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A
lembrança da infância. “Quando ele morava com a gente, ainda garoto, ele já
acordava tocando”, lembra Mauro Moraes, filho de Dominguinhos.
E
os dias de hoje. “Agora ele pega em mim e fica fazendo como se estivesse
tocando sanfona”, conta a mulher de Dominguinhos, Guadalupe Mendonça.
A
segunda mulher e o filho do primeiro casamento sabem que a sanfona está fazendo
falta para Dominguinhos. Há cinco meses o músico, de 72 anos, está internado em
um quarto, no quinto andar de um hospital em São Paulo, longe das festas
juninas do Nordeste.
“Nós
lotávamos aquelas praças enormes com essa sequência de luxo, a delícia daquelas
plateias nordestinas”, lembra o músico Zé Ramalho.
A
famosa festa de São João de Caruaru, em Pernambuco, que sempre teve
Dominguinhos, começou este fim de semana sem ele. A banda Mastruz com Leite
lembrou do sanfoneiro.
Dominguinhos
ficou conhecido depois que passou a tocar com Luiz Gonzaga, ainda na
adolescência. Em uma entrevista, o músico se recordou de um elogio de Gonzagão.
“Eu
estava gravando forró no estúdio com ele, e ele me apresentou à imprensa como o
herdeiro artístico dele”, contou.
A
última vez que o sanfoneiro subiu em um palco foi no dia 13 de dezembro de
2012, em Exu, Pernambuco, em uma homenagem aos 100 anos do nascimento de
Gonzaga. Quatro dias depois, Dominguinhos foi internado em Recife, com infecção
respiratória. Teve pelo menos cinco paradas cardíacas. Em janeiro, foi
transferido para São Paulo. Os médicos dizem que Dominguinhos está melhorando.
Há
cinco meses ele tinha uma infecção generalizada, insuficiência cardíaca e
arritmia, usava um marca-passo, os rins não funcionavam, ele fazia hemodiálise
e respirava com a ajuda de aparelhos.
Segundo
o hospital, Dominguinhos já não usa mais marca-passo e se curou da infecção. Os
rins voltaram a funcionar, e ele não precisa mais do respirador artificial.
Mas, na parte neurológica, Dominguinhos mantém apenas uma consciência mínima,
responde a alguns estímulos e consegue manter os olhos abertos.
“Eu
tenho momentos de interação com ele, como quando ele começou a movimentar as
mãos e me puxar. Ele puxa você para ele e chora, mas não pode falar”, descreve
Guadalupe Mendonça.
Mauro
e Guadalupe, que também foi companheira de banda de Dominguinhos, estão sempre
no hospital, mas não se falam. Mauro pediu na Justiça a interdição do pai.
“O
processo de interdição visa a manutenção da integridade daquela pessoa, da
integridade do patrimônio daquela pessoa, porque a gente sabe que o processo é
delicado, que os custos com a manutenção da saúde dele muito provavelmente
serão altos”, explica a advogada de Mauro, Rita de Cassia Wiechnann.
O
filho do sanfoneiro é contra Guadalupe ser a responsável pela administração dos
bens de Dominguinhos. Mas ela mostra várias procurações que recebeu do artista.
“Dá
direito a tudo: abrir conta, fechar conta, fazer tudo. Jamais usei
indevidamente”, afirma Guadalupe Mendonça, explicando uma das procurações.
“Tudo
bem que foi ele quem passou essa procuração para ela, mas eu não concordo
porque a mulher não mora mais com ele, ela está separada há muitos anos”,
justifica Mauro Moraes.
“Eu
sou casada com Dominguinhos, mas a gente achou melhor morar separados”, diz
Guadalupe Mendonça, confirmando ainda que eles não convivem mais como marido e
mulher.
Depois
de receber a equipe do Fantástico em casa, Guadalupe procurou o programa. Tinha
mudado de ideia e não queria mais que a entrevista fosse ao ar. Mas o
Fantástico avaliou que a participação dela era necessária como contraponto às
declarações do filho de Dominguinhos.
Em
um ponto, Mauro e Guadalupe concordam.
“Eu
desejo para o Dominguinhos amigos leais, saúde, a recuperação dele”, diz
Guadalupe Mendonça.
“A
coisa que eu mais quero no mundo é, de repente, ele acordar e dizer ‘meu filho’
com aquele jeito dele”, diz Mauro Moraes.
Não
é só o talento. Dominguinhos também conquista pelo carisma.
“É
um ser humano de uma docilidade incrível, de uma elegância também fantástica,
um humor apurado”, descreve a cantora Elba Ramalho.
Zé
Ramalho lembra que Dominguinhos aprendeu a tocar sozinho.
“A
musica teórica, a pauta musical, não tinha a mínima importância para ele. Ele
chamava de desenhos e achava engraçados aqueles riscos. Dominguinhos toca
qualquer tipo de ritmo: xote, jazz, improviso de choro”, diz Zé Ramalho.
“Eu
já disse: ‘Levanta daí, Dominguinhos, e vem para o palco. A gente está aqui te
esperando’”, conta Elba Ramalho.
“Dominguinhos,
você nunca vai ficar só porque todo mundo está aí esperando pela sua
recuperação”, declara o cantor Alceu Valença.
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