Da
Revista Época
Novas pesquisas mostram que os introvertidos podem ser mais concentrados,
mais criativos - e mais bem-sucedidos. Eles estão em todos os lugares, na vida
real e na ficção, da literatura clássica à cultura pop.
É delicado viver numa sociedade que valoriza os populares, os esfuziantes, os palradores e despreza os que coram, gaguejam, suam nas mãos. Aqueles que, em resumo, lamentam que a espécie humana seja gregária obrigando-os a interagir o tempo todo com seus semelhantes.
E que veem uma profunda e incômoda realidade na máxima do filósofo francês Jean-Paul Sartre, que escreveu que “o inferno são os outros”. O introvertido número um da literatura talvez seja Julien Sorel, protagonista do romance O vermelho e o negro, do século XIX.
Fã de filosofia e de leituras religiosas, o personagem criado pelo francês Henri-Marie Beyle, conhecido como Stendhal, leva centenas de páginas até conseguir se aproximar de sua amada, Madame de Renal – uma paixão proibida, pois ela é casada com o prefeito da fictícia cidade de Verrières.
Na cultura pop, esse papel é exercido por Clark Kent, habitante de outra cidade fictícia, Metrópolis, que ganha a vida como repórter do jornal Planeta Diário. Criação do gigante dos quadrinhos DC Comics, Kent treme quando se aproxima da colega Lois Lane, por quem é apaixonado, e só se torna mais desinibido quando veste a cueca por cima da calça e combate o crime com a capa de Super-Homem.
Para os representantes dessa turma, o livro Quiet: the power of introverts in a world that can’t stop talking (algo como Quietos: o poder dos introvertidos em um mundo que não para de falar), da americana Susan Cain, é mensageiro de uma boa-nova.
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imagem: revistaepoca.globo.com |
É delicado viver numa sociedade que valoriza os populares, os esfuziantes, os palradores e despreza os que coram, gaguejam, suam nas mãos. Aqueles que, em resumo, lamentam que a espécie humana seja gregária obrigando-os a interagir o tempo todo com seus semelhantes.
E que veem uma profunda e incômoda realidade na máxima do filósofo francês Jean-Paul Sartre, que escreveu que “o inferno são os outros”. O introvertido número um da literatura talvez seja Julien Sorel, protagonista do romance O vermelho e o negro, do século XIX.
Fã de filosofia e de leituras religiosas, o personagem criado pelo francês Henri-Marie Beyle, conhecido como Stendhal, leva centenas de páginas até conseguir se aproximar de sua amada, Madame de Renal – uma paixão proibida, pois ela é casada com o prefeito da fictícia cidade de Verrières.
Na cultura pop, esse papel é exercido por Clark Kent, habitante de outra cidade fictícia, Metrópolis, que ganha a vida como repórter do jornal Planeta Diário. Criação do gigante dos quadrinhos DC Comics, Kent treme quando se aproxima da colega Lois Lane, por quem é apaixonado, e só se torna mais desinibido quando veste a cueca por cima da calça e combate o crime com a capa de Super-Homem.
Para os representantes dessa turma, o livro Quiet: the power of introverts in a world that can’t stop talking (algo como Quietos: o poder dos introvertidos em um mundo que não para de falar), da americana Susan Cain, é mensageiro de uma boa-nova.
A obra, que chegará às livrarias
brasileiras em maio pela Editora Agir, contraria um lugar-comum, segundo o qual
tímidos e introvertidos devem fazer um esforço para deixar de ser o que são,
como se tivessem uma doença. Para Susan Cain, é exatamente o oposto. Os tímidos
e os introvertidos mais bem-sucedidos são justamente aqueles que transformam
timidez e introversão em aliados ao longo da vida.
Timidez e introversão, embora tratadas
corriqueiramente como sinônimos, descrevem, segundo os psicólogos,
características distintas. A timidez é o sofrimento pela exposição ao
julgamento alheio. Acomete aqueles que temem passar vexame, cometer erros ou
não encontrar as palavras adequadas.
Já a introversão caracteriza aqueles que
preferem ficar sozinhos e se sentem mais à vontade e produtivos no isolamento e
no silêncio. Quase todo tímido desenvolve um comportamento introvertido, mas o
inverso não é verdadeiro. Alguns introvertidos podem ser até desinibidos, como
o presidente americano, Barack Obama. Ele não treme diante do público. Apenas
valoriza seus momentos de paz com a família – ou sozinho, lendo e escrevendo.
O que tímidos e introvertidos têm em comum,
de acordo com Susan Cain, é uma certa circunspecção que, bem administrada, pode
ser útil para o sucesso pessoal e profissional. Claro que Susan não se refere
ao antissocial patológico, portador de níveis de ansiedade insuportáveis diante
de situações sociais corriqueiras, como frequentar um restaurante lotado.
Nesses casos, os especialistas recomendam tratamento com psicólogos e o uso de
remédios à base de serotonina. Fora desse extremo, existem vários casos de
sucesso entre tímidos e introvertidos, do já citado Barack Obama ao compositor
Chico .
Entre eles está a própria autora do livro.
Quem lê o currículo de Susan Cain não suspeita que a advogada que se tornou
consultora de liderança de grandes grupos – como o Merrill Lynch, um dos
maiores bancos de investimento do mundo – sue frio antes de dar palestras sobre
estratégias de negociação.
Susan é formada pelas prestigiadas
universidades Princeton e Harvard, defendeu por sete anos causas de empresas
como o gigante General Electric e ganha dinheiro ensinando executivos de Wall
Street a negociar. Ela garante que seu sucesso no mundo corporativo se deu
graças a esses traços – e não apesar deles. As tendências solitárias dos
introvertidos são, na verdade, os poderes que podem transformar Clark Kents em
Super-Homens.
“Aprendi que somos ótimos negociadores
porque pensamos antes de falar, nos expressamos com calma e escutamos o que os
outros falam”, afirma Susan. Ela não advoga apenas em causa própria. Segundo um
levantamento do psicólogo americano Jonathan Cheek, professor da Universidade
Wellesley, para cada meia dúzia de pessoas há dois ou três introvertidos.
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