização, no dia 15 de março, e afirmou que as manifestações que
aconteceram em todo o país na última sexta-feira e no último domingo – contra e
a favor do governo – mostravam que o Brasil "convive pacificamente com
manifestações".
Ao contrário dos protestos de
junho de 2013, os atos do último fim de semana não registraram episódios de
violência, nem excessos da polícia.
"Sexta-feira e ontem,
centenas de milhares de brasileiros saíram às ruas para se manifestar com toda
a liberdade, de forma pacífica. Assim como as urnas traduzem a vontade da
nação, que não pode ser desrespeitada, as ruas são o espaço legítimo da
manifestação."
"Ontem, quando vi centenas
de milhares de cidadãos se manifestando pelas ruas de várias cidades
brasileiras, não pude deixar de pensar que valeu a pena lutar pela liberdade,
valeu a pena lutar pela democracia. Este País está mais forte do que
nunca", afirmou.
Dilma voltou a falar sobre a
reforma política como solução para a corrupção, uma das demandas dos
manifestantes em ambos os dias.
Ela não mencionou, no entanto, a
proposta de um plebiscito para decisões sobre projetos de reforma e disse que
"a protagonista (do debate) é toda população brasileira, mas o espaço
adequado é o Congresso Nacional".
Erros
Questionada sobre erros cometidos
em sua administração, Dilma afirmou que a entrevista não era "um
confessionário" e defendeu os ajustes fiscais, dizendo que diálogo com
setores do governo e com a sociedade será com "posição de humildade, mas
firmeza".
"Somos obrigados agora a
fazer ajustes e correções para continuar crescendo. Não estamos acabando com
nossas políticas, mas corrigindo."
"Tem gente que acha que a
gente devia ter deixado algumas empresas quebrarem e muitos trabalhadores se
desempregarem. Eu tendo a achar que isso era um custo muito grande para o país.
Agora que é possível discutir se podia ser um pouco mais, um pouco menos, é
possível discutir."
A presidente admitiu, no entanto,
que o governo errou ao delegar às faculdades particulares a responsabilidade
pelas matrículas do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). E afirmou que
está sendo corrigido o erro que possibilitou que alunos não aprovados em
Português conseguissem a bolsa do governo.
BBC Brasil
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